06/01/2012

ALMORRÓIDA PESAROSA


Pedro Osório
Nos bastidores 
da música portuguesa

por MARIA JOÃO CAETANO19 Junho 2010 "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

Pianista, compositor, orquestrador, maestro, Pedro Osório trabalhou com todos os grandes da música portuguesa, do fado ao rock. Aos 71 anos colocou as memórias num pequeno livro com muitas histórias.

A primeira vez que Pedro Osório teve de ir prestar declarações à PIDE foi por causa de um livro que tinha encomendado de França: Traité pratique d'instrumentation, de Ernest Guiraud. "Uma encomenda do estrangeiro era sempre suspeita e eles queriam saber se aquilo tinha alguma coisa a ver com actividades ilegais", ri-se hoje o maestro ao recordar o episódio. "Vivíamos aqui completamente isolados, os discos chegavam cá, os que chegavam, com um grande atraso. Estávamos sempre dependentes das novidades trazidas por alguém que viajava."

Este rápido encontro com a PIDE está relatado no livro de memórias do músico, uma edição da Câmara Municipal de Oeiras, onde ele reside, que foi lançado esta semana. Ao longo de 13 anos, Pedro Osório escreveu uma crónica na agenda cultural mensal do município, a 30 Dias. "Escrevia sobre discos, mas também contava episódios da minha vida", explica. Esses textos foram o ponto de partida para o livro intitulado Memórias Irrisórias com Algumas Glórias - 50 anos de Música. Deixou de lado muitos assuntos e reescreveu a maioria dos textos, aumentando-os e tentando dar alguma coerência ao conjunto. Ainda assim, avisa, "isto não pretende ser uma história da música portuguesa nem mesmo da música ligeira, são apenas memórias, episódios, histórias engraçadas. Nunca tomei nota de nada e, por isso, foi tudo escritor de memória", conta o pianista e compositor, nome incontornável na história da música portuguesa dos últimos 50 anos.

Filho de uma família da média-alta burguesia do Porto, arranjou maneira de conciliar o curso de Engenharia com o interesse crescente pela música. "A aprendizagem de música fora do Conserva- tório era inexistente. Quem, como eu, queria estudar jazz ou música ligeira tinha de ser autodictada. Estudei orquestração ouvindo e lendo as partituras de Ravel e de Mancini." E fazendo um curso por correspondência. "Quase um ano de troca de correio para os Estados Unidos."

Apesar de todas as dificuldades, no final dos anos 50 surgiu o Conjunto Pedro Osório, um dos mais requisitados para os bailes de clubes e sociedades recreativas aos fins-de-semana. "A minha família achava graça ao facto de eu tocar aos fins-de-semana, mas quando decidi deixar a engenharia e tornar-me músico profissional, ainda para mais na música ligeira, foi muito complicado. Muitas pessoas da família, sobretudo os mais velhos, cortaram relações comigo", conta. A aceitação só chegaria anos mais tarde, à medida que o seu nome se ia tornando conhecido.

Pedro Osório, compositor, músico e produtor, concorreu várias vezes ao Festival da Canção e trabalhou com todos os grandes nomes da música portuguesa. Com Herman José (em espectáculos e na televisão, em Casino Royal), com José Mário Branco, Carlos Paredes, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Paulo de Carvalho, Carlos Mendes e Fernando Tordo (com quem fez, em 1989, o espectáculo Só Nós 3), Rita Guerra, Lena d'Água e Helena Vieira (As Canções do Século em 1993), Júlio César (com que criou alguns dos melhores espectáculos para os casinos) e muito mais que não cabem nestas linhas.

Eles são também personagens deste livro em episódios que tanto podem ser emocionantes como divertidos. Como a descrição dos espectáculos de Canto Livre, no pós-25 de Abril, e daquela vez em que, perante um Coliseu a abarrotar, os maiores músicos de então se confundiram com a letra de Grândola Vila Morena. Ou como as peripécias dos músicos a tentar fazer boa figura no Festival da Eurovisão em Oslo, em 1996 e Lúcia Moniz com a presilha do sapato partida e sem poder dançar.

Hoje, com 71 anos, Pedro Osório está mais afastado dos palcos mas continua ligado à música e aos músicos, não só através dos amigos que fez mas também da Sociedade Portuguesa de Autores, de cuja administração faz parte. "Estive sempre metido em sindicatos e associações, tive sempre dificuldade em passar ao lado, em alhear-me daquilo que se passa à minha volta."


* Partiu um herói português que nunca quis ser herói mas foi um génio, até à próxima. 




O grupo S.A.R.L. (Carlos Alberto Moniz, Pedro Osório e Samuel) interpreta "Quero Ser Feliz, Agora" no Festival RTP 1982, classificando-se em 4º lugar com 147 pontos.

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