06/12/2011

MANUELA MOURA GUEDES



À bastonada

Finalmente percebi Marinho Pinto. Era um mistério para mim a sua dedicação e zelo para com o anterior Governo

Pensei que estava ligado ao Partido Socialista, dado que foi assessor do Governo de Melancia em Macau, que se identificava com as práticas de Sócrates ou , simplesmente, que gostava do Poder. Mas o único artigo que conheço da sua incursão jornalística faz tais referências a Mário Soares ("Papa Doc", traidor...) que era impossível ser de um socialista. E, em Junho, ao ouvi-lo elogiar a "honestidade", a "determinação" e as qualidades de "boa advogada" de Paula Teixeira da Cruz, já ministra, pensei que era um indefectível de qualquer Poder. Mas, a troco de quê? Defendeu Sócrates, em casos como o Freeport, e levou críticas violentas. Foi a ministra que revelou os milhões de euros que o Estado paga aos advogados oficiosos sem qualquer fiscalização. É o advogado a dizer (através da Ordem) quais os actos em que participa num processo.

Não há qualquer controlo do tribunal como havia antes de 2008, quando o Governo de Sócrates mudou a lei. Percebe-se agora o Bastonário. São perto de 10 000 advogados oficiosos agradecidos. Um apoio de peso dentro da Ordem que se traduz em 50 milhões por ano à custa do Estado em processos que chegam a custar 100 mil euros, com fraudes várias (visitas a presos que não existem…). Marinho Pinto não gostou desta honestidade com dinheiros públicos da ministra. A honestidade é para ser gabada, não para ser exercida.

Não gostou de que Paula Teixeira da Cruz revelasse que os portugueses dão milhões, através do OE, para a Caixa de Previdência e para a Ordem dos Advogados, mais um mimo do anterior Governo em 2009. E Marinho Pinto, quando não gosta, reage daquela sua forma peculiar, pouco comum na argumentação de um advogado, com ataques pessoais inenarráveis. O alvo agora é a ministra da Justiça. O último foi para a ligar aos tribunais arbitrais que diz roubarem o Estado. Só agora, mesmo depois de ter tratado dos problemas da Justiça ao mais alto nível (MJ, PGR, PSTJ), em 2009, incluindo a arbitragem. Marinho Pinto é isto, o videirinho que se serve do Poder. Mas está com azar. Aplicam--se mesmo a Paula Teixeira da Cruz a honestidade e a determinação. E não sou de elogios ao Poder!

IN "CORREIO DA MANHÃ"
02/12/11

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