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HOJE NO
"SOL"
“Só nos regimes totalitários se
inventam factos para perseguir
pessoas”, diz defesa de Azeredo Lopes
Advogado diz que participação de ex-ministro é uma ficção e mostra-se inflamado com o Ministério Público no caso de Tancos.
O advogado do ex-ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes, acusado
por envolvimento na encenação montada em torno da recuperação das armas
de Tancos, admitiu esta terça-feira, no segundo dia de debate
instrutório do caso, que a acusação contra o seu cliente se trata de um
“caso político” e que resultou apenas de uma “manipulação de factos”,
bem como de uma “invenção”.
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Em declarações à saída do Tribunal de Monsanto, em Lisboa,
onde decorre o debate instrutório, Germano Marques da Silva disse
existir uma “motivação qualquer” que leva Azeredo Lopes a ser acusado de
crimes como prevaricação, denegação de justiça, abuso de poder e ainda
favorecimento pessoal praticado por funcionário.
“É um caso eminentemente político porque, se não há provas e se
existe uma acusação, tem de haver uma motivação qualquer. Só nos regimes
totalitários se inventam factos para perseguir alguém”, atirou o
advogado, falando também de “um exercício de ficção”.
“O processo penal não é um romance nem um filme e os meios
não justificam os fins. Não há uma única prova de que Azeredo Lopes
tenha dado instruções ao seu chefe de gabinete para esconder e não
arquivar um documento sobre as diligências efetuadas pela Polícia
Judiciária Militar (PJM) para recuperar as armas”, defendeu. Utilizando
estes argumentos, a defesa de Azeredo Lopes pediu que o arguido seja
ilibado “para que se restaure a confiança na justiça”. Além disso,
Germano Marques da Silva referiu também que a investigação que envolve o
ex-ministro foi marcada por vários vícios, levando a uma deslealdade
processual.
“Azeredo Lopes nunca teve conhecimento de qualquer comportamento
ilícito da PJM na recuperação das armas nem esteve a par de qualquer
investigação paralela”, reforçou o advogado, assegurando ainda que Luís
Vieira, ex-diretor da PJM, “nunca esteve” na casa de Azeredo Lopes.
Aliás, disse que este nunca esteve concertado com Luís Vieira, tal como
havia referido a procuradora Cláudia Porto nesta fase processual.
“Essa concertação é falsa. A acusação assenta no pressuposto de uma
relação próxima entre Azeredo Lopes e Luís Vieira. É uma solução
ardilosa”, defendeu. Na sessão desta terça-feira do debate instrutório,
as defesas de António Laranjinha, acusado do furto das armas de Tancos
juntamente com o ex-fuzileiro e também arguido João Paulino, e de Lima
Santos, sargento da GNR, negaram igualmente as acusações, alegando falta
de provas e contradições no processo.
Ministério Público quer todos os arguidos em julgamento
O Ministério Público (MP), que quer que tanto Azeredo Lopes como os
restantes 22 acusados no processo vão a julgamento, sublinha que o
ex-ministro não respeitou deveres funcionais e que os crimes de que é
acusado são de uma “extrema gravidade”, referindo que colidem com os
fins institucionais de cargos públicos que ocupava.
A magistrada do MP decidiu apresentar as suas alegações por escrito,
num documento com perto de 750 páginas, tendo, no entanto, deixado
algumas palavras duras quanto ao comportamento dos arguidos. Segundo a
agência Lusa, Cláudia Porto referiu que “houve uma nítida concertação
das defesas nesta fase instrutória em comparação com o que foi dito em
inquérito”. Isto é, a acusação considera que os arguidos combinaram as
suas versões para que batessem certo. E foi mais longe ao dar como
exemplo o caso de Luís Vieira e de Azeredo Lopes, que à data do assalto
eram, respetivamente, diretor da PJM e responsável pela pasta da Defesa
Nacional.
Neste processo, estão acusados não pelo furto, mas pela simulação do
achamento das armas na Chamusca e por alegadamente terem fomentado uma
investigação paralela à da PJ civil. Mas não foram os únicos, segundo o
MP: o ex-fuzileiro João Paulino, uma das peças-chave do furto, também
“beneficiou claramente das declarações dos seus amigos e arguidos Pinto
da Costa (PJM) e Bruno Ataíde (militar da GNR)”.
Para a procuradora Cláudia Porto, o trabalho da Polícia Judiciária
civil foi de alta qualidade, por permitir não só apanhar quem furtou
como também quem pôs em curso uma investigação paralela. Esse trabalho
da PJ civil, assegurou, foi fundamental para que o MP apresentasse “uma
acusação consistente”.
* Tal como os advogados nós também gostamos de dizer coisas: "Só nos regimes democráticos os vigaristas têm direito a presunção de inocência"
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