HOJE NO
" i"
Guerra aberta nas secretas
Silva Carvalho queixa-se de violação do seu email.
O PSD suspeita que houve escutas ilegais.
Há instabilidade nos serviços
No mundo das informações as coincidências não existem. O caso Bairrão e a polémica que envolve Jorge Silva Carvalho, o ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), hoje assessor do conselho de administração da Ongoing, "parecem ser epifenómenos de uma guerra de poder pelo controlo dos serviços de informações" que envolve agentes políticos, ligações à maçonaria, escutas ilegais, violação de correspondência e "poderosas influências exteriores aos próprios serviços", diz ao i, sob anonimato, uma fonte das informações portuguesas.
A questão é tão sensível politicamente que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, vai chamar a si todas as decisões sobre matéria de inteligência, das nomeações de chefias seniores à reestruturação do sistema.
O governo inscreveu no seu programa "a valorização do papel das informações, consagrando medidas de reforço de coordenação da sua actividade, que poderão passar pela implementação de um serviço único, com direcções separadas para a área interna e para a área externa, mas com serviços técnicos e de apoios conjuntos". A ideia do serviço único de informações, com a fusão do SIS (Serviço de Informações de Segurança) e do SIED (Serviço de Informações Estratégicas de Defesa) é, aliás, uma das causas da instabilidade que se vive hoje nos serviços.
"É visível o posicionamento táctico de pessoas e grupos, as aproximações e os afastamentos no interior dos departamentos, até porque haverá mudanças de chefias", confidencia uma outra fonte da comunidade de inteligência. "Mas uma boa parte desta instabilidade resulta de poderosas influências exteriores, que nada têm que ver com as pessoas que trabalham nos serviços de informações. Só há uma certeza: a incerteza é enorme", diz a mesma fonte.
O homem que ficar à frente do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), hoje ocupado por Júlio Pereira, terá imenso poder. E o nome que o governo escolher será o melhor indicador de quem vencerá "a guerra".
SIRP Dois nomes estiveram já em equação, soube o i: Jorge Silva Carvalho e Paulo Vizeu Pinheiro. O primeiro demitiu- -se em Novembro de 2010 nas vésperas da cimeira da NATO em Portugal. O segundo já foi director do então SIEDM, hoje SIED, e transitou de Bruxelas, onde estava com Durão Barroso, para o gabinete do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Cerca de 15 dias depois da demissão, Silva Carvalho ingressou na Ongoing por via do seu amigo e "irmão" maçon Nuno Vasconcellos - ambos pertencem à Loja Mozart 49 da Grande Loja Regular de Portugal, como publicou a revista "Sábado". Silva Carvalho foi visto a jantar com Pedro Passos Coelho ainda no ano passado, muito antes da campanha eleitoral que levaria o líder do PSD ao poder, e o assunto foi amplamente comentado nos serviços de informações.
Silva Carvalho foi sondado há poucas semanas pelo governo para suceder a Júlio Pereira como secretário-geral do SIRP. De resto, o "Correio da Manhã" noticiou, no domingo, esta sondagem e avançava que, depois de o "Expresso" ter publicado que Silva Carvalho terá passado informações sensíveis à Ongoing quando ainda estava no SIED, a hipótese terá sido descartada". O governo não desmentiu a notícia.
Entretanto, Silva Carvalho admitiu ontem, em entrevista ao "Diário de Notícias", que transmitiu informações à Ongoing mas desmentiu qualquer violação do segredo de Estado: "Tudo foi feito dentro da lei, registado, documentado, com autorização superior." Os seus advogados, Nuno Morais Sarmento e João Medeiros, entregaram ontem uma queixa-crime contra terceiros na Procuradoria-Geral da República, alegando violação de correspondência e privacidade. "Através de datas e destinatários conseguimos perceber que alguém acedeu, indevidamente, a uma conta pessoal de email, conheceu o conteúdo de correspondência privada e deu conhecimento disso, seja lá o que isso for, a outros", disse Morais Sarmento. Terá sido essa a informação divulgada. Logo no sábado em que a notícia foi publicada, o primeiro-ministro fez saber que pediu um inquérito nos serviços secretos sobre eventuais fugas de informação.
Escutas? "Jorge Silva Carvalho tem muitos defeitos - e tem imensos anticorpos nos serviços - mas a estupidez não é um deles", diz ao i fonte dos serviços. "Dificilmente faria uma borrada destas, passar informação confidencial dos serviços através do seu email pessoal. "Mas se houve violação do email pessoal de Silva Carvalho, esta queixa na PGR tem como objectivo chegar à pessoa ou pessoas que estão por trás do esquema e não ao "Expresso", diz um homem que trabalhou com o ex-director do SIED. Uma outra fonte, do serviço externo, indica que "existe a forte suspeita de que a violação do email de Silva Carvalho está relacionada com as escutas ilegais feitas a elementos da direcção do PSD durante a campanha eleitoral". Este caso deu origem a uma denúncia do PSD no Ministério Público e a procuradora distrital de Lisboa, Francisca van Dunen, abriu um inquérito, como o "Sol" noticiou a 8 de Julho. "A relação entre os dois casos não é coincidência", nota fonte das informações.
Silva Carvalho demitiu-se do SIED por discordar das alterações do serviço externo que, por pressão orçamental, fechou várias antenas no exterior. As que ficaram concentram-se nos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China,) o que terá sido decido por Júlio Pereira, um homem de Macau que é maçon e irmão, na Loja Universalis (GOL), de Heitor Romana - escolhido para Moscovo. Romana é um histórico do SIS, lançou as informações em Macau e chegou director-adjunto do então SIEDM. Júlio Pereira nomeou-o para director de Recursos Humanos dos dois serviços de espionagem, como a Sábado publicou em Abril de 2009.
O governo está agora a avaliar se vale a pena manter antenas em Pequim e Moscovo, segundo informações recolhidas pelo i.
* Mas são estes os serviços que zelam pela segurança dos portugueses, com estas trampolinices???
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