HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Ajudar à proteção civil
Base de dados sobre cheias e inundações para prevenir
Uma base de dados sobre cheias, inundações e desabamentos de terra ocorridos em Portugal continental entre 1865 e 2010 está a ser criada para ajudar os responsáveis da proteção civil, disse hoje à Lusa o coordenador do projeto, José Luís Zêzere.
O projeto chama-se
"Disaster - Desastres naturais de origem hidrogeomorfológica em
Portugal: base de dados SIG para apoio à decisão no ordenamento do
território e planeamento de emergência" e contabiliza ocorrências que
tenham provocado mortos, feridos, desaparecidos ou desalojados, explicou
o também professor no Instituto de Geografia e Ordenamento do
Território da Universidade de Lisboa.
"Perceber como estas coisas se passaram é fundamental para prevenir as próximas", defendeu José Luís Zêzere.
Por
isso, a informação vai ser disponibilizada às populações, mas também às
entidades responsáveis pela proteção civil e planeamento do território.
Baseado
na recolha de informação em cerca de 145 mil exemplares de 16 jornais
de todo o país, o estudo aponta que as cheias e deslizamentos de
território são mais frequentes nos concelhos de Lisboa, Coimbra, Porto,
Vila Nova de Gaia, Vila Franca de Xira, Loures, Oeiras, Santarém
Odivelas, Peso da Régua e Sintra.
No período analisado, foram encontradas 1.903 ocorrências de cheias e deslizamentos de terras, responsáveis por 1.300 mortos.
Em
11 dos 150 anos estudados, registaram-se mais de 40 ocorrências de
cheias com consequências sociais, "o que é muita coisa para um país tão
pequeno como o nosso e oito delas são posteriores a 1978", frisou José
Luís Zêzere.
Segundo o investigador, a ocorrência de vítimas
devido a cheias e deslizamentos de terra foi mais frequente entre 1935 e
1969 do que nos últimos anos que realça a existência, nas últimas
décadas, de mais condições de segurança dos territórios.
Há
"tendência para pensar que as ocorrências de cheias e inundações ou
catástrofes naturais ligadas direta ou indiretamente ao clima estariam a
crescer, em alguns casos, de forma exponencial, com o tempo", disse o
investigador.
No entanto, o projeto "Disaster" leva José Luís Zêzere a concluir que "esse crescimento exponencial não existe".
No
século XXI "não temos mais ocorrências do que tivemos em alguns
períodos do século XX" e o período em que "ocorreram mais danos sociais
provocados por cheias e por instabilidade de vertentes em Portugal foram
as décadas de 30, 40, 50 e 60", explicou o professor.
Os dados
"refletem em termos temporais aquilo que habitualmente é entendido e
descrito como variabilidade natural do clima", ou seja, há anos em que
chove mais e, noutros, menos.
Os primeiros resultados do projeto
serão divulgados na segunda-feira, quando passam 45 anos sobre a cheia
que afetou a região de Lisboa em 1967.
Este é o "exemplo extremo"
desta base de dados e refere-se à cheia da região de Lisboa de 26 de
novembro, "a segunda maior catástrofe conhecida em Portugal continental
depois do terramoto de 1755" e que o especialista reconheceu não ter a
noção de que "tinha sido tão concentrada", numa distância de 50
quilómetros.
"As pessoas começaram a morrer, figurativamente, no
Estoril, Oeiras, Algés" numa zona afetada que se prolongou até Vila
Franca de Xira, referiu.
Segundo referiu, em quatro horas -- a
partir das 22:00 do dia 25 de novembro de 1967 -- foram contabilizados
oficialmente cerca de 400 mortos "antes de a censura ter começado a
funcionar", mas "o número que se estima deve andar próximo dos 700".
* Ciência Portuguesa, do melhor
.
Sem comentários:
Enviar um comentário