27/11/2012

FRANCISCO MOITA FLORES




Maddie e submarinos

Nós adoramos mistérios. E adoramos inventar histórias com uma conclusão, mesmo que não seja lógica, que agrade às nossas emoções. Umas vezes para alimentar esperança, outras vezes para a destruir, a maioria das vezes porque acreditamos que um destino fatalista, feito de mediocridade e cores negras, está sempre à nossa espera. Vem isto a propósito de dois casos mais uma vez lançados no mercado do diz que disse.

A polícia inglesa descobriu um cidadão inglês que sabe qual foi o destino de Maddie, a menina desaparecida no Algarve. Era médico e suspeita-se que negociava crianças. E neste caso ele terá sabido que a miúda foi vendida a um gang cigano que operava em Marrocos. 

Admito que gang por gang seria mais fácil meter ciganos na história sem ter de irmos para Marrocos, mas a versão é esta e contra ela nada a opor. A verdade é que o suspeito morreu há dois anos e, portanto, a versão agora posta a correr vale tanto como zero. 

Daí que não me admire que o caso Maddie passe à história como passou o caso do Estripador de Londres, célebre serial killer do séc. XIX, para o qual se inventaram muitas identidades, desde o maior dos labregos ao mais aristocrata dos assassinos. Neste caso mais recente, se calhar nem é preciso procurar tão longe. 

É o meu caso. Também adoro mistérios e volto a repetir a questão que já aqui uma vez coloquei. Só um raptor muito estúpido entrava por uma porta e saía por uma janela com o estore parcialmente aberto. Só um mágico passaria com uma criança ao colo, ou às costas, por aquela nesga. A polícia que faça a reconstituição e verá essa impossibilidade. 

O mistério está ali e mesmo à mão de semear, sem precisar de encontrar meninas iguais a Maddie em todos os pontos do mundo. Mas assim é melhor. Alimenta a confusão e o mistério adensa-se. E nós adoramos charadas. 
Já com o caso dos submarinos a coisa é diferente. Tantos anos depois levar o primeiro processo a tribunal é uma prova de resistência. Na Alemanha, os autores já foram julgados, cumprem prisão e, embora seja mistério, sou capaz de acreditar que estarão em liberdade quando aqui a novela chegar ao fim. Porque é assim? Não sei. Ninguém sabe explicar. É mais um mistério e nós, na verdade, gostamos muito de fazer figura de parvos. 

Professor universitário

IN "CORREIO DA MANHÃ"
25/11/12 

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