HOJE NO
"PÚBLICO"
"Estou cansado"
é a desculpa dos homens
para a falta de interesse sexual
Estudo diz que mais de 10% dos homens portugueses dizem ter falta de interesse sexual. A culpa é do cansaço, alega metade.
O cansaço e o stress profissional já não ficam à porta de casa e
estão a afectar cada vez mais a vida sexual dos homens portugueses. De
tal forma que estes dois factores foram apontados num estudo como as
principais razões para a falta de interesse sexual dos inquiridos.
Os dados fazem parte do “Estudo transcultural sobre
factores associados ao interesse sexual masculino”, que será apresentado
nesta segunda-feira no ISPA - Instituto Universitário, em Lisboa,
coordenado pela psicóloga clínica e investigadora Ana Carvalheira, em
parceria com os investigadores Aleksandar Štulhofer, da Universidade de
Zagreb, na Croácia, e Bente Træen, da Universidade de Olso, na Noruega.
No
trabalho, 10,5% dos portugueses admitiram ter tido falta de interesse
sexual por um período de pelo menos dois meses ao longo do último ano e
com perturbação pessoal. Ana Carvalheira, também presidente da Sociedade
Portuguesa de Sexologia Clínica, destaca que o valor é “elevadíssimo,
sobretudo se tivermos em conta que a amostra tem uma média de idades que
anda na casa dos 30 anos”. Ainda assim, os valores foram mais elevados
na Croácia, com 17,4%, e na Noruega, com 22,7%.
O estudo contou
com uma amostra de 5255 homens de três países: Portugal (2863
participantes), Croácia (1735) e Noruega (657). Os dados foram
recolhidos através de um inquérito online, que foi disponibilizado entre
Setembro e Dezembro de 2011, pelo que Ana Carvalheira salienta ao
PÚBLICO que não são representativos da população, ainda que dêem boas
pistas de investigação.
Mais problemas dos 30 aos 39 anos
Quanto a
diferenças por grupos etários, ao todo, os homens com mais de 60 anos
foram os que reportaram menos problemas (10%), seguidos dos homens com
18 a 29 anos (16,7%). O grupo mais afectado tem idades compreendidas
entre os 30 e os 39 anos (24,1%), seguindo-se os homens com 40 a 49 anos
(21,5%) e os com 50 a 59 anos (21,4%).
Questionados sobre as
razões a que atribuem a perda do interesse, em Portugal a resposta
"cansaço" foi dada por 50,8% e o "stress profissional" por 49,4%.
Números elevados, mas que ainda assim ficam aquém das respostas dadas na
Croácia e Noruega no caso do cansaço. Em termos de stress profissional,
o valor foi bastante mais elevado na Croácia (61,4%) e mais baixo na
Noruega (33,1%).
Porém, Portugal regista números mais elevados de insatisfação no que
diz respeito ao parceiro ser sexualmente passivo (27,7%). Mais de 14%
dos inquiridos atribuíram a “culpa” ao facto de estarem há muito tempo
com a mesma parceira. Para Ana Carvalheira, o estudo traz um outro dado
interessante: 11,8% dos inquiridos portugueses acreditam que o facto de
verem muita pornografia pode estar a reduzir o interesse sexual, e 15%
destacaram a masturbação.
“Este estudo permite-nos perceber que a
perda de interesse sexual nos homens, e que estava pouco estudada, não é
uma equação simples, tal como não é nas mulheres. Os homens também são
perturbados por questões interpessoais e emocionais, ainda mais em
faixas etárias que correspondem a períodos de grandes acontecimentos da
vida, como a paternidade, o casamento e também o divórcio e a carreira
profissional”, sublinha Ana Carvalheira. A análise permitiu também
perceber que os homens que reportaram falta de interesse sexual
revelaram mais vezes elevados níveis de ansiedade e depressão.
Mudanças sociais
Mas
Ana Carvalheira acredita que as mudanças sociais nomeadamente ao nível
do papel da mulher e do homem também contribuem para estes dados:
“Assistimos hoje a uma enorme banalização do sexo e essa retira o
erotismo. Acredito que uma das grandes razões seja essa. Não há um
sentido do privado e é tudo explícito, o que não permite espaço para a
elaboração e imaginação.”
Quanto às “comorbilidades”, isto é, as
doenças ou situações clínicas que podem estar a contribuir para esta
insatisfação, a investigadora indica que 32,5% dos homens portugueses
referiram a dificuldade em conseguir ou manter a erecção e 26% disseram
ter ejaculação rápida. Há ainda 11,7% que não conseguem mesmo atingir o
orgasmo e 2,5% que sentem dor.
Dados que vão, aliás, ao
encontro dos casos que a psicóloga recebe no seu consultório. “A maior
parte dos homens que me pede ajuda ainda não é por estas questões, mas
nota-se que são cada vez mais, sobretudo por ejaculação demasiado
rápida, o que também poderá ter a ver com a crise e com a dificuldade em
lidar com o stress e com os problemas no trabalho”, adianta.
Segundo
as estimativas da Sociedade Portuguesa de Andrologia, a disfunção
eréctil, que se traduz na incapacidade de obter uma erecção, afecta 13%
dos homens em Portugal, o que corresponde a cerca de 500 mil pessoas.
Apesar disso, a dificuldade em pedir ajuda a profissionais continua a
persistir. Um outro estudo internacional divulgado em Maio do ano
passado, patrocinado pela farmacêutica Lilly e realizado pela agência de
estudos de mercado SKIM Healthcare, revelou diferenças culturais
bastante marcadas neste tema. Portugal estava entre os países onde é
menos provável que os homens com este problema abordem os profissionais
de saúde (12%). A preferência vai para a Internet, com 46%; para os
livros, com 28%; para as revistas (18%) e para o cônjuge (14%).
* A culpa é do governo, não há tesão que resista.
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