HOJE NO
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Medicamentos:
Há 355 à venda
a custo zero nas farmácias
Quase um em cada cinco medicamentos com genéricos tem uma opção gratuita no mercado
É de borla. É esta a resposta que pode ouvir nas farmácias caso
apresente uma receita com um dos 107 princípios activos para os quais
existem hoje 355 opções de genéricos a custo zero. Não precisa de ter
rendimento mínimo ou uma doença crónica: embora não sejam medicamentos
que o Estado comparticipa a 100%, as últimas alterações no mercado e a
forma como funciona o sistema de comparticipações faz com que cada vez
sejam mais as opções gratuitas para o utente.
Uma análise do i aos preços no Guia dos Genéricos e Preços de
Referência do Infarmed, actualizado esta semana, permite concluir que
neste momento há uma opção gratuita para quase um em cada cinco
medicamentos com genéricos disponíveis. Para as farmácias tem sido mais
um prego no caixão: não facturam nada na hora por estas vendas e os
reembolsos só chegam mais tarde. Mas fontes do sector asseguram que esta
situação é vantajosa para o utente e para o SNS.
Zero As contas do i confirmam,
mas primeiro as explicações: os remédios a custo zero para os utentes
resultam de uma combinação de factores, como a medida da troika que
forçou os genéricos a custarem metade do que custam os remédios de
marca, a revisão anual de preços, que levou a baixas de 20%, as novas
regras de prescrição de remédios por princípio activo e a
obrigatoriedade de as farmácias terem à venda três dos cinco mais
baratos de cada grupo. A isto junta-se a legislação em vigor: o Estado
tem três patamares de comparticipação para os utentes do regime geral:
37%, 69% e 90%. Este financiamento é calculado em função de um preço de
referência, conta feita de três em três meses pelo Estado com base nos
cinco preços mais baixos dentro de cada grupo, alteração introduzida em
2010, porque até então o tecto era o genérico mais caro.
Como em algumas situações os preços dos genéricos caíram em em média
quase 50% no último ano, tornando-se muito próximos uns dos outros, e
acentuou-se a concorrência entre laboratórios por lugar no lote dos mais
baratos, em alguns casos a conta passou a incluir o preço do remédio de
marca, mais caro. Isto faz com que o preço de referência, que determina
até que tecto o Estado financia um remédio, seja superior ao preço de
alguns genéricos. O Estado, em vez de pôr um travão e insistir que só
comparticipa 69% ou 90%, aceita cobrir o custo completo do medicamento
para o utente – ainda que não reembolse por cima as farmácias. A última
revisão foi em Outubro e, passado um mês, a realidade é esta: 244
remédios comparticipados a 90% estão a ser vendidos a custo zero para o
utente e 74 que o Estado comparticipa a 69% também saem de borla.
A título de exemplo, considere--se o medicamento para a hipertensão
arterial Lisinopril + Hidroclorotiazida (20 mg + 12,5 mg). Existem 12
genéricos com esta dosagem. Um deles, da empresa Basi, sai de borla ao
utente, que de outra forma pode ter de pagar por um genérico até €3,94. O
preço de referência fixado para este remédio é de 9,21 euros. Como a
comparticipação é de 69%, o Estado financia até 6,35 euros. O genérico
que sai de borla custa 5 euros, pelo que que toda a despesa do utente é
coberta. O genérico seguinte custa 9 euros, o que significa que o utente
tem de pagar €2,65. O Estado podia poupar? Podia. Se aplicasse a
comparticipação de 69% sobre os cinco euros que são o custo real do
remédio, o utente pagaria 1,55 e o Estado assumia só €3,45.
O i questionou o Infarmed sobre este diferencial e a resposta
foi que as revisões trimestrais tendem a introduzir correcções. Paulo
Lilaia, da Associação Portuguesa de Genéricos, esclareceu que, mesmo
assim, ao favorecer a opção pelo genérico mais barato e se a adesão for
grande, sai mais barato e é uma opção política. As contas do i
para este remédio confirmam: pela segunda opção mais barata, de 9 euros,
o Estado esgota o tecto de 6,35 e o utente ainda tem de pagar 2,65. Se
optasse por outra forma de comparticipação, o Estado pouparia 1,55;
assim incentiva os utentes a irem atrás do mais barato e a diminuir a
hipótese de ter de cobrir mais vezes os 6,35 quando pode apenas cobrir
cinco.
Esta dinâmica não gera só remédios a custo zero, há por exemplo 33 que custam ao utente menos de 10 cêntimos.
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