11/05/2012

CARVALHO DA SILVA






  
Des)emprego: forte alerta 

Esta semana a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou o seu "Relatório sobre o Trabalho no Mundo - 2012", onde expõe os efeitos negativos das políticas de austeridade sobre o crescimento económico e o emprego. O enfoque aplicado no "combate" aos défices públicos tem--se traduzido na quebra de investimento, na redução do crédito, do emprego e da sua qualidade, no aumento acelerado da precariedade. 

O relatório confirma que as medidas de desregulação do mercado de trabalho e de diminuição da proteção laboral e social, forte componente das políticas de austeridade, em vez de favorecerem o crescimento económico e a criação de emprego estão, exatamente, a contribuir para o aumento do desemprego, sendo os países do Sul da Europa disso exemplo. Na sua síntese pode ler-se que "a instabilidade laboral é sobretudo uma tragédia humana para os trabalhadores e as suas famílias; (...) um desperdício de capacidade produtiva; (...) uma tendência para perder competências; (...) uma produtividade mais débil no futuro; (...) menos oportunidades para ascender profissionalmente". 

Num artigo no "Público", de 01.05, Juan Somavia, diretor-geral da OIT, escreve: "Um trabalho de qualidade é uma fonte de dignidade pessoal, estabilidade familiar, paz na comunidade e, certamente, uma fonte de credibilidade para a governação democrática. No entanto, em demasiados locais perdeu-se a noção básica de que o trabalho não é uma mercadoria".

 Há três dias, o Eurostat informou--nos que Portugal - onde está em curso uma desastrosa revisão da legislação laboral e imposições brutais de flexibilidades e mobilidades - registou uma taxa de desemprego de 15,3% em março. E todos sabemos que a emigração de muitos milhares de portugueses - grande parte deles qualificados - está a contribuir para que a taxa de desemprego não seja maior. 

Alguns representantes patronais disseram que é preciso travar este "ciclo ruinoso". Tal afirmação devia significar o assumir de que todo o desemprego deve ser combatido e, acima de tudo, que o salário não é somente um custo, pois representa poder de compra indispensável para as suas empresas.

 O primeiro-ministro disse, sem vergonha e quase fazendo campanha pelo desemprego, que "temos de nos habituar a viver com um desemprego elevado". O ministro das inevitabilidades (Miguel Relvas) limitou-se a expressar o seu "convencimento" de que vamos, no futuro próximo, inverter a tendência, certamente pensando em doses cavalares de sacrifícios que rapidamente levem a situação ao fundo. 

Mas onde está o fundo? E quais os significados da emigração? 

O fundo pode ser um percurso bem penoso, muito longe de estar todo percorrido! 

Quando as pessoas emigram é porque não têm respostas para a sua situação, nem as perspetivam a curto prazo. Da emigração massiva resultam cenários de depressão e limitações ao desenvolvimento muito difíceis de ultrapassar. Basta olhar para o que aconteceu em algumas regiões do nosso país. 

 Mário Draghi, governador do BCE, manifestou-se em Barcelona contra a ineficácia, a médio prazo, das "medidas fáceis" de corte nos investimentos e aumento de impostos, mas faz propostas incongruentes e prossegue no desastre. Diz que é preciso "equidade entre as gerações" depois de invocar a receita de mais flexibilidades e mobilidades o que, associado à fragilização da contratação coletiva e ao profundo desequilíbrio na relação de forças entre patrões e trabalhadores, só nos pode conduzir para a harmonização no retrocesso. 

 Retoma as teorias do empreendedorismo e dos seus mitos, quando existe uma ausência total de políticas de crédito que possibilitem o desabrochar de micro e pequenas empresas, de novas formas de organização económica solidária e emancipatória, de atividades diversas que se poderiam desenvolver no plano social, ambiental e outros. 

 Um dos denominadores comuns necessários para formular propostas políticas alternativas é, sem dúvida, a luta contra a remercadorização da força de trabalho, afirmando o valor e a dignidade do trabalho no desenvolvimento dos recursos do país em todas as áreas de atividade económica, social e cultural. 



IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
 05/05/12 

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