HOJE NO
"PÚBLICO"
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Eleições regionais nos Açores:
vencedores e vencidos
Análise aos vencedores e vencidos nas eleições regionais nos Açores, a
nível local e nacional, num acto eleitoral em que o PS conseguiu segurar
a maioria absoluta.
O PS renovou no domingo a maioria absoluta nas
eleições regionais dos Açores, conseguindo 31 deputados dos 57 mandatos
totais, mais um do que há quatro anos, enquanto o PSD apesar de
derrotado aumentou igualmente a sua votação em relação a 2008, com mais
dois deputados.
O CDS perdeu eleitorado e passou de cinco para
três deputados. Já Bloco de Esquerda perdeu também um deputado, ficando
com apenas um representante no parlamento regional, enquanto a CDU
manteve o seu deputado único, tal como o PPM.
A abstenção ficou nos 52,1 por cento, um pouco abaixo do recorde de 2008 (53,2 por cento).
O
PS conseguiu 48,98% dos votos expressos (52.793 votos); o PSD obteve os
32,98% (35.550 votos); o CDS-PP ficou 5,67% (6.106 votos); o BE com
2,26; (2.437 votos); a CDU (PCP-PEV) com 1,89% (2.041 votos) e o PPM
0,09por cento (86 votos), conseguiu manter o seu deputado pelo círculo
do Corvo.
Vencedores
Carlos César
Carlos
César deixa o Governo regional, a liderança do PS-Açores e o parlamento
local com uma nova vitória. O PS continua no poder nas ilhas apesar do
desgaste de 16 anos de governação. Esta não é a sua mais importante
vitória, mas é um êxito sem dúvidas significativo. E agora o que vai
fazer o líder açoriano em termos políticos? A resposta é simples: o que
quiser. As portas da política partidária a nível nacional, que já
estavam entreabertas, estão agora escancaradas. E num PS ainda muito
dividido, um homem com a sua energia e currículo pode até sonhar muito
alto.
Vasco Cordeiro
Praticamente desconhecido a nível
nacional, Vasco Cordeiro entrou nesta noite de domingo para a primeira
divisão da política indígena. Vasco Ilídio Alves Cordeiro, nascido há 39
anos na Ilha de São Miguel e formado em direito, não é porém um novato
na política. É deputado regional desde 1996, foi, entre outros cargos,
secretário regional da Agricultura e Pescas e desde sempre um homem fiel
a César. Agora promete seguir o seu legado. Não vai ser fácil, César
secou muito terreno à sua volta, mas Cordeiro tem já uma importante
medalha ao peito: conseguiu ser eleito com mais votos e mais deputados
que Carlos César em 1996, quando o PS interrompeu o ciclo de 20 anos de
poder social-democrata de Mota Amaral.
António José Seguro
O
secretário-geral do PS foi discreto na hora da vitória, mas a verdade é
que os Açores deram a Seguro o seu primeiro grande sucesso enquanto
líder socialista. Uma vitória muito conseguida graças ao
descontentamento com as políticas do Governo, mas uma vitória que deixa
os socialistas ainda mais animados em relação às eleições autárquicas do
próximo ano. Seguro deixou para os analistas a interpretação se Pedro
Passos Coelho e a acção do Governo foram determinantes na derrota do PSD
nas eleições regionais, mas não deixou de ligar a vitória açoriana a
futuras eleições: “Estamos juntos num projecto que afirme os valores que
hoje foram sufragados nos Açores e que estou certo que serão sufragados
em Portugal na devida altura.”
Vencidos
Pedro Passos Coelho
Passavam
pouco mais de 30 minutos sobre o encerramento das urnas nos Açores e já
Passos Coelho se apresentava em público a reconhecer a derrota e até a
admitir nova maioria absoluta do PS. E não deixou de reconhecer que o
contexto nacional”, leia-se medidas do Governo, tinha tido influência no
resultado final das regionais. Pois teve. E muito. Passos chamou-lhe
“momentos maus” e deixou um novo “que se lixem as eleições” o que conta é
o país, ainda que por outras palavras. “Gostaria de dizer que, nos maus
momentos por que o PSD passa em termos nacionais, fica a certeza de que
não comprometemos o país e a estratégia nacional com os resultados das
eleições regionais.” No PSD, com autárquicas à porta, devem ter soado
muitos alarmes.
Berta Cabral
Há dois meses poucos
analistas arriscariam colocar Berta Cabral fora da corrida à vitória nas
regionais açorianas. Mas Portugal mudou nos últimos dois meses pelas
mãos de Pedro Passos Coelho e da troika. E Berta como, diz o
povo, levou por tabela. Não lhe chegou renegar vezes sem conta o líder
do PSD e as políticas do Governo. Não lhe chegou dizer que ela e Passos
eram incomparáveis, não chegou dizer que nos Açores mandam os açorianos e
que as políticas, como ela no poder nas ilhas, seriam muito diferentes
das impostas pelo Governo Central. Mais do que a derrota de Berta, nos
Açores foi derrotado o Governo. Berta tem, porém, uma pequena vitória:
conseguiu mais dois deputados para o PSD em relação às regionais de
2008. Passou de 18 para 20. Paulo Portas
Paulo Portas tem
passado, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, pelos buracos da
chuva do desgaste geral do Governo. Isso não aconteceu nos Açores. O CDS
passou de cinco para três deputados, apesar do empenhamento do líder do
partido nas regionais. Portas, como Passos, lembrou o “contexto
nacional” e pediu para não responsabilizar quem não merece pela derrota
do CDS. “Assumo a responsabilidade do ponto de vista do contexto
nacional.” Deve ter sido a frase que mais custou a Portas nos últimos
anos.
Bloco de Esquerda
Com o PCP e o PPM a manterem os
mandatos de 2008 (um deputado cada), o Bloco de Esquerda perdeu
eleitorado a nível regional, tal como já tinha acontecido a nível
nacional nas Legislativas 2011. Passou de dois deputados para um, embora
em número de votos tenha conseguido ficar à frente do PCP. Motivos para
sérias preocupações entre bloquistas e para muita reflexão entre os
dirigentes, já que o movimento não está a conseguir capitalizar a
contestação ao Governo.
* Nada a acrescentar a esta cabal explicação.
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