HOJE NO
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Vai mudar de fornecedor de luz e gás?
Prepare-se para um longo e duro calvário
Quer pagar as contas num balcão? Só pela Galp On. Tarifa bi-horária da EDP Comercial? Só se aceitar débito directo
Os consumidores têm até 2015 para transitar para o mercado
liberalizado. A menos que, como é o caso de Maria, tenham de fazer um
novo contrato – caso que se aplica a quem arrendou ou comprou casa. É
aqui que os problemas de Maria começam.
A Deco e a ERSE, Entidade
Reguladora do Sector Energético) disponibilizam simuladores que permitem
encontrar o comercializador adequado a cada consumidor, mas como Maria
não tem histórico de consumo não pode fazer essa simulação. Sabendo a
potência contratada, procura os exemplos mais próximos do seu agregado
familiar, para uma casa sem ar condicionado.
INÚTEIS, CARAS E O POVO PAGA |
Pega no telefone mas
esbarra logo na primeira tentativa: a Iberdrola não está a aceitar
consumidores domésticos porque não tem uma campanha a decorrer, nem sabe
quando voltará a ter. A ERSE esclarece que há cinco comercializadores
na electricidade e sete no gás natural, mas nem todos estão sempre a
lançar ofertas no mercado. O simulador só faz cálculos com as ofertas
disponíveis e na electricidade só há três neste momento.
NO FIM DO ANO ATÉ CHORAS |
Segunda opção: EDP Comercial, tarifa bi-horária. Depois de esperar
cerca de 25 minutos para a sua chamada ser atendida, a intenção de Maria
cai por terra assim que pergunta qual a documentação necessária: “Vamos
também precisar do seu NIB.” Tudo porque só pode aderir à tarifa
bi-horária se consentir que o pagamento seja feito por débito directo.
Maria ainda pragueja que essa regra é absurda e que recusa débitos
directos porque, caso haja engano na factura, esse valor só é reposto,
no melhor dos casos, no mês seguinte. Do lado de lá ouve a resposta: “No
mercado livre somos nós que fazemos as regras.” Como Maria também faz
as suas, desiste do contrato.
Salta desta vez para a eléctrica Endesa, que oferece 5% de desconto na
factura da electricidade (embora já não disponibilize a tarifa
bi-horária, apenas tarifa simples). Atendimento na hora, ultra-simpatia,
nota de que o contrato será enviado por estafeta e garantia de que não
há período de fidelização nem penalização se daqui a uns meses quiser
mudar de fornecedor. Maria está quase convencida até receber a má
notícia: enquanto não tiver um contrato em seu nome na EDP – o
distribuidor – não poderá assinar um contrato com a Endesa. Só lhe
restam duas opções neste momento: ou chateia o senhorio, “obrigando-o” a
mudar para a Endesa para a seguir ela mudar a titularidade do contrato
(sabendo que esta opção é demorada), ou adere à EDP comercial para não
ter de chatear ninguém (sabendo que é a opção mais rápida).
A LUZ DOS POBRES |
Maria ainda tenta a Galp On, mas desconfia mal do outro lado da linha
lhe garantem que tem a ganhar com juntar a conta da electricidade e do
gás num só plano (mesmo sem saberem que tipo de habitação tem ou quantas
pessoas vivem lá em casa). Os descontos são apelativos – 5% no gás
natural e 2% na electricidade em tarifa bi-horária – e o débito directo
não é obrigatório (embora ofereçam mais 2% de desconto se o fizer), mas
aos consumos da luz e do gás terá de juntar mais um valor mensal: 3,90
euros para um plano de assistência à habitação e 5,90 euros por um plano
de assistência técnica exclusiva para gás natural. Maria acaba por
desistir quando percebe que, se quiser mudar de fornecedor daqui a seis
meses, terá de pagar esse plano até ao 12.o mês.
Sentindo-se quase uma caloteira por há 15 dias estar a viver numa casa
mas ainda não ter a luz em seu nome, acaba por ligar de novo para a EDP
Comercial. Ainda se chateia por lhe darem os valores arredondados e não
exactos, como fizeram os outros comercializadores, mas acaba por fazer
um contrato na tarifa simples: não tem qualquer desconto e se tivesse um
contrato em seu nome na tarifa regulada não teria qualquer vantagem em
mudar, dizem as simulações. Mas é a única forma de não ter de chatear o
senhorio e não ser obrigada a aceitar o débito directo. Seria pior se
não gostasse de usar o multibanco: só a Galp On permite que o pagamento
seja feito directamente num balcão ou payshop. Ao telefone, a assistente
da EDP Comercial explica que essa possibilidade desapareceu “porque as
facturas deixaram de ter um código de barras”.
A LUZ DOS RICOS |
Luís Pisco, jurista da Deco, adianta que todos os consumidores devem
fazer chegar estas denúncias porque a associação está a recolher todas
as más práticas para “confrontar os fornecedores com as alterações que
devem introduzir”. Exigir débito directo, por exemplo, “não é ilegal,
mas é uma prática desaconselhável”. “É certo que estamos no mercado
livre, mas estamos a falar de um serviço público essencial. É uma regra
que está a ser imposta ao consumidor e que cria desconfiança.” E que
solução vão ter as pessoas, sobretudo do Interior, que estavam
habituados a pagar a luz num balcão ou não usam uma conta bancária? Caso
seja beneficiário de uma prestação social, há uma solução: podem
recorrer ao CUR (comercializador de último recurso). “Os consumidores
economicamente vulneráveis que beneficiam da tarifa social são os únicos
que não são obrigados a mudar, mesmo depois de 2015”, esclarece Luís
Pisco. Uma pessoa que viva isolada num monte também poderá recorrer ao
CUR se, por exemplo, nenhuma outra empresa servir aquela zona.
SUÍCIDIO |
Para quem agora arrendou casa ou se prepara para arrendar, o mais
fácil, diz a Deco, “é pedir logo ao senhorio que mude o contrato” para o
fornecedor que lhe interessa e depois pedir a alteração da
titularidade. Entre Setembro e Dezembro de 2012, a ERSE recebeu 1065
pedidos de informação (435 deles relacionados com a mudança de
fornecedor de electricidade) e 2897 reclamações. As dúvidas mais
frequentes prendem- -se com o como fazer a simulação, quem escolher
entre os comercializadores do mercado livre e em que prazos. Os
problemas relacionados com a facturação e a medição da energia estão no
topo das reclamações que chegam ao regulador.
* Aí está declarada a prepotência neo-liberal dos donos da energia deste país, donos a quem o governo entregou os cidadãos portugueses que apesar das parangonas do mercado livre, estão cada vez mais escravizados pelos párias do dinheiro.
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