HOJE NO
"PÚBLICO"
Quase 28 mil empresas fecharam em 2012 e a criação de negócios caiu 11,6%
O saldo líquido entre encerramentos de unidades e aberturas de novas voltou a terreno positivo, mas o desemprego crescente comprova as fragilidades desta renovação empresarial.
Mais agricultores e produtores de animais. E cada vez menos
consultores e prestadores de serviços. As estatísticas da criação e
dissolução de empresas são um reflexo do país. Ou das respostas que o
país encontrou à crise que enfrenta. No ano passado, quase 28 mil
negócios fecharam as portas. Já a criação de sociedades abrandou 11,6%,
depois do pico registado em 2011. Mesmo assim, o saldo líquido entre
aberturas e encerramentos voltou a ser positivo, apesar de os números do
desemprego mostrarem que esta renovação não compensa.
Dados cedidos ao PÚBLICO pelo Ministério da Justiça
revelam que, no ano passado, houve 27.683 dissoluções. Um resultado que,
à primeira vista, seria favorável, já que em 2011 se registou 33.758
encerramentos (mais 23%). No entanto, por detrás destes números, há uma
grande diferença. É que, dos quase 28 mil fechos de 2012, só 11 mil
foram feitos administrativamente pelos serviços. As chamadas extinções
"reais" ultrapassaram as 16.600, o que significou uma subida homóloga de
9,4%.
Os encerramentos administrativos começaram em 2008, com o
programa Simplex, e foram limpando os ficheiros do Ministério da Justiça
de empresas que estavam inactivas mas permaneciam artificialmente
abertas. Mas, neste momento, esse trabalho está praticamente concluído, o
que fez com que, ao contrário do que aconteceu em 2011, os fechos
voluntários ultrapassem os oficiosos (que caíram 40,4% no ano passado).
Ao
mesmo tempo que os encerramentos reais cresceram, a criação de novas
empresas caiu 11,6% face a 2011. Foram abertos 29.311 negócios em 2012, o
que compara com o pico de 33.163 registado um ano antes. Apesar do
abrandamento, o saldo líquido chegou a Dezembro positivo em 1628
sociedades, quando em 2011 tinha sido negativo em 595. Isto porque,
apesar de ter havido muitas aberturas nesse ano, o número de
encerramentos foi superior (33.758, muito à custa dos 18.581 fechos
administrativos).
No entanto, apesar de ter havido um saldo
positivo, a renovação empresarial no país mostra muitas fragilidades. Os
números do desemprego comprovam que os negócios que estão a ser criados
e os postos de trabalho que a eles estão associados não compensam os
negócios que são forçados a encerrar, nem os empregos que se perdem pelo
caminho. Os mais recentes dados da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE) apontam para uma taxa de 16,3% até
Novembro de 2012.
Vaivém de negócios
A
repartição sectorial dos dados cedidos pelo Ministério da Justiça mostra
que Portugal está perante um verdadeiro vaivém de empresas, em que as
actividades que mais aberturas registam são, ao mesmo tempo, as
responsáveis pelo maior número de encerramentos. É o que acontece no
comércio a retalho, que em 2012 liderou os dois indicadores.
No ano
passado, foram inauguradas 3805 novas lojas e fechadas outras 2436, o
que faz deste ramo de negócio o líder nas constituições e dissoluções,
em simultâneo. O segundo lugar foi ocupado pela promoção imobiliária,
com 2967 aberturas e 2406 encerramentos. Seguem-se o comércio por grosso
e a restauração. Já as últimas posições do top cinco não coincidem. A
construção surge como o quinto sector que mais empresas viu fechar, num
total de 746. E, no outro extremo, está a agricultura e a produção
animal, a quinta actividade com mais inaugurações no ano passado (1324).
As
movimentações do tecido empresarial em 2012 são, no fundo, um reflexo
do país. Por um lado, o sector agrícola foi o que mais cresceu em termos
absolutos no número de novos negócios criados, tendo-se registado uma
diferença de 474 empresas, o que poderá ser um sinal da procura por
alternativas num momento de difícil empregabilidade. E, por outro lado,
as actividades mais associadas à gestão das empresas, como a consultoria
e a prestação de serviços, apresentam subidas assinaláveis nos
encerramentos. Uma tendência que poderá derivar da necessidade de cortar
custos.
Já o ranking dos sectores menos penalizados por
dissoluções é liderado pela actividade das lotarias e dos jogos de
apostas e também da administração pública - ambas com um único
encerramento no ano passado. E o sector que menos novos negócios criou
foi o das empresas que prestam serviços domésticos (como a limpeza), com
apenas uma abertura, seguindo-se a extracção e preparação de minérios
metálicos e a indústria do tabaco.
A dispersão geográfica dos
dados cedidos pelo Ministério da Justiça mostra ainda que Lisboa lidera
tanto nos fechos, como nas aberturas (5081 e 8354, respectivamente). A
capital terminou 2012 com um saldo líquido positivo de 3273 empresas (o
maior de todos), tendo em conta a diferença entre a constituição e a
dissolução real de sociedades. O distrito com menor incidência de
encerramentos foi Portalegre, com apenas 93. Mas foi também nesta região
que se criou menos negócios (251 no total).
Nas estatísticas,
destaca-se o caso da Madeira, já que é a única área do país em que o
saldo foi negativo, tendo-se registado uma perda líquida de 185
empresas, já que os fechos reais (887) superaram as constituições de
sociedades (702). Em termos percentuais, foi em Vila Real que o número
de encerramentos mais cresceu, na ordem dos 19,7% para 237 casos. Por
outro lado, o distrito em que a abertura de negócios mais cresceu foi a
Guarda, com um crescimento de 12,8%, em pleno contraciclo com o país.
* Há empresas fantasmas a surgir para enganar o fisco!
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