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Mulher morreu em hospital irlandês que
lhe recusou terminar gravidez inviável
“Este é um país católico”. Terá sido com estas palavras que os médicos
do hospital de Galway, na República da Irlanda, negaram a Savita
Halappanavar o aborto que lhe poderia ter salvo a vida. Grávida de 17
semanas, a dentista indiana foi informada que o feto não era viável, mas
disseram-lhe que nada podiam fazer enquanto houvesse batimento
cardíaco. Savita morreu uma semana depois, de septicemia.
O caso extremo aconteceu no final de Outubro, mas só agora foi noticiado
e bastaram poucas horas para ganhar dimensão de escândalo nacional. O
país tem a lei mais restritiva de toda a União Europeia, autorizando
apenas o aborto quando a vida da mulher estiver em risco – uma excepção
que coloca todo o poder de decisão nos médicos assistentes.
Ainda na Índia, para o funeral da mulher, o marido de Savita contou ao jornal Irish Times
que ela foi ao hospital a 21 de Outubro, com fortes dores de costas e o
médico que a assistiu disse-lhe que a gravidez não tinha condições para
continuar. “Disse-nos que o colo do útero estava totalmente dilatado,
que estava a perder líquido amniótico e que, infelizmente, o bebé não
sobreviveria”, contou Praveen Halappanavar, acrescentando que lhes foi
dito que “tudo estaria terminado em poucas horas”.
Mas o
prognóstico não se confirmou e no dia seguinte, com fortes dores, a
jovem indiana pediu ao médico assistente que, “já que não podiam salvar o
bebé, induzisse o aborto”. “Mas ele disse-nos que, enquanto houvesse
batimento cardíaco não podia fazer nada”. Cada vez mais fraca, repetiu o
pedido no dia seguinte. “O médico disse que era essa a lei, que este é
um país católico”, recordou Praveen. Savita ainda terá argumentando que
não era irlandesa, nem católica, mas de nada lhe valeu.
O seu
estado de saúde agravou-se nas horas seguintes. Tinha vómitos e febre.
Desmaiou quando se levantou para ir à casa de banho. Preocupados, os
médicos retiraram-lhe sangue para análise, mas só ao terceiro dia,
depois de confirmarem que o coração do feto parara, fizeram o aborto.
Savita saiu consciente do bloco operatório, mas horas depois seria
transferida para a unidade de cuidados intensivos, onde acabaria por
morrer três dias depois. A autópsia revelou que não resistira a uma
septicémia.
Depois de conhecida a notícia, a Inspecção de Saúde
ordenou a abertura de um inquérito ao caso e o Hospital de Galway
recusou fazer mais comentários, alegando que tem também em curso uma
investigação. Mas o caso promete reacender o debate sobre a necessidade
de mudar a lei ou, pelo menos, de garantir condições para a aplicação da
actual legislação. “Isto era uma emergência obstétrica que deveria ter
sido tratada de forma rotineira. Mas os médicos abdicam de tomar
decisões médicas óbvias por receio das potenciais consequências graves”,
disse ao Guardian Rachel Donnelly, activista pró-escolha irlandesa.
Em
2010, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos concluiu que o Estado
irlandês está a falhar na aplicação da sua própria lei, não criando
condições para que as mulheres em situação de risco tenham condições
para interromper a gravidez com segurança e em tempo útil. No país, a
maioria dos médicos são objectores de consciência e outros receiam agir
alegando que não dispõem de linhas de orientação clara.
Na
sequência desta decisão, o Governo de centro-esquerda criou um grupo de
14 peritos para definir as condições em que é legal a realização do
aborto e quais os procedimentos que os médicos devem seguir, mas ainda
não foram divulgadas as conclusões do trabalho.
Para Savita e
Praveen já é tarde. “Os médicos tinham tudo ao seu dispor e deixaram-na
morrer. Como é possível deixar morrer uma mulher para salvar um bebé que
vai morrer de qualquer forma. A Savita ainda podia ter tido mais
bebés”, lamenta o marido.
* Igreja a "exterminadora implacável"
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