O génio informático que
se enforcou aos 26 anos
Foi encontrado na sexta-feira. Suicidou-se, por inacreditável que seja, com uma corda na garganta. Aaron Swartz, de 26 anos, era um dos grandes génios do nosso tempo e um dos maiores activistas da liberdade na internet. Não era apenas talentoso, era uma força da natureza.
Um breve resumo do que fez até chegar aos 26 anos inclui desenvolver
uma versão inicial do RSS (rich site summary), que permitiu na altura
distribuir facilmente conteúdos na internet – como vídeos, imagens e
publicações em blogues. Tinha 14 anos quando o fez. No ano seguinte, aos
15, já trabalhava com o fundador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, só
para dar um cheiro do quão dotado era.
Nessa mesma altura,
Swartz fez parte da equipa que criaria o sistema de licenças Creative
Commons, tão essencial para facilitar a utilização legal de conteúdos e
partilhá-los. Depois criou o portal Reddit, que permite aos utilizadores
pontuarem diariamente as notícias que leram – praticamente o único dos
seus empreendimentos que rendeu dinheiro, já que a Conde Nasté comprou o
site em 2006.
Como é que um suicídio termina esta história?
Swartz tinha horror à censura na internet e co-fundou o grupo Demand
Progress, que em 2012 foi dos principais opositores às propostas de
legislação anti-pirataria, que acabariam por falhar.
Em 2006,
conseguiu aceder a todo o arquivo de livros da Biblioteca do Congresso,
porque achava injusto que fosse cobrado dinheiro pelo que estava no
catálogo.Disponibilizou-o na Open Library, parte do projecto Internet
Archive. Fez várias coisas do género, sem grandes consequências.
Até
que, em 2011, foi preso por copiar e disponibilizar 4,8 milhões de
documentos da base de dados online JSTOR, que arquivava os trabalhos
académicos do campus do MIT (Massachussets Institute of Technology). Ele
tinha direito a aceder ao arquivo, mas não a descarregá-lo e a
disponibilizá-lo noutro lado.
Ora o caso civil foi resolvido com
um acordo fora do tribunal. Mas a promotoria pública não ficou
satisfeita e formalizou acusações criminais contra Swartz. Mesmo
tratando-se de investigação académica. Não eram dados confidenciais do
FBI nem informação sobre centrais nucleares no Irão : era investigação.
Académica.
A promotora do Massachussets, Carmen Ortiz, não quis
saber disso. Queria fazer de Swartz um caso exemplar, perseguindo-o de
forma implacável e dizendo que roubar é sempre roubar, quer se use um
computador ou um pé-de-cabra, e quer se roube dinheiro ou trabalhos
escolares. Ortiz ignorou o facto de a base de dados JSTOR ter
disponibilizado abertamente os trabalhos a seguir ao acordo com Swartz.
Ortiz
terá feito a vida de Swartz num inferno. Recusou um acordo que
excluísse algum tempo na cadeia para o arguido, segundo o seu advogado.
Ameaçou-o com trinta anos de cadeia. Se Swartz tivesse furtado um disco
rígido com os conteúdos do arquivo, apanhava serviço comunitário. Mas
como foi pirataria online, Ortiz tinha cobertura legal para fazer dele
um exemplo. Atormentado com a possibilidade de ser condenado a 30 anos
de cadeia, Swartz suicidou-se.
A família culpa Ortiz, claro, e a
sua perseguição desproporcionada, embora Swartz já tivesse lutado contra
a depressão e os motivos que levaram ao suicídio possam ser vários.
Especialistas
legais que se pronunciam agora sobre o caso dizem que Ortiz tinha
ambições políticas muito fortes e queria um caso mediático, que enviasse
uma mensagem clara. Escolheu um dos bons para o fazer, em vez de se
meter os piratas claramente menos escrupulosos que infestam a internet.
Tudo
nesta história é terrível. Para bem do sistema, é bom que alguma coisa
mude depois da morte de Aaron. Senhora Ortiz, roubar não é sempre
roubar.
IN "DINHEIRO VIVO"
16/01/13
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