Viva os descontos!
É com relutância que escrevo sobre descontos, apenas porque o caso Pingo Doce conseguiu esgotar-me a paciência, mas eles estão por todo o lado - a Galp acabou de anunciar os seus para o gás e electricidade - e, por isso, aproveito para dizer que não entendi o nojo com que meio país olhou para a Jerónimo Martins, nem o desprezo com que a outra metade tratou quem foi às compras no 1º de Maio.
Houve todo o tipo de teses, a de que o que a Jerónimo Martins fez foi insultar o país e explorar a fragilidade dos portugueses, ou a de que o país em crise e miserável perdeu a vergonha por ter sucumbido ao consumismo, logo no Dia do Trabalhador.
É preciso ter calma. Se não forem ilegais, os descontos não têm nada de mal, antes pelo contrário, permitem poupar alguns euros a muitas famílias, incluindo aquelas que decidiram queimar o dia de descanso em filas intermináveis numa caixa de supermercado em vez de de, pachorrentamente, terem ficado em casa num misto de trabalho e TPC de matemática da filha, que foi o meu caso (declaração de interesses feita).
Não sendo ilegais, repito, os descontos são reflexo da existência de concorrência e traduzem-se numa arma comercial poderosa numa economia onde o factor preço é cada vez mais importante. É natural que as pessoas dêem cada vez mais valor ao preço das coisas, à medida que o seu rendimento disponível encolhe.
A decisão da Galp, de concorrer de forma mais agressiva com a EDP e de oferecer uma proposta integrada de fornecimento de gás e electricidade com descontos de 5%, revela isso mesmo, a percepção por parte da petrolífera de que, agora, com o mercado efectivamente liberalizado, existem condições para competir com os outros operadores de mercado. É assim, as empresas concorrem entre si, de acordo com o que a regulação permite, e os consumidores decidem, até escolher passar o dia enfiado num supermercado.
O PS e Os Verdes decidiram avançar com uma proposta que limita a publicidade a produtos hiper-calóricos, com o objectivo de proteger os públicos mais sensíveis, como as crianças e os jovens. Entendo o propósito, não concordo com a fórmula. Não é proibindo as coisas que as pessoas vão deixar de consumir hambúrgueres e assim escapar à obesidade. Nem cosendo a boca das pessoas isso seria possível.
Parece não ter nada a ver com esta história dos descontos, mas tem. A solução está na educação, na informação e não no paternalismo, na proibição e definição de regras absurdas, está em acreditar nas pessoas e deixá-las escolher, quanto mais melhor.
Grave não são os descontos, se não forem ilegais, claro, grave é o défice tarifário que vai cair, mais dia menos dia, em cima de todos.
IN "DINHEIRO VIVO
03/05/12
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