HOJE NO
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Mar está a subir 60%
mais depressa que o previsto
Negociações climáticas recomeçaram esta semana no Qatar. Novo estudo reitera importância de um acordo
“A ciência é clara: se não reduzirmos as emissões a curto prazo, antes
de 2020 a oportunidade para evitar uma catástrofe climática – incluindo a
perda de países inteiros – pode ser irrevogavelmente perdida.” O apelo
de Marlene Moses, embaixadora de Nauru, a república mais pequena do
mundo, fundada numa ilha de 21 quilómetros quadrados no Pacífico, foi um
dos mais certeiros na abertura da conferência da ONU para as alterações
climáticas em Doha. Ao terceiro dia das conversações, que vão
prolongar-se até 7 de Dezembro, um novo estudo mostra como a presidente
da Aliança dos Pequenos Estados Insulares, plataforma de 44 países não
muito maiores que Nauru, tem razões para estar preocupada: o nível médio
do mar está a subir mais depressa do que previam as hipóteses mais
optimistas.
Em causa estão os cenários científicos na base das negociações entre os
países, que este ano mais uma vez tentam debaixo do chapéu na ONU
acertar metas para a redução de emissões de CO2. Estes
cenários resultam de um esforço de colaboração internacional que reúne
peritos de todo o mundo e foram actualizados pela última vez há cinco
anos. O chamado Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas,
cérebro destes relatórios técnicos, já está a trabalhar numa nova
versão dos relatórios, mas só são esperadas actualizações em 2014.
A ciência avançou entretanto, e no caso da subida do nível médio do mar
é hoje praticamente certo que a hipótese de este subir no máximo 60
centímetros até ao final do século é uma subestimação grosseira do que
irá passar-se. O novo estudo a confirmar esta suspeita, levantada nos
últimos anos por diferentes equipas de investigação, é publicado hoje na
revista “Environmental Research Letters”. Os investigadores do Potsdam
Institute for Climate Impact Research, na Alemanha, usaram imagens de
satélite para perceber até que ponto, face aos comportamentos climáticos
actuais, as projecções do IPCC continuam válidas.
No caso do aquecimento global, tudo certo. Entre 1990 e 2011, os
termómetros subiram em média 0,16oC por década, o que torna possível que
o aumento de temperatura não exceda muito os 2oC até ao final do
século. O pior cenário do IPCC aponta para os 4oC.
É a subida do nível médio do mar que desafia os modelos antigos. Após
analisarem dados obtidos até 2011, os investigadores concluem que a
subida está a ser 60% mais rápida do que ditavam as últimas projecções
do IPCC, divulgadas na actualização de 2007. O IPCC previa que o cenário
mais provável era uma subida de 2 milímetros por ano ao longo do
século, quando neste momento – início da segunda década – ronda já os
3,2 milímetros. “Este estudo mostra mais uma vez que o IPCC é tudo menos
alarmista. Na realidade, tem subestimado o problema das alterações
climáticas. Isto serve não só para a subida média do mar, mas também
para eventos meteorológicos extremos ou o degelo no Árctico”, disse o
autor do trabalho, Stefan Rahmstorf.
Se as previsões podem ser impressionantes, e carecem agora de ser
validadas por outros colegas, a referência ao Árctico e as últimas
notícias sobre o degelo no Pólo Norte mostram o que Rahmstorf quer dizer
quando se fala de subestimar: no relatório do IPCC previa-se que no
final do século xxi os
Verões no Árctico deixariam de ter gelo. Este Verão a camada de gelo no
Árctico atingiu um mínimo histórico: 3,5 milhões de quilómetros
quadrados contra os 4,17 milhões registados em Setembro de 2007. Peter
Wadhams, especialista em círculos polares da Universidade de Cambridge,
vaticinou mesmo que o gelo pode passar a derreter por completo em quatro
anos.
Filipe Duarte Santos, investigador da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa e o único cientista português editor do IPCC, faz
parte do comité do painel que está a rever os capítulos sobre impacto
das alterações climáticas. Mais centrado no impacto nas zonas costeiras,
admite que este dossiê terá uma revisão significativa na próxima
edição. “Os 60 centímetros estão ultrapassados. Até ao final do século
vamos assistir a um aumento superior”, disse. Pelo menos um metro tem
sido o número mais consensual e Filipe Duarte Santos sublinha que esta
subida, conjugada com tempestades e outros fenómenos extremos, será um
desafio complexo, também para Portugal. “Podemos esperar inundações na
Baixa de Lisboa e menos praias no Algarve”, explica. No século passado, a
um ritmo de 1,5 mm por ano, o mar subiu apenas 15 centímetros.
* Os donos do dinheiro a dar cabo do mundo com a maior impunidade.
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