HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
"DIÁRIO ECONÓMICO"
5 de Outubro
Cerimónia oficial marcada
por vários incidentes
Bandeira portuguesa foi hasteada ao contrário e o discurso de Cavaco foi interrompido por entrada súbita de uma mulher em protesto.
A cerimónia do hastear da bandeira que deu início às comemorações
oficiais do 5 de Outubro começou por ficar marcada pelo hastear da
bandeira nacional com o escudo ao contrário. Assim que o Presidente da
República, Aníbal Cavaco Silva, hasteou a bandeira, algumas vozes
fizeram-se ouvir alertando que a bandeira estava ao contrário.
"É o estado do país", ouviu-se entre os populares que assistiam à
cerimónia, enquanto outros diziam que era uma "gaffe" imperdoável a
bandeira ter sido hasteada de forma errada. Na Praça do Município,
apenas cerca de 40 pessoas assistiram à cerimónia do hastear da
bandeira, contrastando com as cerimónias do centenário da República há
dois anos, quando a praça ficou repleta de convidados e populares.
Minutos depois de Cavaco Silva e restantes representantes políticos
se terem dirigido ao Pátio da Galé, onde decorrem as restantes
cerimónias, a bandeira voltou à sua posição correcta.
As cerimónias ficaram ainda marcadas pela entrada no Pátio da Galé,
em Lisboa, de uma mulher a gritar contra a actual situação do país,
tendo sido retirada por vários elementos da segurança. As cerimónias
ainda estavam a decorrer - discursava o Presidente da República, Cavaco
Silva - quando se começou a ouvir um burburinho no fundo da sala junto à
entrada do Pátio da Galé. Na altura, uma mulher gritava dizendo ser
incapacitada, não ter trabalho e não ter futuro.
"Tenho uma pensão de cerca de 200 euros, estou farta de procurar
trabalho, já tentei fazer limpezas, mas não consigo arranjar nada",
disse aos jornalistas Luísa Trindade, 57 anos. A mulher tentou caminhar
pela passadeira vermelha dirigindo-se até aos representantes políticos,
mas foi imediatamente bloqueada por vários elementos da segurança que
estavam no local e que, de seguida, a agarraram e a colocaram fora do
local onde estavam a decorrer as cerimónias.
Luísa Trindade manteve-se à porta do pátio da Galé e à medida que os
vários convidados iam saindo foi-lhes gritando e perguntando: "Não se
envergonham de olhar para a minha miséria?". Chegou mesmo a interpelar o
deputado do CDS-PP Nuno Magalhães, mas este seguiu sem dar resposta.
Os incidentes não se ficaram por aqui. Já depois de Cavaco Silva ter
acabado de discursar, a plateia foi surpreendida por uma mulher que, ao
fundo do corredor central do Pátio da Galé, começou a cantar o
"Firmeza", de Fernando Lopes Graça. Ana Maria, cantora lírica, disse à
Agência Lusa que já tinha estado na manifestação em Belém, no dia do
último Conselho de Estado, a
cantar o "Acordai", do mesmo autor. "As
pessoas estão a sofrer, eu sou uma delas. Eu ainda vou tendo emprego.
Penso que era a altura de cantar o Firmeza", justificou.
Ao contrário da primeira mulher que entrou no Pátio da Galé, que foi
levada por elementos de segurança, Ana Maria saiu pacificamente do
recinto onde decorreu a sessão solene do 5 de Outubro, no final da
sessão. Entretanto, no exterior, na Praça do Comércio, o número de
populares foi aumentando, apesar de ser difícil distinguir entre os que
estão pelas cerimónias e os turistas. Ainda assim, não houve registo de
manifestações ou distúrbios.
Algumas pessoas com quem a Lusa falou disseram estar desiludidas pelo
facto de as cerimónias deste ano terem decorrido no pátio da galé e não
na praça do município como habitualmente. "Isto é uma vergonha porque
não é uma cerimónia privada. Parece que vivemos outra vez numa ditadura
quando hoje é o dia da República" disse Justino Serrão, de 59 anos,
ex-militar de Abril. Entre os populares na praça do comércio algumas
pessoas queixavam-se de os políticos se esqueceram deles.
No final da cerimónia, a deputada socialista Maria de Belém resolveu
vir interpelar os populares, pedindo desculpa aos presentes por não ter
vindo dar os bons dias, mas que estava com pressa para um compromisso. A
atitude da deputada socialista fez, no entanto, com que algumas pessoas
gritassem: "A culpa também é sua".
* O povo ferve devagar, quem ateia o fogo são políticos irresponsáveis e este governo que atingiu o limite da incompetência, o ponto de ebulição está próximo.
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