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IN "VISÃO"
13/07/20
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Os delfins
É sempre uma maravilha quando as pessoas sabem o que é preciso. Mesmo quando não fazem ideia de quanto custa ou para que serve
Quando o ministro das Finanças, de quem se dizia ser meio governo, fugiu
para pastagens mais verdejantes, o primeiro-ministro, num involuntário
ato de contrição, disse irritado que “há pessoas a quem o confinamento
deve ter feito mal”. Se alguma vez tivesse habitado no mundo real sempre
perceberia melhor a evidência e os motivos da tautologia que lhe
pareceu oportuno partilhar, mas, para deixar as coisas sérias já pelo
primeiro parágrafo, receio que esta “fixação de residência” da Covid-19
já lhe tenha mesmo impossibilitado tanto o esforço de suplantação que se
impunha como até mesmo a compreensão de boa parte do que está para vir.
Como se viu, ao primeiro sinal do óbvio – que a total
ausência de estratégia para reabrir não é em nada alheia ao agravar da
situação –, o nosso comandante limitou-se a perder a cabeça com a
ministra à frente de todos no Infarmed, onde, pelos vistos, há demasiada
ciência para acreditar em milagres. E por aqui ficamos de coisas sérias
nesta vida de celofane.
Mudando de assunto, ou talvez não, tempos destes, lá está, são sempre
propícios a um certo circo e se o confinamento não foi bom conselheiro
sempre entretém com pouco e assim nos valeram, pour cause e até
para distrair da falta de oposição e apatia do Parlamento, os que o
partido socialista apresenta como sucessores do líder: Fernando Medina e
Pedro Nuno Santos.
O primeiro, que anda claramente em perda, aproveitou a boleia do
primoroso raspanete do líder à ministra para, com a mesma elegância e
sentido de responsabilidade, se atirar como um leão de televisão à
gestão da pandemia na cidade dele.
Com ar de quem exigia ser ministro da Saúde, depois de ter andado de
bilha na mão e a tirar fotografias com aviões de material alheio quando
tudo parecia correr bem, disse mais do que Maomé sobre o toucinho sobre o
desnorte do Governo, agora quando tudo começou a correr mal. Ou, pelo
menos, foi o que quis fazer crer para depois, na costumeira saída de
sendeiro, sussurrar que o problema é com uns burocratas. Enfim, fez
barulho. No dia seguinte, foi em instalações municipais que a pandemia
evoluiu no concelho.
Já o Delfim que vai à frente, para nosso azar, escolheu um tema
graúdo para brincar aos crescidos, a TAP. E deixou-nos com um presente
inolvidável. É sempre uma maravilha quando as pessoas sabem o que é
preciso. Mesmo quando não fazem ideia de quanto custa ou para que serve.
O ministro acabou três semanas de intensa atividade (depois de vários
meses de isolamento social por via da “aterragem” do Montijo) eufórico
numa conferência de imprensa, a roubar o palco ao ministro das Finanças
para perorar quase uma hora de bazófias sobre tudo ao contrário –
nacionalização, prémios de gestão e outros que tais – do que antes
afirmara com a mesmíssima tonitruância e certeza.
Particularmente patusco foi o momento em que, na resposta a uma
pergunta direta e simples, se engasgou e se percebeu que não percebia o
que tinha acontecido aos empréstimos de Neeleman, depois de lhe ter
pago, como todos dizem, mais do que a Lufthansa ia fazer antes da
pandemia pela mesma parte do capital.
É o que temos. É fazer as contas, para perceber quantos contribuintes
são precisos para juntar estes primeiros 1 200 milhões e esperar que
chegue pelo menos até ao fim do ano.
Tudo isto até podia ter alguma graça, pouca, se o PS não fosse
estando cada vez mais perto da velha ambição escondida de ser a doce
União Nacional da democracia que faz do Estado casa.
É que se for mesmo um destes dois senhores que acaba a pegar no
cajado, a direita liberal e moderada que tinha a obrigação de
representar a maioria silenciosa – mas só caminha para a irrelevância
enquanto deixa medrar tudo o que é daninho à volta– será a primeira
responsável por ter falido na alternativa. Assim como um condenado que
adivinhava a pena e nada fez para a evitar mas, no último momento, bate
no degrau a subir para a guilhotina e exclama: tropeçar dá azar.
IN "VISÃO"
13/07/20
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