Coitado (s)
Imagine que no tempo de vacas gordas e de descontrole despesista
acumulou dez créditos. Com um comprou um carro, com outro um computador,
as férias que já lá vão. Tudo a juros altíssimos, mal negociado e tendo
como por base a filosofia depois paga-se. Esse dia chegou, mas as suas
condições mudaram e não tem como pagar os juros, quanto mais os
empréstimos. É aí que decide que precisa renegociar a sua dívida, fazer
um empréstimo global, que lhe permita pagar as dívidas dos créditos
originais, em condições mais favoráveis, ou seja, com uma taxa de juro
mais baixa e em mais tempo. Primeiro passo: Arranjar na banca quem
empreste, segundo conseguir um ‘fiador’, ou seja, alguém que se
responsabilize em casa de incumprimento. Feito isto, tem um novo plano
de pagamentos para honrar.
Foi mais ou menos isto que aconteceu na Madeira com o aval do Estado
para um empréstimo de 1100 milhões. É de salutar, de facto. Uma boa
medida, que é contabilística, mas que vem desonerar os custos dos bombos
da festa pagantes, ou seja os contribuintes. Mas não me parece que seja
caso para haver heróis levados em braços. Até porque as contas
continuam lá por pagar e pelos de sempre. É claro que pode-se dizer que
há dificuldades de comunicação com Lisboa e que isto é um grande feito
negocial e até há quem dispute protagonismos. Se há problemas neste
âmbito devem-se a quem nunca respeitou os princípios básicos como o
reporte de dívida.
Incomoda-me estes heróis de pacotilha, palavra. Os mesmos que por
“palavras, actos ou omissões” levaram a este estado de coisas. E se
agora limpam a casa é porque a sujaram anos a fio, descontroladamente,
com a cumplicidade medrosa deste lado do mar. E ainda não disseram o
que importa: Quanto é que esta 'limpeza' vai custar?
Tanta preocupação com os heróis e nem uma palavra aos mártires de
sempre. É muito fácil chutar para Lisboa as responsabilidades do que de
mau se abate sobre este, outrora, cantinho do céu. É pela austeridade,
pelo mosquito, pelo mau tempo, pelo mau feitio, até. E quando os ventos
se viram para o bombo da festa responsável é soprar com força essas
'más-línguas' para longe. O jornal do regime, uma das monstruosidades
que os bombos da festa reais pagam, serve para isso.
Tudo para esconder o óbvio: Que o rei da autonomia, que por ela
estrebuchou por aí fora, serviu-se dela somente para se manter no poder,
como objectivo primeiro. Houve uma altura que essa sede serviu para dar
infra-estruturas às populações criando um aparente círculo virtuoso,
mas apenas aos mais desatentos. Contas feitas o que temos é um livro de
fiados que não acaba, um mosquito que não se controla, e melgas - de
dentro e de fora - que não dão descanso ao homem. De facto: Coitado
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
23/11/12
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