HOJE NO
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Catástrofe.
Muitos desempregados
da construção civil saem das obras
para o crime
71,2 mil estão inscritos nos centros de emprego, milhares não estão registados e muitos tentam a sorte na emigração
O alerta já foi dado pelos industriais do sector aos responsáveis pela segurança nacional ao mais alto nível. Muitos desempregados da construção civil saem directamente das obras para o crime. Sem qualificações profissionais, muitos deles nem conseguem ter acesso a qualquer tipo de subsídio de desemprego por pouco ou muito tempo. O roubo é a alternativa que muitos têm para se sustentarem e às famílias. Este drama está a agravar-se dia após dia. Dados oficiais até final de Setembro apontam para a existência de 71,2 mil desempregados da construção civil inscritos nos centros de emprego, 14 % do total oficial de desempregados em Portugal. Mas muitos nem recorrem aos serviços do Estado quando são despedidos de pequenas e médias empresas. Sem subsídios ou perspectivas de emprego a curto e médio prazo, resta- -lhes o crime para sobreviverem. Há também os que emigram, mas o sector da construção civil a nível europeu atravessa igualmente uma enorme crise e as oportunidades de emprego são escassas.
Em Portugal, até final de Setembro, a oferta de emprego na construção registou uma quebra de 36,7% em relação ao mesmo período de 2010. E o número de empresas que fecharam as portas desde o início do ano já era superior a 5 mil. A crise na construção civil abrange todos os segmentos de mercado, desde o residencial ao não residencial, com especial incidência nas obras públicas, que registaram um decréscimo de 29% nos primeiros dez meses do ano.
Além da quebra de obras, as empresas de construção civil enfrentam outros dois graves problemas. Um é a dificuldade de terem acesso ao crédito, um mal que não é exclusivo do sector da construção, mas que tem consequências muito penosas para quem não tem obras em carteira, tem apartamentos invendáveis há muito tempo ou opta mesmo por vender ao desbarato para realizar algum dinheiro. O outro é o enorme atraso no pagamento de obras públicas, nomeadamente pelas câmaras municipais.
Até final de Julho, as autarquias demoravam, em média, cerca de 7,7 meses para pagar às empresas de construção civil, mais 24 dias do que o prazo verificado no período homólogo de 2010. E, mais grave ainda, estes prazos de pagamento ultrapassavam em muito os 172 dias, limite legalmente estabelecido para a liquidação de facturas pelos organismos estatais. Num cenário que tem vindo a agravar-se todos os meses, as insolvências batem todos os recordes e as empresas da construção civil representavam 18,4% do total de insolvências registadas no país até final de Setembro.
E se a actualidade é muito negra, o futuro imediato é pior ainda. A grande maioria das empresas de construção civil tem trabalho para 4,8 meses. Não mais. Isto significa que, no cenário de recessão e austeridade previsto para 2012, a construção civil vai continuar a despedir milhares de empregados e a fechar muitas empresas. É difícil calcular até que ponto pode chegar o desemprego, mas, além do problema social e económico, empresários do sector não têm dúvidas de que muitos milhares irão engrossar os mais de 700 mil inscritos nos centros de emprego e muitos destes irão, por questões de sobrevivência, sair dos estaleiros e das obras para o roubo e o crime. Um problema que o poder político conhece, mas que está incapaz de resolver. E isto porque a quebra no investimento e nas obras públicas é uma realidade que veio para ficar.
* Catástrofe é a palavra exacta.
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