HOJE NO
"i"
Governador do BdP partilhou
com banqueiros documentos
sobre banco de fomento
Carlos Costa sentiu necessidade de explicar-se a Faria de Oliveira e a Ricardo Salgado depois de gestores terem criticado a futura instituição financeira
Tudo começou com uma notícia do “Expresso” de 13 de Outubro. O
semanário noticiava a criação de um grupo de trabalho no Ministério das
Finanças para estudar a criação de um banco de fomento com o objectivo
de financiar a economia a partir dos 20 mil milhões de euros que deverão
ser distribuídos a Portugal no próximo quadro comunitário de apoio
entre 2014 e 2020. Carlos Costa, governador do Banco de Portugal (BdP),
era apresentado com o autor material da ideia – que tinha transmitido ao
ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar –, logo contestada por
vários banqueiros, embora de forma anónima.
Costa defende desde o Verão a criação de uma instituição financeira de
capitais públicos que passe a gerir os fundos comunitários reembolsáveis
que venham a ser atribuídos a Portugal a partir de 2014. Tudo para
aumentar a eficácia na gestão desses fundos – cujas taxas de execução
costumam ser baixas – e injectar dinheiro na economia.
Ao que o i apurou, Carlos Costa ficou visivelmente incomodado
com as críticas da banca e, mesmo sem conhecer os seus autores, decidiu
contactar Faria de Oliveira, chairman da Caixa Geral de Depósitos mas
também presidente da Associação Portuguesa de Bancos. No mesmo contacto,
o governador do BdP decidiu facultar ao representante corporativo da
banca as suas reflexões pormenorizadas sobre o banco de fomento (ver
peça ao lado) que, segundo o próprio Carlos Costa, tinham sido
transmitidas em Julho, a título pessoal, a Durão Barroso, presidente da
Comissão Europeia, a Silva Peneda, presidente da Conselho Económico e
Social, e ao ministro Vítor Gaspar.
O líder do supervisor fez questão de sublinhar a Faria de Oliveira que a
instituição por si defendida não é um banco. Isto é, não será uma
entidade para concorrer com a banca comercial. Para melhor explicar o
seu ponto de vista, Carlos Costa disponibilizou ao seu interlocutor um
documento do BdP, e da sua autoria, intitulado “Multiannual financial
Framework 2014-2020”, com os pormenores e os eventuais problemas do
futuro banco de fomento.
Confrontado pelo i com estas informações, fonte oficial limitou-se a afirmar que o BdP “não faz comentários a documentos que não publica”.
Banqueiros passam ao ataque
Faria
de Oliveira transmitiu o “recado” de Carlos Costa aos banqueiros
privados, mas estes não ficaram descansados. No dia 6 de Novembro, numa
conferência do “Diário Económico”, Fernando Urlich, presidente do Banco
Português do Investimento, Vieira Monteiro, líder do Santander Totta, e
Ricardo Salgado, CEO do Banco Espírito Santo (BES), arrasaram a ideia a
uma só voz e em on. Ulrich foi o mais duro, tendo afirmado que o novo
banco seria uma “perda de tempo” e um desperdício de recursos.
O governo respondeu através de Álvaro Santos Pereira, ministro da
Economia, recusando o que apelidou “críticas de grupos interesses”, ao
mesmo tempo que assegurava que a decisão de avançar para o banco de
fomento seria “meramente política”.
O presidente executivo do BES foi precisamente o banqueiro seguinte a quem Carlos Costa deu explicações. Ao que o i
apurou, o governador do Banco de Portugal enviou uma missiva ao
presidente do Banco Espírito Santo no dia 11 de Novembro onde fez
questão de afirmar que o BdP contribuiu, de forma reservada, para a
criação de uma instituição financeira que optimize a utilização dos
fundos estruturais e complemente o sistema bancário no financiamento de
pequenas e médias empresas.
Costa disponibilizou igualmente a Ricardo Salgado o mesmo documento do
BdP enviado a Faria de Oliveira. O regulador do presidente do BES
informou-o ainda que o contributo final do BdP tinha sido remetido, a
título reservado, ao ministro Vítor Gaspar, cabendo ao governo uma
decisão final sobre este assunto.
Ricardo Salgado, assim como Faria de Oliveira, acabou por recuar nas
críticas. No passado dia 13 de Novembro, Salgado acabou por constatar
que o banco de fomento “pode mesmo ajudar as pequenas e médias empresas
portuguesas a ter financiamento em condições mais atraentes a médio e
longo prazo”, tendo sido seguido pelo chairman da CGD.
* Promiscuidades
.
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