06/07/2012


 
HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"

PME portuguesas continuam a pagar 
o crédito mais caro do euro 

 Bancos têm hoje custos de financiamento menores e menos pressão sobre o rácio de transformação. Mas juros não baixam. 

As pequenas e médias empresas portuguesas (PME) continuam a pagar o crédito mais caro de toda a zona euro. Há vários meses o Diário Económico dava conta precisamente desta realidade e, apesar de desde então a banca ter sido auxiliada pelo Banco Central Europeu (BCE), de ter visto os seus custos de financiamento através de depósitos a prazo caírem consideravelmente e de estar hoje menos pressionada pelos rácios de transformação, as PME portuguesas continuam a pagar o crédito mais caro da zona euro. 

 "Diria que os bancos portugueses já teriam condições para começar a baixar essas taxas de juro. 

É uma situação que começa a ser algo preocupante e até algo estranha", comenta um analista do sector. De acordo com os dados ontem revelados pelo BCE, as PME portuguesas - crédito até 250.000 euros - pagaram, em média, 7,77% pelo acesso ao crédito, em Maio. 

Os intervencionados bancos irlandeses cobraram no mesmo mês 5,8% e os espanhóis 5,42%. Embora os dados de Maio relativos à Grécia ainda não tenham sido actualizados, em Abril as PME gregas pagavam 7,68% enquanto o custo do crédito para as congéneres portuguesas era de 7,79%. 

De notar que apenas as PME mais viáveis têm acesso a crédito. Ou seja, este é o valor cobrado a boas empresas. Nos últimos meses, a banca avançou com vários argumentos para os elevados juros cobrados, principalmente às PME. Primeiro, a falta de acesso a financiamento e os elevados custos do mesmo que, no caso dos bancos portugueses está a ser assegurado principalmente de duas formas: a liquidez fornecida pelo BCE, onde os custos são aliás mais baixos do que no mercado interbancário, há muito fechado para as instituições nacionais. 

De lembrar que o BCE realizou em Dezembro e Fevereiro dois leilões de liquidez com maturidade a três anos, onde os bancos portugueses terão levantado cerca de 40 mil milhões de euros. A outra fonte de financiamento têm sido os depósitos a prazo, cujas taxas de juro médias caíram 124 pontos base desde o início do ano para as empresas e 57 pontos base nos depósitos de particulares, após a intervenção do Banco de Portugal (BdP) que colocou um limite nas remunerações. No mesmo período, a taxa de juro no crédito às PME caiu 34 pontos base, menos que os juros dos depósitos e menos que o principal indexante - a Euribor a três meses - que corrigiu 54 pontos base. Outro argumento que durante muito tempo pesou na decisão dos bancos foi a necessidade da banca nacional atingir um rácio de transformação créditos/depósitos de 120% em 2014. Artur Santos Silva, presidente do conselho de administração do BPI, dizia mesmo, em Outubro de 2011, que este era mesmo o principal entrave dos bancos no financiamento à economia.

No primeiro trimestre deste ano, o BPI já cumpria o rácio imposto e a CGD estava prestes a cumprir, com um rácio de 121,9%. Além disso, no início de Abril, por ocasião da terceira avaliação ao programa de ajustamento, a troika passou a meta de desalavancagem antes imposta, apenas a indicativa, justificando: "É importante que o ritmo e a composição da desalavancagem não coloquem em perigo a concessão de crédito adequada para financiar investimento produtivo no sector privado, sem esquecer as PME". A falta de procura por crédito é também desde há muito apontada pela banca e negada pela indústria. 

No relatório de estabilidade financeira publicado em Maio, o BdP escrevia o seguinte: "Por sua vez, as micro e as pequenas e médias empresas enfrentaram restrições de financiamento muito activas". Mas refere também, no mesmo documento, que: "As micro, pequenas e médias empresas (...) apresentavam em Março de 2012 rácios de incumprimento de 11,1%, 8,5% e 6%, respectivamente, que comparam com 2,2% no caso das grandes empresas". 

Níveis de malparado que levam fonte do sector ouvida pelo Diário Económico a justificar: "Os bancos estão a defender-se. Não estão a colocar em risco o seu capital". Mas novamente é necessário lembrar que apenas as melhores PME estão a aceder a financiamento, logo com um risco que não será comparável com estes níveis de incumprimento. Os bancos argumentam agora que o elevado custo da ajuda estatal, para efeitos de recapitalização, e que ronda os 8,5%, terá de ser pago através do aumento de receitas, o que não permite a correcção dos juros cobrados às empresas. 

Em troca do capital, o Estado português exigiu um aumento do financiamento a PME e famílias. Resta saber a que preço. Para fonte do mercado "isto só lá vai com uma chamada de atenção do Governador do BdP". O Económico questionou o regulador sobre a sua sensibilidade para o assunto, sem que tenha recebido resposta até ao fecho da edição. 


* O Al Capone é um anjo da guarda ao pé dos nossos banqueiros.

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