HOJE NO
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Condutores matreiros. Artimanhas
para enganar o balão e os radares
Beber vinagre, comer sal ou mascar cigarros. Afinal qual a receita pouco saborosa que pode evitar as multas?
Beber cinco litros de água de penálti como se tivesse uma bexiga dupla, esconder moedas na boca, trincar folhas de eucalipto, trincar grãos de café, mascar pastilhas de mentol ou o conteúdo de um cigarro ou até fazer chichi antes de soprar. Há sempre quem conheça uma técnica, garantidamente infalível, para aldrabar o resultado do teste do balão. Nada que surpreenda quem anda na estrada a fazer operações stop: todos os dias alguém resolve pôr à prova um novo truque. E alguém sai de lá a pensar que resulta: lamentamos desfazer as ilusões de muitos leitores, mas nenhuma destas mezinhas caseiras tem apoio científico. Se passou no teste com distinção, foi simplesmente porque tinha menos de 0,5 gramas de álcool por litro de sangue. E não porque engoliu um garrafão de água, inspirou e expirou muito depressa antes de soprar, ou trincou limão, café ou até um simples Kit Kat porque ouviu dizer que este chocolate, por ser “o mais gorduroso”, cortava o efeito do álcool.
O 2.o comandante da Unidade Nacional de Trânsito da GNR, tenente-coronel Gabriel Barão Mendes, já perdeu a conta à quantidade de artimanhas usadas pelos condutores antes de fazer o despiste. E até agora não encontrou nenhuma com super-poderes para eliminar o álcool do sangue ou que fosse mais esperta que as máquinas. “O que nos diz a experiência é que nenhuma dessas técnicas altera o resultado do teste.” Podem mudar o hálito, mas não a quantidade de álcool. Duarte Nuno Vieira, presidente do Instituto de Medicina Legal, confirma: “Não há receita caseira que consiga falsear o resultado do equipamento. A quantidade que o aparelho detecta é a quantidade de álcool que a pessoa tem no sangue.”
A única excepção são alguns medicamentos que podem mudar a velocidade de absorção do etanol – mas que, regra geral, são mais prejudiciais que benéficos para os condutores chamados a fazer o teste, já que potenciam o efeito do álcool. Como “a maior parte do álcool é absorvido no intestino delgado”, se tomar um medicamento que acelere as contracções gástricas, por exemplo, “o álcool chegará mais rapidamente ao intestino, produzindo valores mais elevados”, explica. Como os riscos da condução são ainda maiores com essa mistura explosiva – álcool e fármacos –, já “há até países a defender que quem é apanhado sob este efeito devia ter uma sanção mais alta” porque “a condução neste estado é mais perigosa”.
Peso, sexo e ingestão de alimentos sólidos são das poucas variáveis que não são mito e podem influenciar o resultado. Os homens suportam maiores quantidades de álcool que as mulheres e o estômago vazio ajuda a disparar a taxa. “A absorção de álcool isoladamente leva sempre a taxas mais elevadas e mais rapidamente”, confirma o presidente do Instituto de Medicina Legal.
Invocar doenças também não é suficiente para escapar ileso ao balão: o mais certo é vir a precisar de um atestado médico. Se arriscar dizer que não tem força para soprar porque é asmático, tenha cuidado: pode acabar por ser julgado pelo crime de desobediência ou terminar com uma taxa mais alta, já que a recolha de sangue costuma ser menos amiga dos automobilistas.
Fugir ao radar Os radares de controlo de velocidade são mais fáceis de enganar que os alcoolímetros, mas não tão ingénuos como se diz. Pode parar de fazer chamadas sempre que passa num radar, porque ouviu dizer de fonte segura que os telemóveis anulam o efeito: é mentira. Se se cola ao carro da frente para tentar que só este seja multado, também é melhor esquecer: a maior parte dos radares aponta para a traseira dos automóveis e não para a dianteira.
Se anda na auto-estrada, pode ter melhor sorte: a maior parte destes radares está virada para uma só via e por isso só apanha um automóvel de cada vez. Também pode usar a velocidade para despistar os radares, mas só se conseguir circular a mais de 300 km/h. Caso use o truque da pastilha elástica para alterar números da matrícula, esteja preparado para ser apanhado: “Percebemos que aquela matrícula não corresponde à cor e ao modelo daquele carro e chegamos lá por, no máximo, dez tentativas” (do 40 a 50, por tentativa e erro), explica o tenente-coronel Barão Mendes. Além de poder cair no ridículo, ainda comete o crime de viciação de notação técnica, punível pelo Código Penal.
* Muito gostam os portugueses de ser "Chico espertos", com esta genuína e secular característica como não perceber a existência de Varas, Isaltinos, Godinhos, Jardins, Pintos, Felgueiras, Socrates, Loureiros, Barrosos, Silvas etc., seria milagre.
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