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HOJE NO
"SOL"
Pereira Cristóvão:
de segurança da PJ
a dirigente do Sporting
Na Polícia Judiciária (PJ), Paulo Pereira Cristóvão era conhecido como o 'abridor de cancelas'. Alto e corpulento, entrou para a Polícia em 1990, como segurança. Tinha 21 anos.
A sua função era estar à porta, levantar a cancela e encaminhar os presos. Anos mais tarde, um concurso interno fê-lo subir a inspector, mas quem conviveu com ele diz que a força física foi sempre a sua característica mais evidente. «É um indivíduo grande, que bate que se farta», descreve com um ex-colega da PJ.
O caso de Joana, no qual foi acusado – e absolvido – do crime de tortura à mãe da criança, fez dele um homem famoso em 2007. No meio do escândalo provocado pela suspeita de que ele e os colegas teriam conseguido a confissão à pancada, Pereira Cristóvão pediu a exoneração da PJ. Para trás, ficava um currículo com várias situações por esclarecer e um processo disciplinar aberto depois de uma rapariga, vítima de um caso que investigava como inspector, o acusar de coacção sexual. A queixa foi retirada e o processo arquivado.
A TV e a causa das crianças
Publicamente, o ex-inspector começa a dar nas vistas nos programas da manhã da TVI, mal sai da Polícia. «Convidei-o para comentar casos de Justiça no Você na TV porque era um ex-PJ e podia falar à vontade», recorda o jornalista Hernâni Carvalho, que voltou a cruzar-se com Cristóvão mais de um ano depois nos estúdios da SIC. Hernâni assegura que não ficaram amigos. «Não tenho nada de bom nem de mau para dizer sobre ele».
A presença na televisão e o mediatismo ganho a comentar o caso de Maddie McCann dão-lhe acesso ao mundo literário. Ainda em 2007, escreve A Estrela de Joana, sobre o caso da menina algarvia. Um ano depois, edita A Estrela de Madeleine e um romance sobre «a vida do mais corrupto inspector da polícia». Uns Feios, Outros Porcos, Todos Maus é até à data a única incursão na ficção. Mas em 2010 dá à estampa Levaram-me, um livro sobre o caso de Rui Pedro.
O desaparecimento de menores passa a ser a causa pública que defende. Em conjunto com o advogado António Pragal Colaço, cria a Associação Portuguesa das Crianças Desaparecidas, que é hoje reconhecida como IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social).
Paulo Pereira Cristóvão chegou a ser presidente da associação, a que pertence a mãe de Rui Pedro, mas já não faz parte do organograma. E Pragal Colaço recusa falar sobre quem diz já não ser seu amigo. «Não me quero meter nisso», limita-se a responder, sem explicar que razões o levaram a quebrar há sete meses a relação entre os dois.
Pelo motivo inverso, o actual presidente da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC), Carlos Garcia, recusa também a falar: «Sou amigo dele. Não vou comentar nada». Gonçalo Amaral – que haveria de ser condenado por falsas declarações no processo em que partilhou com Pereira Cristóvão o banco dos réus, por causa do caso Joana – não se alonga em comentários: «Tive pouco contacto com ele. Mas tenho boa impressão pessoal e profissional».
Quem o conheceu na altura em que corria o país em sessões de autógrafos de livros, traça-lhe o retrato como alguém que «tem muita garganta, um verdadeiro gabarolas, que comete muitas inconfidências para mostrar que sabe tudo sobre toda a gente».
Há cerca de um ano, a advogada dos pais de Maddie fez uma queixa contra Pereira Cristóvão por procuradoria ilícita, na Ordem dos Advogados, por causa de uma empresa do ex-polícia. «Denuncio sempre que há uma empresa que presta serviço de assessoria jurídica – algo que só os advogados podem fazer», explica Isabel Duarte.
O 'Reinaldo Teles' de Alvalade
Em 2009, Paulo Pereira Cristóvão já era uma cara conhecida, quando se apresenta como candidato à presidência do Sporting. Sai derrotado contra José Eduardo Bettencourt. Mas ganha apoios junto das claques e essa força dá-lhe argumentos para que o actual presidente Luís Godinho Lopes lhe dê a vice-presidência e o pelouro das Estruturas e Património.
O plano do ex-polícia é transformar-se no 'Reinaldo Teles' de Alvalade: alguém que controle os jogadores, evite noitadas e vá gerindo as questões da arbitragem, à semelhança do que faz o vice-presidente do FC Porto. «Gabava-se de ter as claques na mão», conta um ex-dirigente sportinguista, explicando que Pereira Cristóvão dizia que «os controlava, porque tinha os cadastros de todos e eram todos uns bandidos». Em Alvalade, garante-se que além de tratar das pinturas necessárias no estádio, Pereira Cristóvão contratou uma empresa de segurança e «todos os meses distribuía dinheiro pelos porteiros das discotecas de Lisboa para saber se os jogadores saíam à noite».
Para garantir a popularidade no plantel, convidava os jogadores para jantar em sua casa e era presença assídua no balneário. Aliás, fazia questão de constar na lista das pessoas autorizadas a estar no relvado durante os jogos, apesar de as suas funções não o exigirem.
* Não são apenas os clubes que têm "trauliteiros" abundam nos partidos políticos e empresas da noite.
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