Artur Carlos de Barros Basto (Amarante, 18 de Dezembro de 1887 — Porto, 08 de Março de 1961) foi um militar português, mas também um idealista, um reformador e um filósofo, tendo publicado inúmeras obras.
Depois de cursar na Escola de Guerra, Barros Basto participou na implantação da República em Portugal. Foi ele que hasteou a bandeira da República, na cidade no Porto. Por essa mesma época, em 1910, foi iniciado na Maçonaria Portuguesa - Grande Oriente Lusitano, na Loja Montanha, de Lisboa, com o nome simbólico de «Giordano Bruno». Posteriormente, Barros Basto comandou um batalhão do Corpo Expedicionário Português, na Primeira Guerra Mundial, como tenente, na Frente da Flandres, pelo que que foi condecorado.
Ainda na juventude, tomou conhecimento, pelo avô, Francisco de Barros Basto, de que tinha ancestrais judeus. Essa descoberta haveria de marcar, para o bem e para o mal, toda a sua vida. Na época em que iniciava a sua vida castrense, o então jovem Barros Basto apresentou-se na sinagoga de Lisboa e declarou-se judeu. Apesar do seu empenho, a Congregação negou-lhe inicialmente a integração na congregação. Por forma a ser aceite como membro de pleno direito, Barros Basto aprendeu o hebraico e deslocou-se a Marrocos para receber instrução religiosa. Em Tânger, foi circuncidado e oficialmente aceite dentro da religião judaica, adoptando o nome de Abraham Israel Brandon Ben-Rosh. Casou-se com Lea Israel Montero Azancot, nascida em Lisboa, da Comunidade Israelita de Lisboa, de quem teve um filho, Nuno Carlos Azancot de Barros Basto, e uma filha, Miryam Edite de Barros Basto. Vários netos e bisnetos. Era tio-bisavô da actriz Daniela Ruah.
Barros Basto ficou conhecido como o “Apóstolo dos Marranos”, denominação que lhe foi dada pelo historiador Cecil Roth, e que descreveu o empenho com que se dedicou à sua “Obra do Resgate”: uma corajosa actividade consistente em trazer para a “luz” os criptojudeus descendentes dos antigos judeus portugueses forçados à conversão, e que, agora, com a liberdade de culto, poderiam assumir sem receio a religião dos seus ancestrais.
“Adonai li velo irá” (Tenho Deus comigo, por isso não temerei”) era a divisa de Barros Basto, que durante anos percorreu o interior de Portugal, por vezes a cavalo, procurando resgatar todos os criptojudeus que, apesar de estarem há séculos afastados do judaísmo oficial, permaneciam judeus no coração. Em 1923, Barros Basto fundou o instituto teológico israelita e a comunidade judaica do Porto, e foi o grande impulsionador da construção da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, a sinagoga do Porto, a maior da Península Ibérica e uma das maiores da Europa. Esta sinagoga haveria de ser inaugurada em 1938.
Mas a campanha pública de Barros Basto destinada a persuadir os criptojudeus a reabraçarem, sem medo, o judaísmo, foi muito mal encarada pelas autoridades portuguesas da época e acabou por dar lugar ao seu afastamento do exército. Julgado pelo Conselho Superior de Disciplina do exército em 1937, Barros Basto foi separado do exército por alegadamente participar nas cerimónias de circuncisão dos alunos do instituto teológico israelita do Porto, facto que aquele Conselho considerou “imoral”.
Barros Basto faleceu em 1961. No leito da morte, ele exclamou que um dia lhe seria feita justiça. Foi enterrado no cemitério de Amarante, conforme o seu desejo, envergando a farda com a qual orgulhosamente servira a sua pátria.
Reabilitação do Capitão Barros Basto no ano de 2012
Exactamente 50 anos após a sua morte, o nome de Barros Basto haveria de ser formalmente reabilitado. Em 29 de Fevereiro de 2012, a 1.ª Comissão da Assembleia da República Portuguesa reabilitou, por unanimidade de todos os partidos políticos, o nome de Arthur Carlos Barros Basto, considerando que “imoral” foi a sentença que o condenou.Apreciando a decisão de 1937 à luz dos direitos humanos, a 1.ª Comissão considerou que tal decisão foi tomada em “manifesta violação da liberdade de religião e de culto” e motivada “por intolerância religiosa e por um preconceito antisemita”. Jamais a prática do preceito judaico atinente às circuncisões poderia ter sido susceptível de afectar a “moralidade” do oficial Barros Basto, bem como o “prestígio” e “o decoro da sua farda”. A 1.ª Comissão conclui que “Barros Basto foi separado do exército devido a um clima genérico de animosidade contra si motivado pelo facto de ser judeu, de não o encobrir, e, pelo contrário, de ostentar um proselitismo enérgico convertendo judeus portugueses marranos e seus descendentes.” No dia em que se conheceu a decisão da 1.ª Comissão, a neta de Barros Basto, Isabel Ferreira Lopes, autora do pedido de reabilitação à Assembleia da República, declarou à Agência Lusa: «Hoje, a Comissão mais importante do Parlamento declarou que a sentença de 1937 foi antissemita. Barros Basto não foi imoral. A sentença que o condenou é que foi imoral.» Também a Liga Anti-Difamação, na pessoa do seu presidente, Abraham Foxman, manifestou ao Parlamento português a sua “profunda satisfação” pela declaração da 1.ª Comissão, saudando o facto de Portugal estar verdadeiramente “comprometido com os direitos humanos”. Para além de terem reabilitado formalmente o nome de Barros Basto, todos os partidos da Assembleia da República se comprometeram a reintegrá-lo no exército, a título póstumo, atribuindo-lhe a patente a que teria direito se não houvesse sido separado do serviço, em 1937, por motivos antissemitas. Mesmo depois de separado do serviço, Barros Basto continuou fiel aos judeus em risco, participando activamente na ajuda a correlegionários de todas as nações, fugidos ao nazismo, e que, a partir da cidade do Porto, recomeçaram a sua vida.
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Daniela Ruah apela a mobilização por Barros Basto
A petição online da organização internacional Shavei Israel que apela à celeridade no processo de reabilitação do capitão Barros Basto ultrapassou as mil assinaturas, depois da actriz Daniela Ruah se ter identificado como sobrinha bisneta do capitão e de ter apelado à participação dos seus fãs.
“Só faltam algumas centenas de assinaturas. Este homem foi meu tio bisavô e acredito que esta petição é importante”, assim escreveu a actriz na sua conta no Twitter .
A petição online (Rehabilitate the late Jewish war hero Capt. Arthur Barros Basto) foi lançada a 14 de Novembro pela Shavei Israel (uma organização internacional sediada em Israel) pedindo celeridade no processo de reabilitação do capitão Barros Basto, vítima de antissemitismo institucional no seio das Forças Armadas Portuguesas, em 1937.
IN "http://ruadajudiaria.com/?p=666"
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