Os patrões
precisam de ir à escola
Já lá vai quase um ano desde que a troika aterrou em Lisboa para dar início a um ambicioso, e para muitos radical, plano de transformação estrutural do país. Um ano e várias avaliações trimestrais depois, BCE, FMI e Comissão Europeia continuam a passar ao lado da mais importante deficiência estrutural de do País: o baixo nível de educação e, mais grave, a escassa formação dos seus empresários.
No fundo, troika e também o Governo confiam que as reformas que trazem nos seus receituários, da liberalização do mercado de trabalho às reformas da Segurança Social e do sistema fiscal, valem por si. Acreditam que funcionarão independentemente das características dos recursos humanos disponíveis, um elemento desprezado em todo o programa. É pouco provável que assim seja. No caso português, onde o atraso é grande, este é um erro que pode custar caro.
Portugal tem dos níveis de educação mais baixos da União Europeia e da OCDE. Se escolhermos o 12º ano completo como indicador, só Turquia e México estão piores. Mais preocupante é a formação dos patrões que, de tão má, até permite aos trabalhadores sair bem na fotografia.
Cálculos da Pordata a partir das estatísticas oficiais enquadram o problema. Em Portugal, em 2010, quatro em cada dez trabalhadores tinha completado o secundário, enquanto apenas dois em cada dez patrões tinha conseguido o mesmo. Já na União Europeia oito em dez trabalhadores, e mais de sete em cada dez patrões atingiam essa meta. É díficil não ficar impressionado com as comparações.
Mas os relatórios de avaliação publicados da Comissão Europeia e do FMI são ostensivamente omissos. Bruxelas reserva para a educação um parágrafo entre 120 páginas do documento, associando-a apenas a políticas de reeintegração no mercado de trabalho. O FMI vai um pouco mais longe: refere a importância do ensino secundário, e concede meia página à educação. Sobre a preparação dos patrões que hão-de levar o País à vitória pelas exportações, nem uma linha.
O atraso educacional dos nossos empresários tem implicações evidentes. Num mundo cada vez mais globalizado, o sucesso estará reservado para os que souberem melhorar processos e dinamizar as lideranças, e para os que inovarem e arriscarem descobrindo caminhos que ainda não existem. Muito mais do que sobre os trabalhadores é sobre os patrões que recai a principal responsabilidade de relançar a economia. E para isso elevados níveis de educação são essenciais.
É verdade que houve avanços notáveis nos últimos anos e que a educação não é tudo, mas a distância para os melhores transforma esta ausência num silêncio incompreensível por parte da troika e do Governo. Sem avanços significativos nesta área, não haverá reformas estruturais que nos valham. Os portugueses, e especialmente os patrões precisam de ir à escola. E alguém lhes deve dizer isso.
Jornalista
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
30/04/12
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