12/10/2012

PEDRO BIDARRA





 A bandeira 
       foi de propósito 


Ninguém me tira da cabeça que o brilhante e simbólico momento que foi o desfraldar da bandeira nacional ao contrário foi uma acção premeditada pela entourage de António Costa para assinalar o momento político. A bandeira de pernas para o ar - haverá melhor símbolo do que este? 

Deve ter sido assim que a coisa se passou: farto de ver o seu partido gerido por uma espécie de espargo branco, sentindo que à genuína indignação dos portugueses faltava uma voz com peso e solenidade institucional, António Costa resolveu substituir-se ao Presidente da República - um Presidente fatigado pelo peso da sua responsabilidade no défice e por ter apadrinhado esta turma de indigentes intelectuais crescida na escola onde foi mestre, o PSD.
Para assinalar o facto, dar mais força ao assunto e ao momento terá ordenado a inversão da bandeira. Talvez ele tenha lido, há um ano, o artigo que aqui escrevi por ocasião do 5 de Outubro, “O mau discurso” , e se tenha lembrado que a oratória é uma arma que serve a esperança, que dá força e mobiliza. Quem certamente não leu o artigo foi o Presidente propriamente dito, que teve a arte de fazer mais um discurso educado, bem intencionado e frouxo. 

Mas o meu assunto hoje era a bandeira. Volto então a ele…
Tendo resolvido assumir a responsabilidade do discurso da República opondo-se às medidas que o governo anunciara a mando dos credores do pobre (que não nobre) povo, António Costa terá sido aconselhado pela sua criativa equipa que esta inversão de papéis deveria ser acompanhada por um gesto inequívoco, não fosse passar desapercebida aos repórteres presentes no local. Daí a bandeira de pernas para o ar hasteada a quatro mãos por ele próprio e pelo Presidente.  

Duma penada o presidente da Câmara de Lisboa usurpou os papéis do Presidente da República e do líder da oposição e hasteou a bandeira com um invertido e criativo simbolismo. Tudo terá sido previamente concebido e levado a cabo de forma profissional. A operação foi o sucesso que se conhece nas redes sociais, nas TV e nos jornais. 

Claro que tudo isto não passa de conjectura, até porque a minha fonte é uma agência de comunicação especialista em teorias da conspiração. Mas também lhe digo, caro leitor: se não foi o António Costa o responsável pela bandeira ao contrário ou se não foi uma acção subversiva levada a cabo por um velho militante do PCP - um dos muitos infiltrados ao longo de quase 40 anos de democracia nas estruturas do poder -, se não foi também nenhum dos suspeitos do costume então a coisa é muito, muito mais grave do que qualquer conspiração.   

É muito mais grave porque então foi karma. E do karma, é sabido, ninguém se livra. 

IN "DINHEIRO VIVO"
12/10/12

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