15/02/2012

LEONÍDIO PAULO FERREIRA

LEONÍDIO PAULO FERREIRA

 

Deitam gás para o lixo e ainda lucram milhões


Sabe aquela chama eterna que se vê no topo dos poços de petróleo? É um gigantesco atentado ambiental e, ainda por cima, um desperdício de riqueza do planeta. Porque é gás natural bastante para satisfazer um terço do consumo da Europa aquilo que está a ser queimado, enviando por ano 400 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera. O alerta surge no Le Monde, numa denúncia implacável da combustão que as petrolíferas batizaram de flaring, que traduzido dá qualquer coisa como "cintilar".
Por ano, são assim queimados em média 150 mil milhões de metros cúbicos de gás natural, um verdadeiro deitar no lixo de um recurso que a natureza tardou milhões de anos a fabricar. Tudo porque é necessário aliviar a pressão no processo de extração do petróleo e há mais de um século que a solução passa por libertar o gás que vem com o crude.
Que o desleixo prejudique o ambiente e crie problemas pulmonares nas populações vizinhas sempre foi visto como um mal menor por uma indústria sedenta de resultados e pelos Estados ávidos de rechear os cofres públicos com o maná petrolífero.
Mas algo está a mudar. Uma parceria entre o Banco Mundial, as petrolíferas e uma vintena de países produtores conseguiu que se baixasse o desperdício de gás via flaring para 136 mil milhões em 2010 (os números de 2011 ainda não são conhecidos).
E parece haver boa vontade por parte dos governantes envolvidos. A Rússia de Medvedev e Putin, campeã nesta queima absurda (logo seguida por Nigéria, Irão e Iraque), comprometeu-se a reduzir a 5% o flaring já este ano, com multas pesadas para as petrolíferas que insistam na velha prática.
Só boas intenções, porém, não bastam, até porque as emissões de CO2 em causa são o equivalente às de países como o Brasil, a Indonésia ou a França e umas sete vezes as de Portugal. A questão dos elevados custos nem sequer devia ser levantada. Trata-se de moralizar a exploração económica de um recurso natural não renovável e salvar o planeta.
Não existe incentivo económico ao fim do flaring. É caro capturar esse gás e depois construir uma central elétrica próxima ou enviá-lo liquefeito para o consumidor. Mas dinheiro não falta às petrolíferas. O Los Angeles Times revelou agora que Exxon-Mobil, Shell, BP, ConocoPhillips e BP obtiveram no último trimestre de 2011 lucros de 137 mil milhões de dólares. Trata-se de um recorde para as cinco gigantes, isto apesar de terem extraído apenas 15,6 milhões de barris/dia contra 16,2 nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2010. Percebe-se para onde vai o dinheiro de quem, na Europa sobretudo, está a pagar a gasolina e o gasóleo como luxos. 


IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
13/02/12


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