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CÓRSEGA
Córsega (em corso: Corsica) é a quarta ilha do Mar Mediterrâneo por extensão (depois da Sicília, Sardenha e Chipre), fica a oeste da Itália, constituindo uma região administrativa da França.
É dividida em dois departamentos, Alta Córsega e Córsega do Sul.
Separada da Sardenha por um curto trecho do Estreito de Bonifacio, emerge como uma enorme cadeia de montanhas rica em florestas do Mar Mediterrâneo, marcando a fronteira entre a parte ocidental do Mar Tirreno e o Mar Lígure. É universalmente conhecida como o berço de Napoleão (nascido em 1769 em Ajaccio, um ano após a ilha ser ocupada pelo Reino da França). A capital e maior cidade é Ajaccio que é também capital da Córsega do Sul, enquanto Bastia, a segunda maior cidade, é a capital da Alta Córsega.
Outras localidades importantes são Porto-Vecchio, Borgo, Corte e Calvi. Seu ponto mais alto é o Monte Cinto, com 2.706 metros de altura. Com cerca de um terço do seu território protegido como parque nacional, e muito do belo litoral continua imune do cimento que mudou grande parte da costa mediterrânica, a Córsega, quase despovoada (31 habitantes/km²), tem como base da sua economia o turismo, que pode praticamente duplicar a sua população no verão. A relação não resolvida entre a Córsega e a França, que a governou por 240 anos, manifesta-se não só a partir do apego de seu povo para as suas tradições e sua língua (u Corsu, como "linguagem poderosa", indicadores estatísticos revelam que a crise económica e social ( última região do país ), e seus fortes impulsos de autonomia e independência, colidem com a Constituição francesa.
GEOGRAFIA
Com 8.681 km² de área, a Córsega surge no mar Mediterrâneo logo ao norte da Sardenha. De forma alongada nos meridianos, mede 183 km de Cabo Corso (Norte) até Capo Pertusato (Sul), enquanto a largura máxima é de 83 km.
O perímetro é de mais de 1.000 quilometros, dos quais 300 constituídos por mais de 200 praias e o território é muito montanhoso, com o Monte Cinto sendo o pico mais alto com 2.706 metros e outros 20 picos com mais de 2.000 metros de altitude.
HISTÓRIA (alguma)
Na história da Córsega a geografia e orografia tiveram consequências maiores que em outros lugares. A grande ilha mediterrânea é uma autêntica "montanha no meio do mar", atravessada de noroeste à sudeste, por um formidável relevo cujas montanhas superam por vezes os 2.500 metros de altitude.
O ponto mais alto da ilha alcança os 2.706 metros no Monte Cinto, cujo pico (quase sempre com neve também no verão) dista somente 28 km do mar ao oeste, mostrando o maior desenvolvimento vertical do que horizontal dessa terra. Este relevo sempre dividiu a Córsega em duas partes: a do nordeste (hoje chamada de Alta Córsega), chamada historicamente de "Banda de dentro" pois se encontra antes das montanhas (tendo como referência a Itália) ou Cismonte, e a parte do sudoeste (hoje chamada de Corse-du-Sud), chamada historicamente de "Banda de fora", além das montanhas ou Pumonte.
Os vilarejos que atravessam as montanhas (muitos localizados acima dos 1.000 metros de altitude) no inverno ficavam sem ligações com o resto da ilha por conta de nevões (podendo durar até semanas). Isto causava (junto com as montanhas) mais uma barreira do que uma ligação entre as duas regiões.
Além disto, os íngremes vales eram por muitas vezes sem estradas de ligação com outros vales dentro da própria Banda, o que deixava o interior corso ter pouca influência com o resto do mundo.
Se por um lado estas características do terreno deixaram mais difícil o trabalho dos invasores, deixando lenta a penetração e acostumando os corsos a fazer pequenas guerrilhas para resistir por séculos, por outro lado contribuíram a deixar sempre baixa a densidade de população e a separar os corsos entre eles.
A Banda virada para a península itálica sofreu uma maior influência da Itália, quer no plano político-social, quer no linguístico, enquanto a parte sudoeste manteve uma originalidade maior (mas tendo um menor progresso político, pelo menos até a invasão francesa).
Enquanto as áreas de montanhas tinham uma maior tendência a conservar as tradições locais, as cidades costeiras foram fundadas por invasores. Isso acabou criando um anarquismo nas aldeias e empurrando a população do interior a fazer justiça com as próprias mãos, e a difundir o fenômeno do banditismo.
A grande divisão orográfica acabou por criar na ilha fronteiras sociais, linguísticas e de ideais políticos. Tais fronteiras ao longo da história, mesmo com poucas variações, acabaram criando as atuais subdivisões administrativas, que permanecem até hoje. A grandes dimensões da ilha (quase 8800 km ²) mesmo não garantindo autonomia, foi suficiente para criar um desejo de independência nos corsos.
Localizada numa posição estratégica no Mediterrâneo, a Córsega acabou atraindo o interesse em outros povos que aos poucos chegariam à ilha como comerciantes ou como conquistadores.
Os fenícios, gregos, romanos, vândalos, bizantinos, pisanos, aragoneses, genoveses e, por fim, os franceses (que com o Tratado de Versalhes de 1768 obrigaram os genoveses a ceder a ilha, e depois a invadiram), foram os dominadores da ilha, deixando ao povo local poucos períodos de autonomia e independência.
OS PRIMEIROS HABITANTES
Devido às glaciações o nível médio do Mediterrâneo baixou e criaram-se diversas pontes naturais que permitiram a passagem da fauna (e talvez do homem) da península Itálica ao arquipélago sardo-corso, passando pelas ilhas toscanas e atravessando um pequeno trecho de mar.
Entre 12 e 14 mil anos atrás, o clima começou a sua evolução e levou o Mediterrâneo à sua forma atual, e a Córsega assumiu o aspecto atual insular.
Remontam a cerca de 9000 anos a.C. as primeiras localidades paleolíticas de pedras e esboços de escultura achadas na Córsega, na região de Porto-Vecchio.
Um esqueleto feminino (a dame de Bonifacio) datado do VII milênio a.C. foi achado perto da cidade homônima. O neolítico se concluiu por volta de 1800 a.C. na Córsega. Neste período se desenvolveu uma civilização megalítica da que ficam menhires.
A localidade de Filitosa é reconhecida pela UNESCO como patrimônio mundial, encontra-se perto de Sollacaro, próximo à foz do rio Taravo. Sempre no sul, desenvolveu-se com a chegada da Idade do Bronze, a civilização Torreana, ligada com a Nurágica na ilha vizinha, a Sardenha.
Desta cultura restam numerosas torres com estrutura parecida com as dos nuragues sardos, ainda que menos imponentes. Pela natureza dos achados, da época e da localização destas, acredita-se que tal civilização seria da extensão da desenvolvida na Sardenha.
Melhor organizados e armados, os Torreanos (que alguns acreditam ser o antigo povo do mar dos Shardana) ganham dos megalíticos e mandam estes para o centro e o norte da ilha. Na mesma localidade de Filitosa restam os traços da destruição cruel do assentamento precedente e um assentamento Torreano no lugar deste.
Na Idade do Ferro parece que aconteceu uma progressiva fusão entre os herdeiros das duas civilizações: começa a nascer o povo que os Gregos chamarão de Κὁρυιοι, corsos. Também são achadas algumas inscrições fenícias do século IX a.C. que citam o povo do mar chamado KRSYM, assentado em Kition (Chipre).
Inicialmente os Romanos se limitaram em controlar a ilha sem planejar uma colonização. Caio Mário funda a cidade de Mariana (Colonia Mariana a Caio Mario deducta, localizada na atual comuna de Lucciana) perto da foz do Golo em 105 a.C.. Deste momento em diante começa a colonização propriamente dita na ilha e florescem vilas rústicas e suburbanas, vilarejos de todo tipo, incluídas as termas de Orezza e Guagno. Em 81 a.C. são os legionários de Sula a encontrar na Córsega um lugar para se aposentar, seguidos pelos veteranos de Júlio César.
A dominação romana desenvolve-se sem grandes confrontos e, ao contrário do que aconteceu noutras províncias (a Córsega é administrativamente associada à Sardenha com reforma de Otaviano de 4 a.C.), os Romanos ganham respeito e colaboração dos chefes indígenas (a começar pelos Venacinos, tribo local de Capo Corso), reconhecendo-lhes as funções de governo local e gerando riqueza aproveitando as terras aproveitáveis das colinas e ao longo das costas.
No ano de 44 a.C. Diodoro da Sicília visita a Córsega e nota que os corsos entre eles respeitam regras de justiça e humanidade mais evoluídas que aquelas de outros povos bárbaros, estima o número populacional em cerca de 30 000 e refere que estes se dedicam a pastorear, e que marcam os gados soltos livres no pasto. Sêneca passa dez anos no exílio na Córsega desde 41.
Em Aleria e Mariana são preparadas bases secundárias da frota imperial de Miseno. Os marinheiros corsos alistados nos portos da ilha foram os primeiros a ter a cidadania romana (com Vespasiano em 75). À época Antonina são aperfeiçoadas as vias de comunicação interna (estrada Aleria-Aiacium e, na costa leste, Aleria-Mantinum - depois Bastia - ao norte Aleria-Marianum - depois Bonifácio - e ao sul): a ilha fica quase completamente latinizada, exceto alguns enclaves nas montanhas.
Parece confirmado que a ilha foi colonizada pelos romanos, sobretudo através das distribuições de terras aos veteranos provenientes da Itália meridional - ou a soldados provenientes dos mesmos estratos sociais e étnicos os quais foram também dadas terras em particular na Sicília -, o que ajudaria a explicar algumas afinidades linguísticas existentes ainda na atualidade entre o corso meridional e os dialetos da Sicília e da Calábria.
Segundo outras hipóteses mais recentes, estas influências linguísticas poderiam ter acontecido por migrações mais tardias, de refugiados da África entre o século VII e o século VIII. Em 150, o geógrafo Ptolomeu em sua obra cartográfica fez uma descrição apurada da Córsega pré-romana, listando oito rios principais (entre os quais o Govola-Golo e o Rhotamus-Tavignano), 32 centros habitados e portos - entre os quais Centurinon (Centuri), Canelate (Punta di Canelle), Clunion (Meria), Marianon (Bonnifacio), Portus Syracusanus (Porto Vecchio), Alista (Santa Lucia di Porto Vecchio), Philonios (Favone), Mariana, Aleria -, e doze tribos autóctones (em grego, latim e a sua localização). Santa Devota é, junto com Santa Júlia, uma das primeiras santas corsas que se tem notícia.
É padroeira do Principado de Mônaco. Santa Júlia é padroeira da Córsega e de Bréscia, onde descansa, que foi transportada por Ansa, mulher do rei longobardo Desidério em 762. Santa Júlia é também padroeira de Livorno. Como nos outros lugares no ocidente, a organização romana na Córsega caiu com a invasão dos vândalos que no século V, partindo da África, chegam a Roma. Aleria foi saqueada e, abandonada, termina em ruínas. Mariana foi sede episcopal na Idade Média.
A alta idade média
Durante as convulsões que acompanharam o fim do Império Romano do Ocidente, a Córsega foi disputada entre Vândalos e Godos, aliados dos últimos imperadores romanos, até que Genserico assegurou o controle em 469. Durante os 65 anos de dominação, os vândalos desfrutaram do patrimônio florestal da ilha para os estaleiros, e tiveram uma frota que aterrorizou o Mediterrâneo ocidental.
A potência vândala na África foi destruída por Belisário, enquanto seu general Cirilo conquista a Córsega em 534, que foi unida ao Império Romano do Oriente. Segundo Procópio, na Córsega restavam menos de 30 000 habitantes. No período sucessivo, Godos e Longobardos saqueiam a ilha, deixada indefesa pelos Bizantinos, os quais após empobrecerem a ilha devido a um excessivo peso fiscal, não a tinham protegido devidamente.
Por outro lado, os próprios Bizantinos tiveram problemas na África com a invasão árabe e, em 713, os árabes realizam as primeiras incursões contra a Córsega. Naquela altura aconteceu um notável processo de despovoamento da ilha e a formação, perto de Roma, de uma colônia corsa em Porto (Óstia).
A Córsega continua ligada nominalmente ao Império romano do oriente até que, em 774, Carlos Magno vence os Longobardos na Itália e conquista a ilha, que passa assim sob a jurisdição dos Francos. Porém, em 806 há novas incursões de Mouros, desta vez provenientes da Península Ibérica; mesmo vencidos várias vezes por tropas de Carlos Magno, estes conseguem a tomar o controle por breve tempo em 810. Foram enfim expulsos por uma expedição guiada pelo filho de Carlos Magno, porém os Mouros não se dão por vencidos e continuam a fazer incursões na ilha.
Para tentar acabar com esta situação, em 828 a defesa da ilha foi entregue ao papa Bonifácio II, que conduziu expedições punitivas contra os portos norte-africanos de onde saíram incursões árabes contra o litoral do Mar Tirreno; na via de volta Bonifácio construiu uma fortaleza perto da ponta sul da Córsega, fundando o núcleo fortificado da cidade de Bonifácio.
A guerra contra os Sarracenos, que voltaram bem cedo a fazer ataques, foi continuada pelo filho de Bonifácio, Adalberto, que herdou o compromisso em 846. Todavia os Sarracenos permaneceram donos de algumas bases na ilha pelo menos até 930. A Córsega, que nesta altura era unida ao reino de Berengário II, rei da Itália, virou refúgio de seu filho Adalberto em 962, depois que Berengário perdeu o reino para Otão I o grande.
Adalberto conseguiu manter o controle da Córsega e passou-a para o seu filho homônimo, o qual todavia foi vencido pelas forças de Otão II. Determinou-se então a entrega da ilha à Marca da Toscana, ficando o último Adalberto responsável pela Córsega
Entre estes aparecem os Condes de Cinarca, que se pretendem descendentes diretos de Adalberto e procuram expandir o domínio à ilha inteira. Tal vontade deu origem a batalhas que duraram por séculos: para pôr contraste às ambições dos feudatários, ainda no século XIV Sambuccio d'Alando se colocou à frente de uma Dieta que se opôs às pretensões deles, confinando os senhores na porção Sudoeste da ilha.
Esta receberá o nome de "Terra dos Senhores" (Pomonte) enquanto no restante da ilha se afirma definitivamente um regime que liga entre eles comuns autônomos (ao exemplo do modelo análogo que se aconteceu na Itália desde o século XI). Tal território receberá o nome de "Terra de Comuns" (Cismonte).
A divisão durará até ao século XVIII e marcará significativas diferenças no desenvolvimento social, económico e até linguístico entre as duas partes da ilha, com o norte mais ligado à Itália e com uma língua mais parecida com a da Toscana.
Do ponto de vista de organização, na Terra de Comuns, cada qual dos comuns mais importantes chefiando uma Piave (a paróquia principal) nomeavam (através de sufrágio universal, incluindo as mulheres) os representantes chamados "Pais dos comuns", responsáveis pela administração da justiça e da eleição dos presidentes deles, chamado ‘‘podestà’’, que coordenava a operação.
Os ‘‘podestà’’s das várias Piaves, por sua vez, escolhiam os membros de um conselho superior, chamado "Conselho dos Doze", responsável das leis e regulamentos estabelecidos na Terra de Comuns. Os " Pais dos comuns", além disso, elegiam para cada Piave um "Chefe", um magistrado responsável pela proteção e pela segurança da população, encarregado de garantir que os mais desfavorecidos não fossem explorados e que fosse mantida justiça para eles. Grande parte das terras dessa região eram consideradas de propriedade da coletividade comunal.
A total abolição das propriedades comuns, promovida na segunda metade do século XIX pela França, trouxe consequências graves para a economia da Córsega. Em Cinarca (Terra dos Senhores), os barões feudais mantinham as suas prerrogativas, assim como aqueles que controlavam o Capo Corso, e juntos constituíam uma ameaça para o sistema em vigor na "Terra de Comuns".
Para fazer frente, em 1020 os magistrados desta última pediram ajuda de Guglielmo Marquês de Massa (da família Malaspina), o qual, descendo na ilha, reduziu a ordem dos barões do Conde de Cinarca e estabeleceu na Córsega um próprio protetorado, para transmitir depois ao próprio filho.
Por volta da metade do século XI, todavia, o Papado levantou,na base de documentos falsificados (uma doação por obra de Carlos Magno, o qual havia estabelecido ama reversibilidade do próprio domínio a favor da Santa Sede), a questão da própria soberania na Córsega. Tal reivindicação achou grande consentimento na ilha, a começar pelo seu clero, e em 1077 os corsos se declararam súbditos de Roma.
Em seguida, o titular da cátedra arcebispal pisana passou a ser também Primado da Córsega (e da Sardenha). Catorze anos depois, o Papa Urbano II (1088-1099) confirmou as concessões do seu predecessor através da bula Nos igitur. O título de legado pontifício passou então a Daiberto, instalado na cátedra de Landolfo. O acordo como sufragâneos dos bispados corsos fez com que o bispo de Pisa assumisse o título de arcebispo.
Pisa, com o seu porto, manteve durante séculos (desde a época romana) estreitos ligações com a ilha, expandindo ao mesmo tempo que a própria potência marítima crescia - a própria influência política, cultural e econômica.
Durante a administração episcopal seguiu inevitavelmente a autoridade política dos Juízes (magistrados administrativos) da República toscana, destinada em breve tempo a fazer reflorescer a Córsega e marcar profundamente, também depois da substancial perda de controle da ilha em seguida a desastrosa derrota sofrida pelos pisanos nas mãos dos genoveses, na batalha da Meloria em (1284).
Apesar de na atualidade em geral se julgue positivamente o governo da República de Pisa, não faltaram na Córsega motivos de descontentamento. Parte do clero e dos bispos da ilha não suportava a submissão ao arcebispo de Pisa, ao mesmo tempo que o poder crescente da República de Genova, rival tradicional de Pisa, sabendo do valor estratégico da Córsega, apoiou às reclamações dos corsos no tribunal papal de Roma para obter a ilha em próprio favor.
Deste modo, depois de um período durante o qual o papado não adotou uma posição clara, em 1138 Papa Inocêncio II estabeleceu uma solução de compromisso e dividiu a jurisdição eclesiástica da ilha entre os arcebispos de Pisa e de Gênova, assinando o começo da influência lígure na Córsega, sendo ainda mais forte depois de 1195 com a ocupação genovesa de Bonifácio.
Os pisanos tentaram por vinte anos, sem sucesso, de recapturar a cidade, até que em 1217 o Papa Honório III tomou o controle da ilha. Porém, a mediação papal não serviu para cessar a briga entre Pisa e Gênova, e com a influência deles, fez repercutir durante todo o século XIII também na ilha a briga entre güelfos e gibelinos que estava acontecendo em toda a Itália.
No ambiente desta luta (e seguindo um esboço que já tinha acontecido e que se repetiria muitas vezes mais tarde favorecendo os domínios), os maiorais da Terra de Comuns invocaram a intervenção do marquês Isnardo Malaspina.
Os pisanos reagiram estabelecendo um novo conte de Cinarca, e a guerra assolou a ilha sem que nem o partido genovês nem o pisano puderam ser impostos definitivamente até a batalha de Meloria 1284, inclinado a balança a favor de Genova que, a partir daquele momento, estendeu a sua influência na Córsega.
De modo imediato fez valer os direitos papais sobre a ilha (cujas principais praças estavam sob controle das tropas pontificias) e cedeu-os a Gênova.
Assim passou-se a um período em que a ilha passa a estar controlada amplamente pela República genovesa excetuando Cinarca, sob controle nominal dos aragoneses mediante o domínio mais concreto dos Senhores locais, e da Terra de Comunas, que mediante uma assembleia de seus chefes, em 1453 decidiu oferecer o governo de toda a ilha ao Banco de San Giorgio, a potente companhia comercial e financeira estabelecida em Gênova em 1407, que o aceita.
Uma vez expulsos os aragoneses (de cujo passo pela Córsega ficará o emblema da Cabeça Moura), o Banco de San Giorgio começou uma autêntica guerra de extermínio contra os Barões insulares, cuja resistência organizada termina em 1460, quando os líderes são detidos e mandados ao exílio na Toscana. Ainda teriam de decorrer dois anos de lutas para conseguir submeter por completo a ilha, até 1462, em que o capitão genovês Tommasino da Campofregoso, de mãe corsa, fez valer com sucesso seus direitos familiares para reafirmar o controle total da República também no interior da ilha.
Apenas dois anos depois, em 1464, Gênova, e com a Córsega, cai em mãos de Francisco I Sforza, duque de Milão. À sua morte, em 1466, a autoridade milanesa na ilha desvaneceu-se pelas habituais turbulências internas e, uma vez mais, apenas as cidades costeiras permaneceram de modo efetivo sob a tutela das potências continentais.
Em 1484 Tommasino da Campofregoso convenceu aos duques Sforza para que lhe confiassem o governo da ilha, conseguindo o controle das fortificações. Nesse tempo consegue consolidar o poder interno, aliando-se com Gian Paolo da Leca, o mais poderoso dos Barões insulares.
Três anos depois a situação voltava-se a mover. Um descendente dos Malaspina, que já tinham tido relação com Córsega no século XI, Jacopo IV de Appiano, príncipe de Piombino, foi chamado para que interviesse em favor daqueles que se opunham a Tommasino, e assim o irmão do príncipe, Gerardo conde de Montagnano, se proclamou conde da Córsega e, depois de desembarcar na ilha, se apoderou de Biguglia e de San Fiorenzo.
Mais que se opor a Gerardo, Tommasino restituiu discretamente as prerrogativas em favor do Banco de San Giorgio, que durante esse tempo refundou e fortificou Ajaccio (1492) perto do lugar da antiga Aiacium romana. A decisão de Tommasino foi criticada por outros membros de sua família e por Gian Paolo da Leca, com razão, já que em quanto o banco terminou com Gerardo, apontou suas armas contra os belicosos barões corsos, aos que não conseguiu submeter até 1511, e isto depois de longa e sangrenta luta.
Durante seu governo, o Banco de San Giorgio demonstrou escassa visão política, optando por uma busca do benefício mais imediato em lugar de uma estratégia de integração, e instaurando desse modo um regime colonial.
Aumentou-se o desenvolvimento dos bosques, mas os principais benefícios eram para o Banco, que impunha à ilha umas taxas de tal magnitude que de fato impedia qualquer possibilidade de desenvolvimento local.
Ao longo de toda a costa da ilha reconstruíram-se e em grande parte se construíram novas torres de vigilância e defesa (muitas delas ainda existem hoje em dia) para dispor de um sistema de alerta contra as incursões dos piratas berberiscos, unido às patrulhas marítimas.
Apesar de que não se eliminará do todo (permanecerá até o século XVIII), esta praga foi contida, ainda que mais para proteger os interesses econômicos coloniais que para brindar à proteção da população corsa, que seguirá sofrendo as sangrentas incursões dos piratas, virtualmente impunes quando actuavam nas zonas de costa, que o banco considerava sem interesse estratégico e econômico.
Em grande parte, as instituições locais (entre as que se distinguia por seu realmente avançado conceito político a organização da Terra de Comunas) foram abolidas ou esvaziadas de conteúdo e concorrências concretas. Os notáveis corsos nem sequer puderam gozar por completo dos direitos de cidadania, sem falar de aceder à oligarquia republicana genovesa, que por definição lhes estava fechada.
As tentativas de rebelião foram geralmente reprimidas com grande dureza, utilizando com frequência o recurso à pena de morte; ou alternativamente aplicando o princípio de "divide et impera", manejou habilmente (incitando-as quando era necessário) batalhas locais ou inícios de guerra civil, utilizando esses desencontros para debilitar as forças e o moral dos senhores da ilha e, portanto, prevenir contra alianças que pudessem ocasionar um levantamento geral.
Desenvolveu-se a cultura da vendetta e do banditismo, que cresceram ao invés de acabarem. Tudo isto enquanto em Europa, e especialmente na vizinha Itália peninsular, florescia o Renascimento. Às desgraças políticas uniram-se epidemias de peste e o encarecimento do custo da vida que serviram pára que o processo de empobrecimento e embarbaramento da ilha, além de exacerbar o ódio dos corsos para o domínio genovês.
Pouco depois da assinatura do tratado entre Francisco I da França e Solimão, a frota franco-turca apresentou-se ante a costa da ilha e atacou-a, sitiando ao mesmo tempo todas as fortalezas costeiras.
Bastia caiu quase sem lutar, enquanto Bonifacio resistiu muito tempo e só cedeu ante a promessa à guarnição de respeitar a vida dos sitiados, promessa que os turcos incumpriram, já que uma vez a cidadela se rendeu toda a guarnição foi massacrada e a cidade saqueada. Cedo caiu toda a ilha, salvo Calvi que seguiu resistindo.
Preocupado pela ação francesa, que abria decididamente as portas aos otomanos em pleno coração do Mediterrâneo ocidental, interveio o rei de Espanha e imperador de Alemanha, Carlos V, que a sua vez invadiu a ilha à cabeça de suas tropas e as de Gênova. Nos anos seguintes (os Turcos tinham desembarcado brevemente só em Bonifacio), alemães, espanhóis, genoveses, franceses e corsos lutaram ferozmente pelas fortalezas da ilha.
Em 1556 ocorre uma trégua, que deixa momentaneamente à França o controle de toda a ilha, salvo Bastia, que anteriormente tinha voltado a ser conquistada por genoveses e espanhóis.
O governo francês (mais moderado que o genovês) conseguiu simpatias entre a população, também graças à ação dos corsos ao serviço da França, entre os que estava, com o grau de coronel, o mercenário Sampiero di Bastelica. No entanto, em 1559, as conclusões da Paz de Cateau-Cambrésis dispuseram a restituição da Córsega ao Banco de San Giorgio.
Os responsáveis do banco procederam imediatamente a impor duros impostos para tratar de ressarcir-se dos gastos de guerra (impostos que grande parte dos corsos se negaram ou estiveram em medida de pagar) e, violando o tratado, que previa uma anistia general, procederam a confiscar todos os bens de Sampiero, de sua esposa Vannina d'Ornano, e de outros corsos que tinham servido ao lado da França. Sampiero, estabelecido em Provença, não se deu por vencido e começou a trabalhar para agrupar uma parte significativa dos notáveis da ilha enfrentando Gênova, enquanto paralelamente buscava apoios para seu projeto de separar a ilha da República de Gênova.
Dirigiu-se com esse objetivo a Catarina de Médicis, então rainha regente da França depois da morte de seu marido durante os festejos de celebração da Paz de Cateau-Cambrésis. No entanto, Catarina negou-se a apoiar Sampiero, não querendo estar implicada numa operação que reabrisse a longa guerra que acabara de terminar.
Não teve mais sorte uma tentativa nesse sentido com Cosme I de Médicis, que também queria apropriar-se da Córsega, mas pretendia fazê-lo mediante tratados com as potências europeias, já que sabia que Toscana não estava em condições de desafiar abertamente os genoveses.
Fracassada uma posterior tentativa de conseguir o apoio dos Farnésio de Parma, Sampiero, que tinha conseguido credenciais diplomáticas francesas, conseguiu ir pessoalmente ao Norte da África e a Constantinopla para suplicar ao Sultão que interviesse para converter a Córsega em província otomana, o que demonstra bem até que ponto Gênova era odiada entre os corsos agrupados ao redor do antigo coronel dos franceses.
A missão de Sampiero em Oriente terminou frustrada porque enquanto Cosme I, conhecedor dos projetos do corso para instalar à potência otomana justo em frente à costa toscanas, tinha advertido da iniciativa aos genoveses, cujos embaixadores se tinham adiantado a Sampiero e convencido os ministros turcos para que recusassem a proposta.
Enquanto Sampiero estava em Oriente, sua mulher, Vannina d'Ornano, dona de feudos confiscados por Gênova, tinha tratado de recuperá-los buscando pessoalmente um acordo com a Serenísima República de Gênova.
Ao ficar a saber Sampiero destas gestões ao regressar à França, não hesitou em reagir ante o que considerava uma sangrenta traição, matando um amigo corso que tinha permanecido para cuidar a sua esposa e estrangulando pessoalmente sua esposa e às duas damas de companhia que a cuidavam em sua ausência.
Sampiero reivindicou os homicídios como delito de honra provocando deste modo a justiça francesa.
Levado por um grande entusiasmo e uma dose de desespero unida às suas vivências pessoais, desembarcou em julho de 1563 com um punhado de seguidores em Propriano, no golfo de Valinco, com o desejo de expulsar aos genoveses da ilha.
Enquanto os genoveses uma vez conscientes (ainda que tarde) do nefasto papel político desempenhado pelo Banco de San Giorgio na administração da Córsega, tinham decidido assumir o controle direto a partir de 1562, instalando um governador na ilha.
Em muito pouco tempo Sampiero consolidou as alianças locais, preparadas desde muito tempo antes, consolidando um exército de 8000 homens, com o que levou a cabo uma sangrenta série de golpes de mão ao que o governo genovês se opôs tanto pelas armas como animando as rivalidades entre os notáveis ilhéus.
Depois de anos de uma guerra caracterizada por uma extrema ferocidade de ambas as partes, por matanças, saques, incêndios de colheitas e de populações, os genoveses explodindo o ódio dos familiares de Vannina conseguiram recrutar entre eles sicários que, em 1567 mataram Sampiero pelas costas e levaram sua cabeça ao governador de Gênova.
O suposto nome do assassino de Sampiero, Vittolo passou assim a se converter em paradigma do traidor na fantasia corsa popular e ainda hoje guarda esse significado. A luta prosseguiu durante algum tempo encabeçada por um jovem filho de Sampiero, Afonso, mas os rebeldes corsos, sem a experiente liderança de Sampiero e sem recursos militares, se desanimaram e buscaram a paz, à que se chegou em 1569 com o pacto entre Afonso e o genovês Giorgio Doria.
Percorrendo atenciosamente a lista de nomes dos capitães mercenários italianos, pode-se observar que muitos deles eram originários da Córsega e que, em alguns casos, contavam com batalhões inteiros de corsos. Entre os destacamentos militares integrados em sua totalidade por corsos que operaram fora da ilha destaca a Guarda Corsa papal, que exerceu suas funções durante vários séculos.
Apesar da pouca fiabilidade dos documentos, normalmente data-se em 1378, coincidindo com o final do cativeiro de Avinhão, a fundação em Roma de um corpo militar composto exclusivamente por corsos com funções de Guarda Pontifícia e de milícia urbana.
Não parece que haja documentos que certifiquem a criação deste corpo militar, apesar da presença de uma significativa colônia corsa em Porto (Fiumicino) e depois no Trastevere (a igreja de San Crisogono foi basílica sepulcral dos corsos) certificada ao menos desde o século IX e de fato não se pode excluir uma presença organizada de milícias corsas no seio os exércitos papais inclusive muito antes do século XIV, considerando o importante vínculo entre Córsega e Roma, cidade da que dependeu a ilha formalmente a partir do século VIII e até sua definitiva entrada na órbita genovesa.
A Guarda Corsa que estará ao serviço do Papa durante quase três séculos e precederá em quase 130 anos à instituição em 1506 da Guarda Suíça. Seu final chega depois de um incidente ocorrido em Roma em 20 de agosto de 1662 e é um dos indícios de que os franceses têm a cada vez mais influência na Itália.
Em meados do século XVII a presença em Roma de numerosas delegações diplomáticas dos Estados tinha acabado por criar uma situação paradoxal, com respeito às potências maiores, que abusando do conceito de extraterritorialidade, tinham dotado suas embaixadas de autênticas guarnições militares (que se moviam armadas por toda a cidade) e levado à transformação de zonas inteiras do centro da cidade em zonas francas, onde os delinqüentes e assassinos de todo tipo encontravam refúgio e impunidade.
O Papa Alexandre VII tratou de remediar estes excessos. O rei da Espanha e os representantes do Império aceitaram reduzir suas milícias, mas o rei da França Luís XIV, em mudança, mandou a Roma o seu primo Carlos III, duque de Créqui, como embaixador extraordinário com uma escolta militar reforçada, que pouco tempo depois teve um grave confronto perto da Ponte Sixto com alguns membros da Guarda Corsa, que patrulhavam as ruas de Roma, especialmente grave porque, inclusive, os militares em serviço no quartel tentaram assaltar o vizinho Palácio Farnésio, sede da embaixada da França, exigindo a detenção dos militares franceses responsáveis do incidente.
Produziram-se disparos, no momento em que regressava ao Palácio Farnesio, a esposa do embaixador com numerosa escolta militar. Um pajem da senhora de Créqui foi ferido de morte e Luís XIV aproveitou-se para explorar ao máximo o conflito com a Santa Sé que se tinha iniciado com o governo do Cardeal Mazarino.
O Rei Sol retirou de Roma a seu embaixador, expulsou da França o embaixador do Papa, anexou os territórios pontifícios de Avinhão e ameaçou seriamente com a invasão de Roma se o Papa não lhe apresentasse desculpas e não se submetesse a suas petições, que compreendiam a imediata dissolução da Guarda Corsa, a emissão de um anátema contra seu país, o encarceramento como represália de um enorme número de militares e a condenação para as galés, a demissão do Governador de Roma e a construção de uma cerca ao quartel da Guarda uma infâmia e maldição para os corsos que se tinham atrevido a desafiar a autoridade francesa.
Num primeiro momento, o Papa opôs-se e tratou de ganhar tempo, mas a real possibilidade de uma intervenção do exército francês em Roma fez que cedesse. Dissolveu-se a Guarda Corsa para sempre e encarceraram-se alguns dos seus membros e desterrou-se de Roma o governador.
Em fevereiro de 1664 os franceses restituíram os territórios de Avinhão e em julho, em Fontainebleau, o sobrinho do papa, Flavio Chigi, foi obrigado a humilhar-se e a apresentar desculpas de Roma ao rei da França.. Ao longo das negociações Luis XIV tinha visto o modo de ampliar sua influência em Itália, convertendo-se em protetor de alguns príncipes italianos ao obrigar o Papa, sempre no contexto dos desagravos pelo assunto da Guarda, a devolver Castro e Ronciglione ao Duque de Parma e a indeminizar ao Duque de Modena por seus direitos sobre Comacchio.
Em 1729 falou-se de voltar a prorrogar os due seini por outros cinco anos, justo no momento no que as más colheitas dos últimos anos e o endividamento dos camponeses atingiam níveis catastróficos.
Por isso a visita dos arrecadadores dos due seini levada pelo lugarteniente de Corte em Pieve dei Bozio, fez saltar a faísca da insurreição no coração da Terra de Comunas que, social e civilmente era mais avançada que outras regiões que desde a Idade Média, estavam menos preparadas para suportar a crise econômica e a restrição de direitos.
Um destacamento de soldados Genoveses foi rodeado, desarmado, roubado e, praticamente nu, reenviado a Bastia, ao mesmo tempo que em toda a região soavam os sinos e nas montanhas o tradicional corno marinho dos pastores chamando à rebelião.
Assim surgiu uma revolta camponesa que, a princípios de 1730, descendo de Castagniccia e de Casinca, saqueou a planície de Bastia, afetando também à capital.
Gênova enviou à ilha como novo governador a Gerolamo Veneroso (que tinha sido Dogo entre 1726 e 1728) e este atingiu uma efêmera trégua, convidando às comunidades corsas a apresentar suas reivindicações. Em dezembro de 1730 os reunidos na Consulta (assembleia) de San Pancrazio tomam medidas relativas ao financiamento da insurreição e da constituição de milícias, dando coesão a um grupo dirigente em torno de alguns notáveis: Andrea Colonna Ceccaldi, Luigi Giafferi e o abate Raffaelli.
À revolta adere o baixo clero no que cedo se converterá em causa nacional. Em fevereiro do ano seguinte, 1731 uma Consulta geral em Cortes estabelece formalmente as reivindicações a exigir ao governo genovês, marcando uma fase em que os notáveis encabeçam a revolta se preocupam em a liderar.
Em abril os teólogos da ilha reúnem-se em Orezza, adotando uma atitude prudente, convidando à República a cumprir com seus deveres para evitar umas desordens contempladas com indulgência. O cônego Orticoni viaja como emissário de uma a outra corte em Europa, defendendo as razões de seu povo, especialmente ante a Santa Sé.
A revolta corsa torna-se cedo em assunto de interesse europeu e chama a atenção do embaixador francês em Gênova, que informa o governo.
A anarquia e as desordens voltam a ensanguentar a ilha: a colônia grega de Paomia é agredida e ameaçada com o extermínio, o que marca a extensão da rebelião, primeiro reduzida ao Cismonte, também ao Pumonte, enquanto se inicia o contrabando de armas especialmente desde Livorno, com ajuda dos corsos emigrados a Itália.
Alguns dos implicados, confiando como era costumes nos apoios externos, invocaram a ajuda de Felipe V da Espanha (quem prudentemente evitou entrar no conflito no que seu sobrinho, o rei da França Luís XV tinha interesses) e com este objetivo modificam a bandeira aragonesa com a Testa Mora: a venda que, no original, cobria os olhos da figura, se transforma numa fita na frente para justificar a divisa, "Agora Córsega abriu os olhos".
Em agosto de 1731 Gênova, uma vez interrompidas as hostilidades e incapaz de enfrentar sozinha a rebelião, obtém do Imperador Carlos VI (preocupado por uma possível intervenção de Felipe V, que lhe tinha privado do trono da Espanha, de que se dizia herdeiro, na Guerra de Sucessão da Espanha), o envio de uma expedição militar que desembarca na Córsega às ordens do barón alemão Wachtendonk para apoiar às forças do comissário extraordinário genovês, Camillo Doria.
Depois de serem derrotados em Calenzana (em fevereiro de 1732), as tropas imperiais, melhor dotadas em artilharia e com 8.000 homens, impõem-se. Os cabeças da rebelião são desterrados e a arbitragem imperial garante, em janeiro de 1733, as graciosas concessões que o Minor Consiglio genovês aprova com o objetivo de desarmar as aspirações secessionistas e devolver a tranqüilidade à ilha.
Na realidade durante pouco tempo, já que no seguinte outono (1733) começa um novo foco rebelde em Castagniccia, desta vez dirigido diretamente por um notável originário de uma das melhores famílias que Gênova tinha pretendido que colaborasse com o governador, os Nobili Dodici.
Entre estes tinha sido elegido Giacinto Paoli, que se situa à frente da nova rebelião. A ilha volta a escapar-se ao controle genovês (excetuando as cidades da costa) e os rebeldes organizam-se com a ajuda a cada vez maior de seus compatriotas em Itália. Chega-se assim a 1735, quando uma nova Consulta geral celebrada em Corte elabora, sob a direção do advogado Sebastiano Costa (um corso que regressa de Itália para apoiar a insurreição) uma declaração constitucional que de fato constitui a Córsega como estado soberano. O texto antecipa a Constituição paolina de 1755 e chama a atenção de Montesquieu, que percebe que a partir desse momento encabeçam a revolução corsa homens inspirados pelos mais avançados conceitos jurídicos difundidos em Itália.
No mesmo contexto, Córsega põe-se sob a proteção da Virgem Maria e adota-se como hino nacional o canto sacro "Deu vi salvi Regina" composto no final do século anterior pelo jesuíta Francesco de Geronimo, originário da província de Taranto.
O Estado da Córsega concebido em Corte carece voluntariamente de soberano, com o objetivo mais ou menos manifesto (além de liberar-se da República lígure) de convidar a algum monarca reinante europeu a reclamar a Córsega. No entanto, apesar de que muitos deles quererem apoderar-se da ilha, o complexo equilíbrio atingido depois da Paz de Westfalia convida a todos à prudência e joga a favor de Gênova e da incrível aventura de um verdadeiro barão Teodoro de Neuhoff (1694-1756), um estranho aventureiro da pequena nobreza alemã originário de Colônia e que tinha passado pela França e Espanha antes de conseguir convencer à comunidade corsa de Livorno para que o apoiasse como candidato ao trono da Córsega.
Desse modo, depois de desembarcar em março de 1736 em Aleria com armas, cereais e ajudas em dinheiro, consegue com notória habilidade e eloquência ser acolhido por Giacinto Paoli, Sebastiano Costa e Luigi Giafferi, que dirigem a rebelião, como uma espécie de Deus ex machina e se faz proclamar rei da Córsega.
De natureza perspicaz, Teodoro demonstra compreender bem quais são as aspirações mais profundas dos notáveis da ilha e dá-se pressa em instaurar uma ordem da nobreza na Córsega, distribuindo com liberalidade títulos pomposos aos cabeças da insurreição. Apesar disto, cedo se desencadeiam disputas entre os novos nobres para tratar de monopolizar os títulos que pareciam mais sugestivos, demonstrando até que ponto as aspirações dos notáveis iam unidas a seu próprio progresso social que lhes negava constitucionalmente Gênova.
Ao mal-estar relacionado com as disputas sobre os títulos nobiliários, uniram-se cedo outros mais sérios relacionados com as vãs promessas de ajuda que Teodoro tinha usado para convencê-los de convertê-lo em rei.
Demonstrando uma vez mais oportunismo e perspicácia, depois de sozinho oito meses de reinado, o efêmero soberano, menosprezado pelos genoveses, deixou Córsega em novembro de 1736 com a desculpa de reclamar as ajudas prometidas.
Também em 1736 aparece, publicado pelo abate corso Natali, o Desengano em torno da Revolução da Córsega, primeiro exemplo significativo do a florescente literatura apologética (escrita em italiano) que popularizará a luta pela independência dos corsos nos ambientes ilustrados de toda Europa. Teodoro voltará a aparecer na Córsega só dois anos mais tarde, para uma breve tentativa frustrada de restauração e outra vez em 1743, com apoio britânico, mas com igual resultado. A vida do rei da Córsega terminará na pobreza em Londres em 1756 e sua tragicômica história será objeto de curiosidade em toda Europa, até o ponto de ser protagonista da ópera "Il re Teodoro in Venezia) de Giovanni Paisiello, que tinha tomado a personagem do que esboçou Voltaire em seu Cándido.
A conquista francesa
Com a chegada do duque de Choiseul como ministro de Luis XV aceleraram-se as ambições já antigas da França sobre a Córsega. França tinha sofrido uma dura derrota na Guerra dos Sete Anos, e tinha perdido todas suas colônias de América, que com o Tratado de Paris de 1763 passavam a ser controladas pelos britânicos.
Por essa razão era vital para defender seus interesses no Mediterrâneo, já que a potência francesa estava ameaçada por Espanha (que controlava também o Reino das Duas Sicílias), pela crescente presença britânica, com interesse em estender o seu protetorado à Córsega e pela extensão do domínio austríaco na Península italiana, com a incorporação da sua esfera de influência na Toscana ( onde se tinha extinguido a dinastia Médicis e tinha sido substituída pela dinastia Hasburgo-Lorena, enquanto a região de Lorena se incorporava ao reino da França).
Marcada a Córsega como bem estratégico de importância para a política mediterrânea francesa, Choiseul aperfeiçoou e desenvolveu o projeto de se apoderar da ilha a expensas dos genoveses, aparentando uma aliança.
A primeira fase da operação consistiu em forçar Génova a assinar o Tratado de Compiègne em 1764, que estabelecia o envio de tropas francesas a Córsega para apoiar a reconquista da ilha por parte de Gênova, que era quem assumia os gastos de financiamento da operação. Uma vez que o exército francês se apoderou das cidades costeiras da ilha, Choiseul, em lugar de atacar decididamente Paoli, decidiu parlamentar com o General dos Corsos, por intermédio de seu emissário Matteo Buttafuoco, um exilado corso que servia como oficial de Luis XV. Paoli resistiu e recusou inclusive as honras que lhe ofereceram sobre seu possível futuro papel numa futura administração francesa da ilha.
Durante esse tempo, as tropas do rei da França, mantinham o poder e permaneciam seguras nas fortalezas genovesas, aumentando assim muito a fatura que Gênova devia pagar pela sua presença segundo o Tratado de Compiègne, até forçar a insolvência por falta de recursos dos genoveses.
Esta situação sem saída prolongou-se assim até o 15 de maio de 1768, momento no que Choiseul culminou seu plano, forçando a Gênova a assinar o Tratado de Versalles, em que Gênova vendia a França o território. As condições desta venda, que acentuou o desprezo dos corsos por Gênova, foram enviadas a Paoli, para que se submetesse formalmente ao rei da França.
Paoli respondeu mobilizando a toda a população para resistir, com as armas na mão, aos franceses. Enquanto os genoveses deixavam definitivamente a ilha, o governo francês iniciou rapidamente uma campanha militar.
Num primeiro momento as tropas do marquês de Chauvelin sofreram uma dura derrota em Borgo em outubro de 1768. Paoli, tratando de ganhar o respeito da França, em vez de massacrar estas tropas, libertou aos numerosos prisioneiros franceses capturados. França respondeu com o envio à Córsega, a mais tropas com forte apoio de artilharia às ordens do marquês de Vaux. A busca desesperada de ajuda internacional por parte de Paoli não deu resultado e a campanha militar francesa acelerou em princípios de maio de 1769, apontando diretamente para o quartel geral corso em Murato. Para tratvar este ataque, Paoli utilizou todas as forças das que dispunha, incluindo um contingente de infantaria mercenária alemã.
A batalha decisiva desenvolveu-se o 9 de maio de 1769 em Ponte Nuovo sul Golo, onde as milícias corsas foram derrotadas pelas forças francesas, com superior capacidade artilheira e apoiadas por destacamentos de corsos a salário dos notáveis rivais de Paoli, que se tinham passado para o lado dos futuros donos da ilha. Apesar da derrota, os corsos, obtiveram a admiração de toda Europa pelo valor demonstrado na batalha, especialmente entre os intelectuais ilustrados que viam neles o primeiro desafio aberto ao Ancien Régime. Voltaire escreverá a respeito desta batalha, destacando o valor dos corsos que defenderam a ponte, pondo-os como exemplo de heroica reivindicação da liberdade.
A Revolução francesa e o regresso de Pasquale Paoli Tudo isto manteve viva, também entre os dirigentes ainda que nunca se expressasse abertamente, a nostalgia pelo regime de Paoli e uma particular aversão para o poder instaurado pelo rei da França.
Não é por tanto de estranhar que na Córsega se via mais claramente que em outras regiões a crise do Ancien Régime, e esta se encontrasse entre as regiões que aderiram à Revolução francesa.
Os corsos apresentaram seus próprios Cahiers de Doléances em 1789, tanto mais quanto que grande parte de sua classe dirigente, além de ter dado vida ao regime democrático paolino, era muito culta, muito politizada frequentando as universidades italianas.
O entusiasmo suscitado pelo derrube do antigo regime absolutista (que se identificava com a ocupação francesa) e as grandes esperanças de liberdade que parecia impulsionar a Revolução, levaram a que um segundo plano fosse concebido pelos nacionalistas corsos, como sucederá mais tarde em Itália e outros lugares onde o exército francês "exportou" a Revolução.
Esta observação explica melhor a solicitação proposta pelo delegado corso Saliceti à Assembleia Nacional Francesa de alienar a ilha ao patrimônio real e ligá-la à Coroa francesa, passando a depender assim da nova Constituição.
A instância de Saliceti aprovou-se o 30 de novembro de 1789, incluindo uma amnistia para todos os paolistas, incluindo ao próprio Pasquale Paoli.
Durante esse tempo houve graves distúrbios na ilha e as tropas leais ao rei foram derrotadas.
Na primavera de 1790 Pasquale Paoli chegou a Paris, onde teve uma calorosa recepção de quem admirava os opositores do absolutismo, entre eles Maximiliano Robespierre.
Recebido por La Fayette e pelo rei, Paoli seguiu para Córsega, em onde foi acolhido triunfalmente, apesar de seus 21 anos de ausência, e eleito comandante da Guarda Nacional e Presidente do Directorio do Departamento francês no que se incluía a ilha.
Só dois anos antes, precisamente em Paris, Vittorio Alfieri tinha dedicado a Pasquale Paoli "Propugnator magnanimo de' Corsi" sua tragédia Timoleón. Nos anos seguintes aumentou a tensão na Córsega, já que os revolucionários se opunham os contra-revolucionarios, criando assim uma luta permanente, ainda que esta situação não produzisse combates sangrentos.
Deste período datam algumas cartas do jovem Napoleão Bonaparte, nas que expressava sua admiração por Paoli, e seu desprezo por aqueles cidadãos corsos que se opunham à Revolução Francesa.
Foi sob este clima, quando em França crescia o desencontro entre Girondinos e Jacobinos, que Pasquale Paoli, que tinha aceitado o projeto girondino de um federalismo republicano como quadro aceitável ao menos temporariamente para a sua Córsega, se lhes juntou.
A vitória jacobina e o início do Terror em 1793, com a execução de Luis XVI marcou a mudança de postura. Depois do falhanço de uma expedição liderada por Napoleão Bonaparte cujo objetivo era conquistar a Sardenha (recusada por Domenico Millelire), à que Paoli se tinha oposto, se formou um grupo de notáveis (em cuja primeira fila estavam Saliceti e os Buonaparte) que propunha a extensão do regime jacobino na ilha e se desejava libertar do já idoso Babbu (pai) da nação corsa. A Convenção emitiu um decreto de detenção em abril de 1793 contra Paoli por colaboração com o inimigo.
Língua corsa Língua corsa ou língua córsica (Corsu) é uma língua românica, falada na ilha de Córsega, (França), junto com o francês, que é a língua oficial. Um dialeto similar à língua corsa é falado em Gallura, Sardenha (Itália). Ela possui fortes similaridades com o italiano e em particular com dialetos da Toscana. De acordo com a classificação da UNESCO, a língua corsa está em perigo de extinção. Recentemente, vem sendo discutida uma proposta de proteção à língua, junto com uma maior autonomia da Córsega sob o domínio francês.
A língua tem vários dialetos incluindo o corso do norte, falado na área de Bastia e Corte, e o corso do sul, falado em Sartene e Porto-Vecchio. O dialeto de Ajaccio foi descrito como em transição. O dialeto falado em Calvi e Bonifacio são próximos ao dialeto de Gênova, conhecido como Língua liguriana. Na região sardenha de Gallura, incluindo a cidade de Tempio Pausania, e na ilha de La Maddalena o "Gallurês" é falado. Este é um dialeto transicional com muitas similaridades com o corso do sul. Na região sardenha de Sassari, incluindo a cidades de Porto Torres, Sorso, Stintino, Castelsardo, Tergu e Sedini o "Sassarês" é falado. Este é uma língua transicional com muitas similaridades com o sardo logudorês.
TURISMO
A capital da ilha, Ajaccio é também a maior cidade de Córsega. É um local mundialmente famoso por ser o berço de Napoleão. Apesar de ser considerada a maior cidade, Ajaccio conserva o ar provinciano; característica marcante de Córsega.
Na capital fica o Palácio de Bonaparte, o local mais visitado, por pessoas do mundo todo, principalmente no inverno. A casa onde Napoleão nasceu é a principal atração turística do local. Aliás, Napoleão será a figura mais vista na cidade; ele está em nome de ruas e estátuas espalhadas pela cidade. Já as belezas naturais de Córsega são abundantes, já que um terço do território é preservado e protegido como se fosse um parque nacional.
O parque foi fundado em 1972, e preserva toda a fauna e flora da região e ainda dá suporte para os 145 municípios que fazem parte do parque. Mas a principal atração mesmo da Ilha da Beleza são as caminhadas que podem ser feitas tranquilamente por lá, para que você possa observar a exuberante beleza natural de Córsega, além de sentir todo o clima provinciano de perto.
A GR 20 (Grand Randonnée, número 20) é a trilha mais extensa e famosa do mundo todo. Para quem preferir, também há montanhas diversas que atravessam a trilha. Para os mais aventureiros, o paraíso de Córsega chama-se Monte Cinto. É uma montanha com quase 3 mil metros de altura, sendo ele o ponto mais alto de Ajaccio para você desbravar. No inverno há neve no interior e o verão é intenso.
USUFRUIR CÓRSEGA, BELEZA INDOMÁVEL
O assalto aos sentidos começa mal se põe o pé em terra; misturados com a maresia chegam-nos perfumes resinosos de mato e flores açucaradas. Junto à costa, o mar é baixo e alterna azuis-turquesa com verdes-menta, debruados pela tira branca da areia.
O sol quente aviva as cores e faz apetecer passeios pela sombra e banhos de mar. Oliveiras e medronheiros cobrem as encostas de verdes secos e sombras apetecíveis. Generosamente, a Córsega oferece tudo isso e algo mais: montanhas nevadas por onde descem riachos gélidos, que nos fazem esquecer o Mediterrâneo. O seu interior é percorrido por estradinhas sinuosas e estreitas, que rodopiam entre florestas e cabeços rochosos, alguns encimados por taffoni, arcos de pedra perfurados pela erosão.
Vales glaciários abrem-se na rocha nua, com aglomerados de casas cinzentas e o inevitável campanário aguçado no centro, a marcar a presença humana: a aldeia de Zonza e seus monumentais pitões de granito cinzento, conhecidos por Agulhas de Bavella, são a imagem mais conhecida da montanha corsa. Vales como o de Asco ou Spelunca estão muito longe daquilo que as similares palavras portuguesas poderiam sugerir e, nas gargantas da Restonica, o percurso pedestre até aos lagos de Melo e Capitello é um encontro com a beleza selvagem da ilha, só comparável com a ascensão aos 2.706 metros do monte Cinto, o seu ponto mais alto.
Também na costa existem lugares notáveis pela sua beleza em estado puro: o balão azul-turquesa da baía de Rondinara e o Parque Natural de Scandola - este último considerado Património Mundial da Humanidade - possuem, como poucos, o encanto bravio da costa mediterrânica.
Não muito longe, ficam as Calanches de Piana, também protegidas pela UNESCO, que ninguém descreve melhor que Guy de Maupassant, em “Une Vie”: “(...) uma floresta, uma verdadeira floresta de granito púrpura.
Eram picos, colunas, pequenas torres de campanário, figuras surpreendentes, modeladas pelo tempo, o vento corrosivo e a bruma do mar. Altos até aos trezentos metros, finos, redondos, torcidos, recurvados, disformes, imprevistos, fantásticos, estes surpreendentes rochedos pareciam árvores, plantas, bichos, monumentos, homens, monges de hábito, diabos cornudos, pássaros desmesurados, todo um povo monstruoso, uma exibição de pesadelo petrificada pelo desejo de um qualquer deus extravagante ...”. E ali ao pé fica o golfo azul de Porto, onde as calanche se reflectem, varridas ferozmente pela tramuntana e pelo libeccio. A prodigalidade da natureza não se fica pelo relevo: a vegetação da ilha é constituída por cerca de duas mil espécies, das quais quase oitenta são endémicas; da fauna também faz parte uma vintena de mamíferos selvagens, entre os quais o muflão (u muvrone), que se tornou o emblema da montanha corsa, altiva e rebelde.
Claro que quem percorre as florestas interiores, a pé ou de automóvel, encontra mais facilmente rebanhos de cabras e ovelhas ou varas de porcos, numa vagabundagem inédita nestes tempos de CEE. De vez em quando pára um carro, e aparece alguém com milho para distribuir; é que, embora não pareça, os animais têm dono, mas aqui acredita-se seriamente nas vantagens desta criação assilvestrada, que permite o cruzamento com javalis e uma alimentação mais natural. São famosos os enchidos de javali, mas nada chega à excelência do brocciu, aquele queijo de ovelha ou cabra de perfume explosivo (quem não leu “Astérix na Córsega”?), ou às magníficas castanhas, que invadiram o gosto da cerveja e dos crepes; ao mel silvestre, ou ao azeite. Bela e farta, a ilha incita aos prazeres da mesa e ao lazer. Habitada desde há muito, ao percorrê-la, espanta a ausência de gente. Metade dos seus cerca de duzentos e cinquenta mil habitantes vivem em Ajaccio e Bastia. No interior, as povoações têm um aspecto austero e quase abandonado, mas cada capu (monte) ou lavu (lago) tem o seu nome próprio. Na costa, o turismo instalou-se como primeira fonte de rendimento e sobram as marinas, hotéis, aldeamentos, e cafés mundanos. Mas também na arquitectura a Córsega misturou estilos, filtrou e criou um estilo “corso” com referências históricas incontornáveis.
ILHA DE FORTES E TORRES NO MEDITERRÂNEO
O símbolo presente nos folhetos e cartazes turísticos, por exemplo, são as famosas - e abundantes - torres genovesas, que parecem o modelo original da Torre do Jogo de Xadrez.
Foram construídas durante o domínio de Génova, com funções de vigilância permanente da costa: os Turchi, piratas vindos da África do Norte, eram um perigo real para os habitantes. Destruíam culturas e aldeias inteiras, e faziam escravos todos os que apanhassem; chegaram a contar-se uns seis mil corsos cativos em Argel, só no ano de 1560.
Com uma altura média de quinze metros, as torres permitiam avisar as populações através de fogos ateados no cimo, em caso de aproximação de barcos desconhecidos. A abundância de fortes - os de Calvi e Bonifácio são os mais espectaculares - prende-se com esta necessidade perpétua de defender a ilha da fácil abordagem, não só de piratas, mas da cobiça das várias potências marítimas. Como todas as ilhas do Mediterrâneo, a Córsega também andou de mão em mão, pertencendo ao reino de Pisa (1077 - 1284) e ao de Génova (1284 - 1768), antes de ser vendida à França pela última.
Das torres genovesas restam cerca de oitenta e cinco, umas restauradas e outras em ruínas; muitas mais que as pequenas pontes de pedra, de arco único e “bossa” no meio, que datam da mesma época - um dos exemplares mais bem conservados atravessa as gargantas de Spelunca, junto a Ota. Bem cuidadas estão as igrejas em estilo “românico pisano”, como as de Aregno ou de San Michele de Murato, edifícios bicolores decorados com figuras geométricas, imagens de animais e personagens simbólicas deliciosamente naifs.
É dividida em dois departamentos, Alta Córsega e Córsega do Sul.
Separada da Sardenha por um curto trecho do Estreito de Bonifacio, emerge como uma enorme cadeia de montanhas rica em florestas do Mar Mediterrâneo, marcando a fronteira entre a parte ocidental do Mar Tirreno e o Mar Lígure. É universalmente conhecida como o berço de Napoleão (nascido em 1769 em Ajaccio, um ano após a ilha ser ocupada pelo Reino da França). A capital e maior cidade é Ajaccio que é também capital da Córsega do Sul, enquanto Bastia, a segunda maior cidade, é a capital da Alta Córsega.
Outras localidades importantes são Porto-Vecchio, Borgo, Corte e Calvi. Seu ponto mais alto é o Monte Cinto, com 2.706 metros de altura. Com cerca de um terço do seu território protegido como parque nacional, e muito do belo litoral continua imune do cimento que mudou grande parte da costa mediterrânica, a Córsega, quase despovoada (31 habitantes/km²), tem como base da sua economia o turismo, que pode praticamente duplicar a sua população no verão. A relação não resolvida entre a Córsega e a França, que a governou por 240 anos, manifesta-se não só a partir do apego de seu povo para as suas tradições e sua língua (u Corsu, como "linguagem poderosa", indicadores estatísticos revelam que a crise económica e social ( última região do país ), e seus fortes impulsos de autonomia e independência, colidem com a Constituição francesa.
GEOGRAFIA
Com 8.681 km² de área, a Córsega surge no mar Mediterrâneo logo ao norte da Sardenha. De forma alongada nos meridianos, mede 183 km de Cabo Corso (Norte) até Capo Pertusato (Sul), enquanto a largura máxima é de 83 km.
AJACCIO |
O perímetro é de mais de 1.000 quilometros, dos quais 300 constituídos por mais de 200 praias e o território é muito montanhoso, com o Monte Cinto sendo o pico mais alto com 2.706 metros e outros 20 picos com mais de 2.000 metros de altitude.
HISTÓRIA (alguma)
Na história da Córsega a geografia e orografia tiveram consequências maiores que em outros lugares. A grande ilha mediterrânea é uma autêntica "montanha no meio do mar", atravessada de noroeste à sudeste, por um formidável relevo cujas montanhas superam por vezes os 2.500 metros de altitude.
O ponto mais alto da ilha alcança os 2.706 metros no Monte Cinto, cujo pico (quase sempre com neve também no verão) dista somente 28 km do mar ao oeste, mostrando o maior desenvolvimento vertical do que horizontal dessa terra. Este relevo sempre dividiu a Córsega em duas partes: a do nordeste (hoje chamada de Alta Córsega), chamada historicamente de "Banda de dentro" pois se encontra antes das montanhas (tendo como referência a Itália) ou Cismonte, e a parte do sudoeste (hoje chamada de Corse-du-Sud), chamada historicamente de "Banda de fora", além das montanhas ou Pumonte.
BANDEIRA |
Os vilarejos que atravessam as montanhas (muitos localizados acima dos 1.000 metros de altitude) no inverno ficavam sem ligações com o resto da ilha por conta de nevões (podendo durar até semanas). Isto causava (junto com as montanhas) mais uma barreira do que uma ligação entre as duas regiões.
Além disto, os íngremes vales eram por muitas vezes sem estradas de ligação com outros vales dentro da própria Banda, o que deixava o interior corso ter pouca influência com o resto do mundo.
Se por um lado estas características do terreno deixaram mais difícil o trabalho dos invasores, deixando lenta a penetração e acostumando os corsos a fazer pequenas guerrilhas para resistir por séculos, por outro lado contribuíram a deixar sempre baixa a densidade de população e a separar os corsos entre eles.
A Banda virada para a península itálica sofreu uma maior influência da Itália, quer no plano político-social, quer no linguístico, enquanto a parte sudoeste manteve uma originalidade maior (mas tendo um menor progresso político, pelo menos até a invasão francesa).
Enquanto as áreas de montanhas tinham uma maior tendência a conservar as tradições locais, as cidades costeiras foram fundadas por invasores. Isso acabou criando um anarquismo nas aldeias e empurrando a população do interior a fazer justiça com as próprias mãos, e a difundir o fenômeno do banditismo.
BASTIA |
A grande divisão orográfica acabou por criar na ilha fronteiras sociais, linguísticas e de ideais políticos. Tais fronteiras ao longo da história, mesmo com poucas variações, acabaram criando as atuais subdivisões administrativas, que permanecem até hoje. A grandes dimensões da ilha (quase 8800 km ²) mesmo não garantindo autonomia, foi suficiente para criar um desejo de independência nos corsos.
Localizada numa posição estratégica no Mediterrâneo, a Córsega acabou atraindo o interesse em outros povos que aos poucos chegariam à ilha como comerciantes ou como conquistadores.
Os fenícios, gregos, romanos, vândalos, bizantinos, pisanos, aragoneses, genoveses e, por fim, os franceses (que com o Tratado de Versalhes de 1768 obrigaram os genoveses a ceder a ilha, e depois a invadiram), foram os dominadores da ilha, deixando ao povo local poucos períodos de autonomia e independência.
OS PRIMEIROS HABITANTES
Devido às glaciações o nível médio do Mediterrâneo baixou e criaram-se diversas pontes naturais que permitiram a passagem da fauna (e talvez do homem) da península Itálica ao arquipélago sardo-corso, passando pelas ilhas toscanas e atravessando um pequeno trecho de mar.
Entre 12 e 14 mil anos atrás, o clima começou a sua evolução e levou o Mediterrâneo à sua forma atual, e a Córsega assumiu o aspecto atual insular.
PORTO-VECHIO |
Remontam a cerca de 9000 anos a.C. as primeiras localidades paleolíticas de pedras e esboços de escultura achadas na Córsega, na região de Porto-Vecchio.
Um esqueleto feminino (a dame de Bonifacio) datado do VII milênio a.C. foi achado perto da cidade homônima. O neolítico se concluiu por volta de 1800 a.C. na Córsega. Neste período se desenvolveu uma civilização megalítica da que ficam menhires.
A localidade de Filitosa é reconhecida pela UNESCO como patrimônio mundial, encontra-se perto de Sollacaro, próximo à foz do rio Taravo. Sempre no sul, desenvolveu-se com a chegada da Idade do Bronze, a civilização Torreana, ligada com a Nurágica na ilha vizinha, a Sardenha.
Desta cultura restam numerosas torres com estrutura parecida com as dos nuragues sardos, ainda que menos imponentes. Pela natureza dos achados, da época e da localização destas, acredita-se que tal civilização seria da extensão da desenvolvida na Sardenha.
FILITOSA |
Melhor organizados e armados, os Torreanos (que alguns acreditam ser o antigo povo do mar dos Shardana) ganham dos megalíticos e mandam estes para o centro e o norte da ilha. Na mesma localidade de Filitosa restam os traços da destruição cruel do assentamento precedente e um assentamento Torreano no lugar deste.
Na Idade do Ferro parece que aconteceu uma progressiva fusão entre os herdeiros das duas civilizações: começa a nascer o povo que os Gregos chamarão de Κὁρυιοι, corsos. Também são achadas algumas inscrições fenícias do século IX a.C. que citam o povo do mar chamado KRSYM, assentado em Kition (Chipre).
Sete séculos da Córsega romana
Lúcio Cornélio Cipião ocupa a Córsega em 259 a.C., durante a Primeira Guerra Púnica, dando início a uma dominação que durou cerca sete séculos. Após uma série de acontecimentos internos, como a tentativa dos Romanos de ocupar a Sardenha a partir da Córsega e depois se confrontar com os corsos, a definitiva expulsão das últimas forças púnicas termina em 227 a.C..
Lúcio Cornélio Cipião ocupa a Córsega em 259 a.C., durante a Primeira Guerra Púnica, dando início a uma dominação que durou cerca sete séculos. Após uma série de acontecimentos internos, como a tentativa dos Romanos de ocupar a Sardenha a partir da Córsega e depois se confrontar com os corsos, a definitiva expulsão das últimas forças púnicas termina em 227 a.C..
Inicialmente os Romanos se limitaram em controlar a ilha sem planejar uma colonização. Caio Mário funda a cidade de Mariana (Colonia Mariana a Caio Mario deducta, localizada na atual comuna de Lucciana) perto da foz do Golo em 105 a.C.. Deste momento em diante começa a colonização propriamente dita na ilha e florescem vilas rústicas e suburbanas, vilarejos de todo tipo, incluídas as termas de Orezza e Guagno. Em 81 a.C. são os legionários de Sula a encontrar na Córsega um lugar para se aposentar, seguidos pelos veteranos de Júlio César.
A dominação romana desenvolve-se sem grandes confrontos e, ao contrário do que aconteceu noutras províncias (a Córsega é administrativamente associada à Sardenha com reforma de Otaviano de 4 a.C.), os Romanos ganham respeito e colaboração dos chefes indígenas (a começar pelos Venacinos, tribo local de Capo Corso), reconhecendo-lhes as funções de governo local e gerando riqueza aproveitando as terras aproveitáveis das colinas e ao longo das costas.
No ano de 44 a.C. Diodoro da Sicília visita a Córsega e nota que os corsos entre eles respeitam regras de justiça e humanidade mais evoluídas que aquelas de outros povos bárbaros, estima o número populacional em cerca de 30 000 e refere que estes se dedicam a pastorear, e que marcam os gados soltos livres no pasto. Sêneca passa dez anos no exílio na Córsega desde 41.
Em Aleria e Mariana são preparadas bases secundárias da frota imperial de Miseno. Os marinheiros corsos alistados nos portos da ilha foram os primeiros a ter a cidadania romana (com Vespasiano em 75). À época Antonina são aperfeiçoadas as vias de comunicação interna (estrada Aleria-Aiacium e, na costa leste, Aleria-Mantinum - depois Bastia - ao norte Aleria-Marianum - depois Bonifácio - e ao sul): a ilha fica quase completamente latinizada, exceto alguns enclaves nas montanhas.
Parece confirmado que a ilha foi colonizada pelos romanos, sobretudo através das distribuições de terras aos veteranos provenientes da Itália meridional - ou a soldados provenientes dos mesmos estratos sociais e étnicos os quais foram também dadas terras em particular na Sicília -, o que ajudaria a explicar algumas afinidades linguísticas existentes ainda na atualidade entre o corso meridional e os dialetos da Sicília e da Calábria.
Segundo outras hipóteses mais recentes, estas influências linguísticas poderiam ter acontecido por migrações mais tardias, de refugiados da África entre o século VII e o século VIII. Em 150, o geógrafo Ptolomeu em sua obra cartográfica fez uma descrição apurada da Córsega pré-romana, listando oito rios principais (entre os quais o Govola-Golo e o Rhotamus-Tavignano), 32 centros habitados e portos - entre os quais Centurinon (Centuri), Canelate (Punta di Canelle), Clunion (Meria), Marianon (Bonnifacio), Portus Syracusanus (Porto Vecchio), Alista (Santa Lucia di Porto Vecchio), Philonios (Favone), Mariana, Aleria -, e doze tribos autóctones (em grego, latim e a sua localização). Santa Devota é, junto com Santa Júlia, uma das primeiras santas corsas que se tem notícia.
MARIANA |
É padroeira do Principado de Mônaco. Santa Júlia é padroeira da Córsega e de Bréscia, onde descansa, que foi transportada por Ansa, mulher do rei longobardo Desidério em 762. Santa Júlia é também padroeira de Livorno. Como nos outros lugares no ocidente, a organização romana na Córsega caiu com a invasão dos vândalos que no século V, partindo da África, chegam a Roma. Aleria foi saqueada e, abandonada, termina em ruínas. Mariana foi sede episcopal na Idade Média.
A alta idade média
Durante as convulsões que acompanharam o fim do Império Romano do Ocidente, a Córsega foi disputada entre Vândalos e Godos, aliados dos últimos imperadores romanos, até que Genserico assegurou o controle em 469. Durante os 65 anos de dominação, os vândalos desfrutaram do patrimônio florestal da ilha para os estaleiros, e tiveram uma frota que aterrorizou o Mediterrâneo ocidental.
GENSERICO |
A potência vândala na África foi destruída por Belisário, enquanto seu general Cirilo conquista a Córsega em 534, que foi unida ao Império Romano do Oriente. Segundo Procópio, na Córsega restavam menos de 30 000 habitantes. No período sucessivo, Godos e Longobardos saqueiam a ilha, deixada indefesa pelos Bizantinos, os quais após empobrecerem a ilha devido a um excessivo peso fiscal, não a tinham protegido devidamente.
Por outro lado, os próprios Bizantinos tiveram problemas na África com a invasão árabe e, em 713, os árabes realizam as primeiras incursões contra a Córsega. Naquela altura aconteceu um notável processo de despovoamento da ilha e a formação, perto de Roma, de uma colônia corsa em Porto (Óstia).
A Córsega continua ligada nominalmente ao Império romano do oriente até que, em 774, Carlos Magno vence os Longobardos na Itália e conquista a ilha, que passa assim sob a jurisdição dos Francos. Porém, em 806 há novas incursões de Mouros, desta vez provenientes da Península Ibérica; mesmo vencidos várias vezes por tropas de Carlos Magno, estes conseguem a tomar o controle por breve tempo em 810. Foram enfim expulsos por uma expedição guiada pelo filho de Carlos Magno, porém os Mouros não se dão por vencidos e continuam a fazer incursões na ilha.
CARLOS MAGNO |
Para tentar acabar com esta situação, em 828 a defesa da ilha foi entregue ao papa Bonifácio II, que conduziu expedições punitivas contra os portos norte-africanos de onde saíram incursões árabes contra o litoral do Mar Tirreno; na via de volta Bonifácio construiu uma fortaleza perto da ponta sul da Córsega, fundando o núcleo fortificado da cidade de Bonifácio.
A guerra contra os Sarracenos, que voltaram bem cedo a fazer ataques, foi continuada pelo filho de Bonifácio, Adalberto, que herdou o compromisso em 846. Todavia os Sarracenos permaneceram donos de algumas bases na ilha pelo menos até 930. A Córsega, que nesta altura era unida ao reino de Berengário II, rei da Itália, virou refúgio de seu filho Adalberto em 962, depois que Berengário perdeu o reino para Otão I o grande.
Adalberto conseguiu manter o controle da Córsega e passou-a para o seu filho homônimo, o qual todavia foi vencido pelas forças de Otão II. Determinou-se então a entrega da ilha à Marca da Toscana, ficando o último Adalberto responsável pela Córsega
Terra de Comuns e Terra dos Senhores
Nesta época surgiu uma anarquia feudal que viu explodir uma luta entre pequenos senhores locais ansiosos de expandir seus pequenos domínios. OTÃO SUBMETE BERENGÁRIO |
Entre estes aparecem os Condes de Cinarca, que se pretendem descendentes diretos de Adalberto e procuram expandir o domínio à ilha inteira. Tal vontade deu origem a batalhas que duraram por séculos: para pôr contraste às ambições dos feudatários, ainda no século XIV Sambuccio d'Alando se colocou à frente de uma Dieta que se opôs às pretensões deles, confinando os senhores na porção Sudoeste da ilha.
Esta receberá o nome de "Terra dos Senhores" (Pomonte) enquanto no restante da ilha se afirma definitivamente um regime que liga entre eles comuns autônomos (ao exemplo do modelo análogo que se aconteceu na Itália desde o século XI). Tal território receberá o nome de "Terra de Comuns" (Cismonte).
A divisão durará até ao século XVIII e marcará significativas diferenças no desenvolvimento social, económico e até linguístico entre as duas partes da ilha, com o norte mais ligado à Itália e com uma língua mais parecida com a da Toscana.
Do ponto de vista de organização, na Terra de Comuns, cada qual dos comuns mais importantes chefiando uma Piave (a paróquia principal) nomeavam (através de sufrágio universal, incluindo as mulheres) os representantes chamados "Pais dos comuns", responsáveis pela administração da justiça e da eleição dos presidentes deles, chamado ‘‘podestà’’, que coordenava a operação.
Os ‘‘podestà’’s das várias Piaves, por sua vez, escolhiam os membros de um conselho superior, chamado "Conselho dos Doze", responsável das leis e regulamentos estabelecidos na Terra de Comuns. Os " Pais dos comuns", além disso, elegiam para cada Piave um "Chefe", um magistrado responsável pela proteção e pela segurança da população, encarregado de garantir que os mais desfavorecidos não fossem explorados e que fosse mantida justiça para eles. Grande parte das terras dessa região eram consideradas de propriedade da coletividade comunal.
A total abolição das propriedades comuns, promovida na segunda metade do século XIX pela França, trouxe consequências graves para a economia da Córsega. Em Cinarca (Terra dos Senhores), os barões feudais mantinham as suas prerrogativas, assim como aqueles que controlavam o Capo Corso, e juntos constituíam uma ameaça para o sistema em vigor na "Terra de Comuns".
Para fazer frente, em 1020 os magistrados desta última pediram ajuda de Guglielmo Marquês de Massa (da família Malaspina), o qual, descendo na ilha, reduziu a ordem dos barões do Conde de Cinarca e estabeleceu na Córsega um próprio protetorado, para transmitir depois ao próprio filho.
Por volta da metade do século XI, todavia, o Papado levantou,na base de documentos falsificados (uma doação por obra de Carlos Magno, o qual havia estabelecido ama reversibilidade do próprio domínio a favor da Santa Sede), a questão da própria soberania na Córsega. Tal reivindicação achou grande consentimento na ilha, a começar pelo seu clero, e em 1077 os corsos se declararam súbditos de Roma.
O domínio pisano
O papa Gregório VII (1073-1085), em auge da questão das investiduras com o Imperador Henrique IV, não tomou diretamente o controle da ilha, mas passou ao bispo de Pisa, Landolfo, que o encarregou de legado pontifício pela Córsega. Em seguida, o titular da cátedra arcebispal pisana passou a ser também Primado da Córsega (e da Sardenha). Catorze anos depois, o Papa Urbano II (1088-1099) confirmou as concessões do seu predecessor através da bula Nos igitur. O título de legado pontifício passou então a Daiberto, instalado na cátedra de Landolfo. O acordo como sufragâneos dos bispados corsos fez com que o bispo de Pisa assumisse o título de arcebispo.
Pisa, com o seu porto, manteve durante séculos (desde a época romana) estreitos ligações com a ilha, expandindo ao mesmo tempo que a própria potência marítima crescia - a própria influência política, cultural e econômica.
Durante a administração episcopal seguiu inevitavelmente a autoridade política dos Juízes (magistrados administrativos) da República toscana, destinada em breve tempo a fazer reflorescer a Córsega e marcar profundamente, também depois da substancial perda de controle da ilha em seguida a desastrosa derrota sofrida pelos pisanos nas mãos dos genoveses, na batalha da Meloria em (1284).
Apesar de na atualidade em geral se julgue positivamente o governo da República de Pisa, não faltaram na Córsega motivos de descontentamento. Parte do clero e dos bispos da ilha não suportava a submissão ao arcebispo de Pisa, ao mesmo tempo que o poder crescente da República de Genova, rival tradicional de Pisa, sabendo do valor estratégico da Córsega, apoiou às reclamações dos corsos no tribunal papal de Roma para obter a ilha em próprio favor.
Deste modo, depois de um período durante o qual o papado não adotou uma posição clara, em 1138 Papa Inocêncio II estabeleceu uma solução de compromisso e dividiu a jurisdição eclesiástica da ilha entre os arcebispos de Pisa e de Gênova, assinando o começo da influência lígure na Córsega, sendo ainda mais forte depois de 1195 com a ocupação genovesa de Bonifácio.
Os pisanos tentaram por vinte anos, sem sucesso, de recapturar a cidade, até que em 1217 o Papa Honório III tomou o controle da ilha. Porém, a mediação papal não serviu para cessar a briga entre Pisa e Gênova, e com a influência deles, fez repercutir durante todo o século XIII também na ilha a briga entre güelfos e gibelinos que estava acontecendo em toda a Itália.
No ambiente desta luta (e seguindo um esboço que já tinha acontecido e que se repetiria muitas vezes mais tarde favorecendo os domínios), os maiorais da Terra de Comuns invocaram a intervenção do marquês Isnardo Malaspina.
BRASÃO DOS MALASPINA |
Os pisanos reagiram estabelecendo um novo conte de Cinarca, e a guerra assolou a ilha sem que nem o partido genovês nem o pisano puderam ser impostos definitivamente até a batalha de Meloria 1284, inclinado a balança a favor de Genova que, a partir daquele momento, estendeu a sua influência na Córsega.
O senhorio do Banco de San Giorgio e de Gênova
1447 pode considerar-se num ano crucial para o controle genovês da Córsega. Neste ano acede à cadeira papal Nicolau V, natural de Sarzana, na região lígure, e por isso ligado à República de Gênova. De modo imediato fez valer os direitos papais sobre a ilha (cujas principais praças estavam sob controle das tropas pontificias) e cedeu-os a Gênova.
Assim passou-se a um período em que a ilha passa a estar controlada amplamente pela República genovesa excetuando Cinarca, sob controle nominal dos aragoneses mediante o domínio mais concreto dos Senhores locais, e da Terra de Comunas, que mediante uma assembleia de seus chefes, em 1453 decidiu oferecer o governo de toda a ilha ao Banco de San Giorgio, a potente companhia comercial e financeira estabelecida em Gênova em 1407, que o aceita.
Uma vez expulsos os aragoneses (de cujo passo pela Córsega ficará o emblema da Cabeça Moura), o Banco de San Giorgio começou uma autêntica guerra de extermínio contra os Barões insulares, cuja resistência organizada termina em 1460, quando os líderes são detidos e mandados ao exílio na Toscana. Ainda teriam de decorrer dois anos de lutas para conseguir submeter por completo a ilha, até 1462, em que o capitão genovês Tommasino da Campofregoso, de mãe corsa, fez valer com sucesso seus direitos familiares para reafirmar o controle total da República também no interior da ilha.
PALÁCIO DOS SFORZA |
Apenas dois anos depois, em 1464, Gênova, e com a Córsega, cai em mãos de Francisco I Sforza, duque de Milão. À sua morte, em 1466, a autoridade milanesa na ilha desvaneceu-se pelas habituais turbulências internas e, uma vez mais, apenas as cidades costeiras permaneceram de modo efetivo sob a tutela das potências continentais.
Em 1484 Tommasino da Campofregoso convenceu aos duques Sforza para que lhe confiassem o governo da ilha, conseguindo o controle das fortificações. Nesse tempo consegue consolidar o poder interno, aliando-se com Gian Paolo da Leca, o mais poderoso dos Barões insulares.
Três anos depois a situação voltava-se a mover. Um descendente dos Malaspina, que já tinham tido relação com Córsega no século XI, Jacopo IV de Appiano, príncipe de Piombino, foi chamado para que interviesse em favor daqueles que se opunham a Tommasino, e assim o irmão do príncipe, Gerardo conde de Montagnano, se proclamou conde da Córsega e, depois de desembarcar na ilha, se apoderou de Biguglia e de San Fiorenzo.
BIGUGLIA |
Mais que se opor a Gerardo, Tommasino restituiu discretamente as prerrogativas em favor do Banco de San Giorgio, que durante esse tempo refundou e fortificou Ajaccio (1492) perto do lugar da antiga Aiacium romana. A decisão de Tommasino foi criticada por outros membros de sua família e por Gian Paolo da Leca, com razão, já que em quanto o banco terminou com Gerardo, apontou suas armas contra os belicosos barões corsos, aos que não conseguiu submeter até 1511, e isto depois de longa e sangrenta luta.
Durante seu governo, o Banco de San Giorgio demonstrou escassa visão política, optando por uma busca do benefício mais imediato em lugar de uma estratégia de integração, e instaurando desse modo um regime colonial.
Aumentou-se o desenvolvimento dos bosques, mas os principais benefícios eram para o Banco, que impunha à ilha umas taxas de tal magnitude que de fato impedia qualquer possibilidade de desenvolvimento local.
Ao longo de toda a costa da ilha reconstruíram-se e em grande parte se construíram novas torres de vigilância e defesa (muitas delas ainda existem hoje em dia) para dispor de um sistema de alerta contra as incursões dos piratas berberiscos, unido às patrulhas marítimas.
Apesar de que não se eliminará do todo (permanecerá até o século XVIII), esta praga foi contida, ainda que mais para proteger os interesses econômicos coloniais que para brindar à proteção da população corsa, que seguirá sofrendo as sangrentas incursões dos piratas, virtualmente impunes quando actuavam nas zonas de costa, que o banco considerava sem interesse estratégico e econômico.
Em grande parte, as instituições locais (entre as que se distinguia por seu realmente avançado conceito político a organização da Terra de Comunas) foram abolidas ou esvaziadas de conteúdo e concorrências concretas. Os notáveis corsos nem sequer puderam gozar por completo dos direitos de cidadania, sem falar de aceder à oligarquia republicana genovesa, que por definição lhes estava fechada.
As tentativas de rebelião foram geralmente reprimidas com grande dureza, utilizando com frequência o recurso à pena de morte; ou alternativamente aplicando o princípio de "divide et impera", manejou habilmente (incitando-as quando era necessário) batalhas locais ou inícios de guerra civil, utilizando esses desencontros para debilitar as forças e o moral dos senhores da ilha e, portanto, prevenir contra alianças que pudessem ocasionar um levantamento geral.
MONTE ROTONDO |
Desenvolveu-se a cultura da vendetta e do banditismo, que cresceram ao invés de acabarem. Tudo isto enquanto em Europa, e especialmente na vizinha Itália peninsular, florescia o Renascimento. Às desgraças políticas uniram-se epidemias de peste e o encarecimento do custo da vida que serviram pára que o processo de empobrecimento e embarbaramento da ilha, além de exacerbar o ódio dos corsos para o domínio genovês.
A primeira conquista francesa e Sampiero Corso
Depois de assinar em 1553 um tratado de cooperação com o sultão otomano Solimão, o Magnífico, o rei da França garantiu-se não só a neutralidade, senão também a colaboração da frota turca no Mediterrâneo. Só 18 anos depois, em 1571, o avanço turco para Europa deter-se-á na batalha de Lepanto com uma frota multinacional, ainda que dirigida principalmente por Espanha e Veneza, e na que França não participa.
Depois de assinar em 1553 um tratado de cooperação com o sultão otomano Solimão, o Magnífico, o rei da França garantiu-se não só a neutralidade, senão também a colaboração da frota turca no Mediterrâneo. Só 18 anos depois, em 1571, o avanço turco para Europa deter-se-á na batalha de Lepanto com uma frota multinacional, ainda que dirigida principalmente por Espanha e Veneza, e na que França não participa.
Pouco depois da assinatura do tratado entre Francisco I da França e Solimão, a frota franco-turca apresentou-se ante a costa da ilha e atacou-a, sitiando ao mesmo tempo todas as fortalezas costeiras.
Bastia caiu quase sem lutar, enquanto Bonifacio resistiu muito tempo e só cedeu ante a promessa à guarnição de respeitar a vida dos sitiados, promessa que os turcos incumpriram, já que uma vez a cidadela se rendeu toda a guarnição foi massacrada e a cidade saqueada. Cedo caiu toda a ilha, salvo Calvi que seguiu resistindo.
CALVI |
Preocupado pela ação francesa, que abria decididamente as portas aos otomanos em pleno coração do Mediterrâneo ocidental, interveio o rei de Espanha e imperador de Alemanha, Carlos V, que a sua vez invadiu a ilha à cabeça de suas tropas e as de Gênova. Nos anos seguintes (os Turcos tinham desembarcado brevemente só em Bonifacio), alemães, espanhóis, genoveses, franceses e corsos lutaram ferozmente pelas fortalezas da ilha.
Em 1556 ocorre uma trégua, que deixa momentaneamente à França o controle de toda a ilha, salvo Bastia, que anteriormente tinha voltado a ser conquistada por genoveses e espanhóis.
O governo francês (mais moderado que o genovês) conseguiu simpatias entre a população, também graças à ação dos corsos ao serviço da França, entre os que estava, com o grau de coronel, o mercenário Sampiero di Bastelica. No entanto, em 1559, as conclusões da Paz de Cateau-Cambrésis dispuseram a restituição da Córsega ao Banco de San Giorgio.
BASTELICA |
Os responsáveis do banco procederam imediatamente a impor duros impostos para tratar de ressarcir-se dos gastos de guerra (impostos que grande parte dos corsos se negaram ou estiveram em medida de pagar) e, violando o tratado, que previa uma anistia general, procederam a confiscar todos os bens de Sampiero, de sua esposa Vannina d'Ornano, e de outros corsos que tinham servido ao lado da França. Sampiero, estabelecido em Provença, não se deu por vencido e começou a trabalhar para agrupar uma parte significativa dos notáveis da ilha enfrentando Gênova, enquanto paralelamente buscava apoios para seu projeto de separar a ilha da República de Gênova.
Dirigiu-se com esse objetivo a Catarina de Médicis, então rainha regente da França depois da morte de seu marido durante os festejos de celebração da Paz de Cateau-Cambrésis. No entanto, Catarina negou-se a apoiar Sampiero, não querendo estar implicada numa operação que reabrisse a longa guerra que acabara de terminar.
Não teve mais sorte uma tentativa nesse sentido com Cosme I de Médicis, que também queria apropriar-se da Córsega, mas pretendia fazê-lo mediante tratados com as potências europeias, já que sabia que Toscana não estava em condições de desafiar abertamente os genoveses.
Fracassada uma posterior tentativa de conseguir o apoio dos Farnésio de Parma, Sampiero, que tinha conseguido credenciais diplomáticas francesas, conseguiu ir pessoalmente ao Norte da África e a Constantinopla para suplicar ao Sultão que interviesse para converter a Córsega em província otomana, o que demonstra bem até que ponto Gênova era odiada entre os corsos agrupados ao redor do antigo coronel dos franceses.
A missão de Sampiero em Oriente terminou frustrada porque enquanto Cosme I, conhecedor dos projetos do corso para instalar à potência otomana justo em frente à costa toscanas, tinha advertido da iniciativa aos genoveses, cujos embaixadores se tinham adiantado a Sampiero e convencido os ministros turcos para que recusassem a proposta.
Enquanto Sampiero estava em Oriente, sua mulher, Vannina d'Ornano, dona de feudos confiscados por Gênova, tinha tratado de recuperá-los buscando pessoalmente um acordo com a Serenísima República de Gênova.
VANNINA |
Ao ficar a saber Sampiero destas gestões ao regressar à França, não hesitou em reagir ante o que considerava uma sangrenta traição, matando um amigo corso que tinha permanecido para cuidar a sua esposa e estrangulando pessoalmente sua esposa e às duas damas de companhia que a cuidavam em sua ausência.
Sampiero reivindicou os homicídios como delito de honra provocando deste modo a justiça francesa.
Levado por um grande entusiasmo e uma dose de desespero unida às suas vivências pessoais, desembarcou em julho de 1563 com um punhado de seguidores em Propriano, no golfo de Valinco, com o desejo de expulsar aos genoveses da ilha.
PROPRIANO |
Depois de anos de uma guerra caracterizada por uma extrema ferocidade de ambas as partes, por matanças, saques, incêndios de colheitas e de populações, os genoveses explodindo o ódio dos familiares de Vannina conseguiram recrutar entre eles sicários que, em 1567 mataram Sampiero pelas costas e levaram sua cabeça ao governador de Gênova.
O suposto nome do assassino de Sampiero, Vittolo passou assim a se converter em paradigma do traidor na fantasia corsa popular e ainda hoje guarda esse significado. A luta prosseguiu durante algum tempo encabeçada por um jovem filho de Sampiero, Afonso, mas os rebeldes corsos, sem a experiente liderança de Sampiero e sem recursos militares, se desanimaram e buscaram a paz, à que se chegou em 1569 com o pacto entre Afonso e o genovês Giorgio Doria.
O fim da Guarda Corsa papal em Roma
A longa história dos conflitos e violências que caracterizou a Córsega a partir ao menos da queda do Império Romano, tinha acostumado a seus habitantes a considerar a guerra algo habitual e tinha fato do oficio das armas um das principais atividades exercidas pelos corsos expatriados para os estados italianos (e em muita menor medida para França) desde a Idade Média até a Idade Moderna. Percorrendo atenciosamente a lista de nomes dos capitães mercenários italianos, pode-se observar que muitos deles eram originários da Córsega e que, em alguns casos, contavam com batalhões inteiros de corsos. Entre os destacamentos militares integrados em sua totalidade por corsos que operaram fora da ilha destaca a Guarda Corsa papal, que exerceu suas funções durante vários séculos.
Apesar da pouca fiabilidade dos documentos, normalmente data-se em 1378, coincidindo com o final do cativeiro de Avinhão, a fundação em Roma de um corpo militar composto exclusivamente por corsos com funções de Guarda Pontifícia e de milícia urbana.
FIUMICINO |
A Guarda Corsa que estará ao serviço do Papa durante quase três séculos e precederá em quase 130 anos à instituição em 1506 da Guarda Suíça. Seu final chega depois de um incidente ocorrido em Roma em 20 de agosto de 1662 e é um dos indícios de que os franceses têm a cada vez mais influência na Itália.
ALEXANDRE VII |
Em meados do século XVII a presença em Roma de numerosas delegações diplomáticas dos Estados tinha acabado por criar uma situação paradoxal, com respeito às potências maiores, que abusando do conceito de extraterritorialidade, tinham dotado suas embaixadas de autênticas guarnições militares (que se moviam armadas por toda a cidade) e levado à transformação de zonas inteiras do centro da cidade em zonas francas, onde os delinqüentes e assassinos de todo tipo encontravam refúgio e impunidade.
O Papa Alexandre VII tratou de remediar estes excessos. O rei da Espanha e os representantes do Império aceitaram reduzir suas milícias, mas o rei da França Luís XIV, em mudança, mandou a Roma o seu primo Carlos III, duque de Créqui, como embaixador extraordinário com uma escolta militar reforçada, que pouco tempo depois teve um grave confronto perto da Ponte Sixto com alguns membros da Guarda Corsa, que patrulhavam as ruas de Roma, especialmente grave porque, inclusive, os militares em serviço no quartel tentaram assaltar o vizinho Palácio Farnésio, sede da embaixada da França, exigindo a detenção dos militares franceses responsáveis do incidente.
SENHOR DE CRÉQUI |
Produziram-se disparos, no momento em que regressava ao Palácio Farnesio, a esposa do embaixador com numerosa escolta militar. Um pajem da senhora de Créqui foi ferido de morte e Luís XIV aproveitou-se para explorar ao máximo o conflito com a Santa Sé que se tinha iniciado com o governo do Cardeal Mazarino.
O Rei Sol retirou de Roma a seu embaixador, expulsou da França o embaixador do Papa, anexou os territórios pontifícios de Avinhão e ameaçou seriamente com a invasão de Roma se o Papa não lhe apresentasse desculpas e não se submetesse a suas petições, que compreendiam a imediata dissolução da Guarda Corsa, a emissão de um anátema contra seu país, o encarceramento como represália de um enorme número de militares e a condenação para as galés, a demissão do Governador de Roma e a construção de uma cerca ao quartel da Guarda uma infâmia e maldição para os corsos que se tinham atrevido a desafiar a autoridade francesa.
Num primeiro momento, o Papa opôs-se e tratou de ganhar tempo, mas a real possibilidade de uma intervenção do exército francês em Roma fez que cedesse. Dissolveu-se a Guarda Corsa para sempre e encarceraram-se alguns dos seus membros e desterrou-se de Roma o governador.
Em fevereiro de 1664 os franceses restituíram os territórios de Avinhão e em julho, em Fontainebleau, o sobrinho do papa, Flavio Chigi, foi obrigado a humilhar-se e a apresentar desculpas de Roma ao rei da França.. Ao longo das negociações Luis XIV tinha visto o modo de ampliar sua influência em Itália, convertendo-se em protetor de alguns príncipes italianos ao obrigar o Papa, sempre no contexto dos desagravos pelo assunto da Guarda, a devolver Castro e Ronciglione ao Duque de Parma e a indeminizar ao Duque de Modena por seus direitos sobre Comacchio.
Da revolta de 1729 ao rei Teodoro
Para compensar a diminuição de rendimentos devidos à proibição de levar armas (costume difundido pelo que se pagava uma taxa), em 1715 Gênova introduziu na Córsega a taxa geral dos due seini. Essa taxa fora temporária, mas tinha-se prorrogado várias vezes sem que a proibição de passear armados nem a introdução dos Pacieri (magistrados para mediar pacificamente nas vendettas) tivesse efeitos significativos.
Para compensar a diminuição de rendimentos devidos à proibição de levar armas (costume difundido pelo que se pagava uma taxa), em 1715 Gênova introduziu na Córsega a taxa geral dos due seini. Essa taxa fora temporária, mas tinha-se prorrogado várias vezes sem que a proibição de passear armados nem a introdução dos Pacieri (magistrados para mediar pacificamente nas vendettas) tivesse efeitos significativos.
Em 1729 falou-se de voltar a prorrogar os due seini por outros cinco anos, justo no momento no que as más colheitas dos últimos anos e o endividamento dos camponeses atingiam níveis catastróficos.
Por isso a visita dos arrecadadores dos due seini levada pelo lugarteniente de Corte em Pieve dei Bozio, fez saltar a faísca da insurreição no coração da Terra de Comunas que, social e civilmente era mais avançada que outras regiões que desde a Idade Média, estavam menos preparadas para suportar a crise econômica e a restrição de direitos.
Um destacamento de soldados Genoveses foi rodeado, desarmado, roubado e, praticamente nu, reenviado a Bastia, ao mesmo tempo que em toda a região soavam os sinos e nas montanhas o tradicional corno marinho dos pastores chamando à rebelião.
Castagniccia |
Assim surgiu uma revolta camponesa que, a princípios de 1730, descendo de Castagniccia e de Casinca, saqueou a planície de Bastia, afetando também à capital.
Gênova enviou à ilha como novo governador a Gerolamo Veneroso (que tinha sido Dogo entre 1726 e 1728) e este atingiu uma efêmera trégua, convidando às comunidades corsas a apresentar suas reivindicações. Em dezembro de 1730 os reunidos na Consulta (assembleia) de San Pancrazio tomam medidas relativas ao financiamento da insurreição e da constituição de milícias, dando coesão a um grupo dirigente em torno de alguns notáveis: Andrea Colonna Ceccaldi, Luigi Giafferi e o abate Raffaelli.
À revolta adere o baixo clero no que cedo se converterá em causa nacional. Em fevereiro do ano seguinte, 1731 uma Consulta geral em Cortes estabelece formalmente as reivindicações a exigir ao governo genovês, marcando uma fase em que os notáveis encabeçam a revolta se preocupam em a liderar.
Em abril os teólogos da ilha reúnem-se em Orezza, adotando uma atitude prudente, convidando à República a cumprir com seus deveres para evitar umas desordens contempladas com indulgência. O cônego Orticoni viaja como emissário de uma a outra corte em Europa, defendendo as razões de seu povo, especialmente ante a Santa Sé.
A revolta corsa torna-se cedo em assunto de interesse europeu e chama a atenção do embaixador francês em Gênova, que informa o governo.
A anarquia e as desordens voltam a ensanguentar a ilha: a colônia grega de Paomia é agredida e ameaçada com o extermínio, o que marca a extensão da rebelião, primeiro reduzida ao Cismonte, também ao Pumonte, enquanto se inicia o contrabando de armas especialmente desde Livorno, com ajuda dos corsos emigrados a Itália.
Alguns dos implicados, confiando como era costumes nos apoios externos, invocaram a ajuda de Felipe V da Espanha (quem prudentemente evitou entrar no conflito no que seu sobrinho, o rei da França Luís XV tinha interesses) e com este objetivo modificam a bandeira aragonesa com a Testa Mora: a venda que, no original, cobria os olhos da figura, se transforma numa fita na frente para justificar a divisa, "Agora Córsega abriu os olhos".
Em agosto de 1731 Gênova, uma vez interrompidas as hostilidades e incapaz de enfrentar sozinha a rebelião, obtém do Imperador Carlos VI (preocupado por uma possível intervenção de Felipe V, que lhe tinha privado do trono da Espanha, de que se dizia herdeiro, na Guerra de Sucessão da Espanha), o envio de uma expedição militar que desembarca na Córsega às ordens do barón alemão Wachtendonk para apoiar às forças do comissário extraordinário genovês, Camillo Doria.
Calenzana |
Depois de serem derrotados em Calenzana (em fevereiro de 1732), as tropas imperiais, melhor dotadas em artilharia e com 8.000 homens, impõem-se. Os cabeças da rebelião são desterrados e a arbitragem imperial garante, em janeiro de 1733, as graciosas concessões que o Minor Consiglio genovês aprova com o objetivo de desarmar as aspirações secessionistas e devolver a tranqüilidade à ilha.
Na realidade durante pouco tempo, já que no seguinte outono (1733) começa um novo foco rebelde em Castagniccia, desta vez dirigido diretamente por um notável originário de uma das melhores famílias que Gênova tinha pretendido que colaborasse com o governador, os Nobili Dodici.
Entre estes tinha sido elegido Giacinto Paoli, que se situa à frente da nova rebelião. A ilha volta a escapar-se ao controle genovês (excetuando as cidades da costa) e os rebeldes organizam-se com a ajuda a cada vez maior de seus compatriotas em Itália. Chega-se assim a 1735, quando uma nova Consulta geral celebrada em Corte elabora, sob a direção do advogado Sebastiano Costa (um corso que regressa de Itália para apoiar a insurreição) uma declaração constitucional que de fato constitui a Córsega como estado soberano. O texto antecipa a Constituição paolina de 1755 e chama a atenção de Montesquieu, que percebe que a partir desse momento encabeçam a revolução corsa homens inspirados pelos mais avançados conceitos jurídicos difundidos em Itália.
No mesmo contexto, Córsega põe-se sob a proteção da Virgem Maria e adota-se como hino nacional o canto sacro "Deu vi salvi Regina" composto no final do século anterior pelo jesuíta Francesco de Geronimo, originário da província de Taranto.
O Estado da Córsega concebido em Corte carece voluntariamente de soberano, com o objetivo mais ou menos manifesto (além de liberar-se da República lígure) de convidar a algum monarca reinante europeu a reclamar a Córsega. No entanto, apesar de que muitos deles quererem apoderar-se da ilha, o complexo equilíbrio atingido depois da Paz de Westfalia convida a todos à prudência e joga a favor de Gênova e da incrível aventura de um verdadeiro barão Teodoro de Neuhoff (1694-1756), um estranho aventureiro da pequena nobreza alemã originário de Colônia e que tinha passado pela França e Espanha antes de conseguir convencer à comunidade corsa de Livorno para que o apoiasse como candidato ao trono da Córsega.
Desse modo, depois de desembarcar em março de 1736 em Aleria com armas, cereais e ajudas em dinheiro, consegue com notória habilidade e eloquência ser acolhido por Giacinto Paoli, Sebastiano Costa e Luigi Giafferi, que dirigem a rebelião, como uma espécie de Deus ex machina e se faz proclamar rei da Córsega.
De natureza perspicaz, Teodoro demonstra compreender bem quais são as aspirações mais profundas dos notáveis da ilha e dá-se pressa em instaurar uma ordem da nobreza na Córsega, distribuindo com liberalidade títulos pomposos aos cabeças da insurreição. Apesar disto, cedo se desencadeiam disputas entre os novos nobres para tratar de monopolizar os títulos que pareciam mais sugestivos, demonstrando até que ponto as aspirações dos notáveis iam unidas a seu próprio progresso social que lhes negava constitucionalmente Gênova.
Ao mal-estar relacionado com as disputas sobre os títulos nobiliários, uniram-se cedo outros mais sérios relacionados com as vãs promessas de ajuda que Teodoro tinha usado para convencê-los de convertê-lo em rei.
Igreja de Aregno |
Demonstrando uma vez mais oportunismo e perspicácia, depois de sozinho oito meses de reinado, o efêmero soberano, menosprezado pelos genoveses, deixou Córsega em novembro de 1736 com a desculpa de reclamar as ajudas prometidas.
Também em 1736 aparece, publicado pelo abate corso Natali, o Desengano em torno da Revolução da Córsega, primeiro exemplo significativo do a florescente literatura apologética (escrita em italiano) que popularizará a luta pela independência dos corsos nos ambientes ilustrados de toda Europa. Teodoro voltará a aparecer na Córsega só dois anos mais tarde, para uma breve tentativa frustrada de restauração e outra vez em 1743, com apoio britânico, mas com igual resultado. A vida do rei da Córsega terminará na pobreza em Londres em 1756 e sua tragicômica história será objeto de curiosidade em toda Europa, até o ponto de ser protagonista da ópera "Il re Teodoro in Venezia) de Giovanni Paisiello, que tinha tomado a personagem do que esboçou Voltaire em seu Cándido.
A conquista francesa
Com a chegada do duque de Choiseul como ministro de Luis XV aceleraram-se as ambições já antigas da França sobre a Córsega. França tinha sofrido uma dura derrota na Guerra dos Sete Anos, e tinha perdido todas suas colônias de América, que com o Tratado de Paris de 1763 passavam a ser controladas pelos britânicos.
Duque de Choiseul |
Por essa razão era vital para defender seus interesses no Mediterrâneo, já que a potência francesa estava ameaçada por Espanha (que controlava também o Reino das Duas Sicílias), pela crescente presença britânica, com interesse em estender o seu protetorado à Córsega e pela extensão do domínio austríaco na Península italiana, com a incorporação da sua esfera de influência na Toscana ( onde se tinha extinguido a dinastia Médicis e tinha sido substituída pela dinastia Hasburgo-Lorena, enquanto a região de Lorena se incorporava ao reino da França).
Marcada a Córsega como bem estratégico de importância para a política mediterrânea francesa, Choiseul aperfeiçoou e desenvolveu o projeto de se apoderar da ilha a expensas dos genoveses, aparentando uma aliança.
A cidadela de Corte. |
A primeira fase da operação consistiu em forçar Génova a assinar o Tratado de Compiègne em 1764, que estabelecia o envio de tropas francesas a Córsega para apoiar a reconquista da ilha por parte de Gênova, que era quem assumia os gastos de financiamento da operação. Uma vez que o exército francês se apoderou das cidades costeiras da ilha, Choiseul, em lugar de atacar decididamente Paoli, decidiu parlamentar com o General dos Corsos, por intermédio de seu emissário Matteo Buttafuoco, um exilado corso que servia como oficial de Luis XV. Paoli resistiu e recusou inclusive as honras que lhe ofereceram sobre seu possível futuro papel numa futura administração francesa da ilha.
Durante esse tempo, as tropas do rei da França, mantinham o poder e permaneciam seguras nas fortalezas genovesas, aumentando assim muito a fatura que Gênova devia pagar pela sua presença segundo o Tratado de Compiègne, até forçar a insolvência por falta de recursos dos genoveses.
Esta situação sem saída prolongou-se assim até o 15 de maio de 1768, momento no que Choiseul culminou seu plano, forçando a Gênova a assinar o Tratado de Versalles, em que Gênova vendia a França o território. As condições desta venda, que acentuou o desprezo dos corsos por Gênova, foram enviadas a Paoli, para que se submetesse formalmente ao rei da França.
Paoli respondeu mobilizando a toda a população para resistir, com as armas na mão, aos franceses. Enquanto os genoveses deixavam definitivamente a ilha, o governo francês iniciou rapidamente uma campanha militar.
Num primeiro momento as tropas do marquês de Chauvelin sofreram uma dura derrota em Borgo em outubro de 1768. Paoli, tratando de ganhar o respeito da França, em vez de massacrar estas tropas, libertou aos numerosos prisioneiros franceses capturados. França respondeu com o envio à Córsega, a mais tropas com forte apoio de artilharia às ordens do marquês de Vaux. A busca desesperada de ajuda internacional por parte de Paoli não deu resultado e a campanha militar francesa acelerou em princípios de maio de 1769, apontando diretamente para o quartel geral corso em Murato. Para tratvar este ataque, Paoli utilizou todas as forças das que dispunha, incluindo um contingente de infantaria mercenária alemã.
A batalha decisiva desenvolveu-se o 9 de maio de 1769 em Ponte Nuovo sul Golo, onde as milícias corsas foram derrotadas pelas forças francesas, com superior capacidade artilheira e apoiadas por destacamentos de corsos a salário dos notáveis rivais de Paoli, que se tinham passado para o lado dos futuros donos da ilha. Apesar da derrota, os corsos, obtiveram a admiração de toda Europa pelo valor demonstrado na batalha, especialmente entre os intelectuais ilustrados que viam neles o primeiro desafio aberto ao Ancien Régime. Voltaire escreverá a respeito desta batalha, destacando o valor dos corsos que defenderam a ponte, pondo-os como exemplo de heroica reivindicação da liberdade.
A Revolução francesa e o regresso de Pasquale Paoli Tudo isto manteve viva, também entre os dirigentes ainda que nunca se expressasse abertamente, a nostalgia pelo regime de Paoli e uma particular aversão para o poder instaurado pelo rei da França.
Não é por tanto de estranhar que na Córsega se via mais claramente que em outras regiões a crise do Ancien Régime, e esta se encontrasse entre as regiões que aderiram à Revolução francesa.
Os corsos apresentaram seus próprios Cahiers de Doléances em 1789, tanto mais quanto que grande parte de sua classe dirigente, além de ter dado vida ao regime democrático paolino, era muito culta, muito politizada frequentando as universidades italianas.
O entusiasmo suscitado pelo derrube do antigo regime absolutista (que se identificava com a ocupação francesa) e as grandes esperanças de liberdade que parecia impulsionar a Revolução, levaram a que um segundo plano fosse concebido pelos nacionalistas corsos, como sucederá mais tarde em Itália e outros lugares onde o exército francês "exportou" a Revolução.
Esta observação explica melhor a solicitação proposta pelo delegado corso Saliceti à Assembleia Nacional Francesa de alienar a ilha ao patrimônio real e ligá-la à Coroa francesa, passando a depender assim da nova Constituição.
A instância de Saliceti aprovou-se o 30 de novembro de 1789, incluindo uma amnistia para todos os paolistas, incluindo ao próprio Pasquale Paoli.
Durante esse tempo houve graves distúrbios na ilha e as tropas leais ao rei foram derrotadas.
Na primavera de 1790 Pasquale Paoli chegou a Paris, onde teve uma calorosa recepção de quem admirava os opositores do absolutismo, entre eles Maximiliano Robespierre.
Recebido por La Fayette e pelo rei, Paoli seguiu para Córsega, em onde foi acolhido triunfalmente, apesar de seus 21 anos de ausência, e eleito comandante da Guarda Nacional e Presidente do Directorio do Departamento francês no que se incluía a ilha.
Só dois anos antes, precisamente em Paris, Vittorio Alfieri tinha dedicado a Pasquale Paoli "Propugnator magnanimo de' Corsi" sua tragédia Timoleón. Nos anos seguintes aumentou a tensão na Córsega, já que os revolucionários se opunham os contra-revolucionarios, criando assim uma luta permanente, ainda que esta situação não produzisse combates sangrentos.
Deste período datam algumas cartas do jovem Napoleão Bonaparte, nas que expressava sua admiração por Paoli, e seu desprezo por aqueles cidadãos corsos que se opunham à Revolução Francesa.
Foi sob este clima, quando em França crescia o desencontro entre Girondinos e Jacobinos, que Pasquale Paoli, que tinha aceitado o projeto girondino de um federalismo republicano como quadro aceitável ao menos temporariamente para a sua Córsega, se lhes juntou.
A vitória jacobina e o início do Terror em 1793, com a execução de Luis XVI marcou a mudança de postura. Depois do falhanço de uma expedição liderada por Napoleão Bonaparte cujo objetivo era conquistar a Sardenha (recusada por Domenico Millelire), à que Paoli se tinha oposto, se formou um grupo de notáveis (em cuja primeira fila estavam Saliceti e os Buonaparte) que propunha a extensão do regime jacobino na ilha e se desejava libertar do já idoso Babbu (pai) da nação corsa. A Convenção emitiu um decreto de detenção em abril de 1793 contra Paoli por colaboração com o inimigo.
Língua corsa Língua corsa ou língua córsica (Corsu) é uma língua românica, falada na ilha de Córsega, (França), junto com o francês, que é a língua oficial. Um dialeto similar à língua corsa é falado em Gallura, Sardenha (Itália). Ela possui fortes similaridades com o italiano e em particular com dialetos da Toscana. De acordo com a classificação da UNESCO, a língua corsa está em perigo de extinção. Recentemente, vem sendo discutida uma proposta de proteção à língua, junto com uma maior autonomia da Córsega sob o domínio francês.
A língua tem vários dialetos incluindo o corso do norte, falado na área de Bastia e Corte, e o corso do sul, falado em Sartene e Porto-Vecchio. O dialeto de Ajaccio foi descrito como em transição. O dialeto falado em Calvi e Bonifacio são próximos ao dialeto de Gênova, conhecido como Língua liguriana. Na região sardenha de Gallura, incluindo a cidade de Tempio Pausania, e na ilha de La Maddalena o "Gallurês" é falado. Este é um dialeto transicional com muitas similaridades com o corso do sul. Na região sardenha de Sassari, incluindo a cidades de Porto Torres, Sorso, Stintino, Castelsardo, Tergu e Sedini o "Sassarês" é falado. Este é uma língua transicional com muitas similaridades com o sardo logudorês.
TURISMO
A capital da ilha, Ajaccio é também a maior cidade de Córsega. É um local mundialmente famoso por ser o berço de Napoleão. Apesar de ser considerada a maior cidade, Ajaccio conserva o ar provinciano; característica marcante de Córsega.
Na capital fica o Palácio de Bonaparte, o local mais visitado, por pessoas do mundo todo, principalmente no inverno. A casa onde Napoleão nasceu é a principal atração turística do local. Aliás, Napoleão será a figura mais vista na cidade; ele está em nome de ruas e estátuas espalhadas pela cidade. Já as belezas naturais de Córsega são abundantes, já que um terço do território é preservado e protegido como se fosse um parque nacional.
O parque foi fundado em 1972, e preserva toda a fauna e flora da região e ainda dá suporte para os 145 municípios que fazem parte do parque. Mas a principal atração mesmo da Ilha da Beleza são as caminhadas que podem ser feitas tranquilamente por lá, para que você possa observar a exuberante beleza natural de Córsega, além de sentir todo o clima provinciano de perto.
A GR 20 (Grand Randonnée, número 20) é a trilha mais extensa e famosa do mundo todo. Para quem preferir, também há montanhas diversas que atravessam a trilha. Para os mais aventureiros, o paraíso de Córsega chama-se Monte Cinto. É uma montanha com quase 3 mil metros de altura, sendo ele o ponto mais alto de Ajaccio para você desbravar. No inverno há neve no interior e o verão é intenso.
USUFRUIR CÓRSEGA, BELEZA INDOMÁVEL
O assalto aos sentidos começa mal se põe o pé em terra; misturados com a maresia chegam-nos perfumes resinosos de mato e flores açucaradas. Junto à costa, o mar é baixo e alterna azuis-turquesa com verdes-menta, debruados pela tira branca da areia.
O sol quente aviva as cores e faz apetecer passeios pela sombra e banhos de mar. Oliveiras e medronheiros cobrem as encostas de verdes secos e sombras apetecíveis. Generosamente, a Córsega oferece tudo isso e algo mais: montanhas nevadas por onde descem riachos gélidos, que nos fazem esquecer o Mediterrâneo. O seu interior é percorrido por estradinhas sinuosas e estreitas, que rodopiam entre florestas e cabeços rochosos, alguns encimados por taffoni, arcos de pedra perfurados pela erosão.
Vales glaciários abrem-se na rocha nua, com aglomerados de casas cinzentas e o inevitável campanário aguçado no centro, a marcar a presença humana: a aldeia de Zonza e seus monumentais pitões de granito cinzento, conhecidos por Agulhas de Bavella, são a imagem mais conhecida da montanha corsa. Vales como o de Asco ou Spelunca estão muito longe daquilo que as similares palavras portuguesas poderiam sugerir e, nas gargantas da Restonica, o percurso pedestre até aos lagos de Melo e Capitello é um encontro com a beleza selvagem da ilha, só comparável com a ascensão aos 2.706 metros do monte Cinto, o seu ponto mais alto.
Também na costa existem lugares notáveis pela sua beleza em estado puro: o balão azul-turquesa da baía de Rondinara e o Parque Natural de Scandola - este último considerado Património Mundial da Humanidade - possuem, como poucos, o encanto bravio da costa mediterrânica.
Não muito longe, ficam as Calanches de Piana, também protegidas pela UNESCO, que ninguém descreve melhor que Guy de Maupassant, em “Une Vie”: “(...) uma floresta, uma verdadeira floresta de granito púrpura.
Eram picos, colunas, pequenas torres de campanário, figuras surpreendentes, modeladas pelo tempo, o vento corrosivo e a bruma do mar. Altos até aos trezentos metros, finos, redondos, torcidos, recurvados, disformes, imprevistos, fantásticos, estes surpreendentes rochedos pareciam árvores, plantas, bichos, monumentos, homens, monges de hábito, diabos cornudos, pássaros desmesurados, todo um povo monstruoso, uma exibição de pesadelo petrificada pelo desejo de um qualquer deus extravagante ...”. E ali ao pé fica o golfo azul de Porto, onde as calanche se reflectem, varridas ferozmente pela tramuntana e pelo libeccio. A prodigalidade da natureza não se fica pelo relevo: a vegetação da ilha é constituída por cerca de duas mil espécies, das quais quase oitenta são endémicas; da fauna também faz parte uma vintena de mamíferos selvagens, entre os quais o muflão (u muvrone), que se tornou o emblema da montanha corsa, altiva e rebelde.
Claro que quem percorre as florestas interiores, a pé ou de automóvel, encontra mais facilmente rebanhos de cabras e ovelhas ou varas de porcos, numa vagabundagem inédita nestes tempos de CEE. De vez em quando pára um carro, e aparece alguém com milho para distribuir; é que, embora não pareça, os animais têm dono, mas aqui acredita-se seriamente nas vantagens desta criação assilvestrada, que permite o cruzamento com javalis e uma alimentação mais natural. São famosos os enchidos de javali, mas nada chega à excelência do brocciu, aquele queijo de ovelha ou cabra de perfume explosivo (quem não leu “Astérix na Córsega”?), ou às magníficas castanhas, que invadiram o gosto da cerveja e dos crepes; ao mel silvestre, ou ao azeite. Bela e farta, a ilha incita aos prazeres da mesa e ao lazer. Habitada desde há muito, ao percorrê-la, espanta a ausência de gente. Metade dos seus cerca de duzentos e cinquenta mil habitantes vivem em Ajaccio e Bastia. No interior, as povoações têm um aspecto austero e quase abandonado, mas cada capu (monte) ou lavu (lago) tem o seu nome próprio. Na costa, o turismo instalou-se como primeira fonte de rendimento e sobram as marinas, hotéis, aldeamentos, e cafés mundanos. Mas também na arquitectura a Córsega misturou estilos, filtrou e criou um estilo “corso” com referências históricas incontornáveis.
ILHA DE FORTES E TORRES NO MEDITERRÂNEO
O símbolo presente nos folhetos e cartazes turísticos, por exemplo, são as famosas - e abundantes - torres genovesas, que parecem o modelo original da Torre do Jogo de Xadrez.
Foram construídas durante o domínio de Génova, com funções de vigilância permanente da costa: os Turchi, piratas vindos da África do Norte, eram um perigo real para os habitantes. Destruíam culturas e aldeias inteiras, e faziam escravos todos os que apanhassem; chegaram a contar-se uns seis mil corsos cativos em Argel, só no ano de 1560.
Com uma altura média de quinze metros, as torres permitiam avisar as populações através de fogos ateados no cimo, em caso de aproximação de barcos desconhecidos. A abundância de fortes - os de Calvi e Bonifácio são os mais espectaculares - prende-se com esta necessidade perpétua de defender a ilha da fácil abordagem, não só de piratas, mas da cobiça das várias potências marítimas. Como todas as ilhas do Mediterrâneo, a Córsega também andou de mão em mão, pertencendo ao reino de Pisa (1077 - 1284) e ao de Génova (1284 - 1768), antes de ser vendida à França pela última.
Das torres genovesas restam cerca de oitenta e cinco, umas restauradas e outras em ruínas; muitas mais que as pequenas pontes de pedra, de arco único e “bossa” no meio, que datam da mesma época - um dos exemplares mais bem conservados atravessa as gargantas de Spelunca, junto a Ota. Bem cuidadas estão as igrejas em estilo “românico pisano”, como as de Aregno ou de San Michele de Murato, edifícios bicolores decorados com figuras geométricas, imagens de animais e personagens simbólicas deliciosamente naifs.
IN
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