30/04/2020

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HOJE  NO 
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No maior departamento de cirurgia do país, toda a gente se chegou à frente

Há uma linha da frente no combate à covid-19 e depois há todos os outros batalhões, dentro de um hospital, que “perderam” camas para alargar a resposta direta à pandemia e fazem contas à quebra nos outros doentes. No departamento de cirurgia do Hospital de Santa Maria, o maior do país, as operações programadas baixaram para metade em março. O diretor, João Coutinho, diz que o que custa mais é os doentes não poderem ter visitas. A maior preocupação? Que nenhum elemento tombe com o vírus.

No longo corredor no sétimo piso do Hospital de Santa Maria, onde costumava fervilhar o entra-e-sai dos blocos operatórios, vê-se apenas uma bata verde. “Só ao domingo é que isto estava assim”, diz João Coutinho, diretor do departamento de cirurgia do Centro Hospitalar Lisboa Norte. 
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É como se fosse domingo há várias semanas e os balanços vão-se fazendo, num tempo em que o regresso à normalidade ainda parece distante, mas há planos para começar a recuperar listas de operações e consultas que ficaram por fazer nas últimas semanas. Numa das salas de cirurgia está a ser operada uma doente com cancro da mama, dos casos inadiáveis. O médico da bata verde é anestesiologista, um dos veteranos da casa. Como João Coutinho, a um ano da reforma. Continua, como outros colegas da mesma geração, nesta outra linha da frente da epidemia, porque há doentes que continuam a ser operados e também pessoas com diagnóstico positivo de covid-19 a precisar de uma cirurgia.

O departamento de cirurgia do Centro Hospitalar Lisboa Norte é o maior do país, diz João Coutinho, que fala com orgulho do serviço, antes da pandemia e agora, apesar das contingências. O departamento incorporou a cirurgia 1 e 2 do Santa Maria e a cirurgia do Pulido Valente, dedicada à cirurgia de ambulatório. São 74 cirurgiões, 18 internos de especialidades de cirurgia geral, mais as restantes especialidades como otorrino, oftalmologia e ginecologia, e internos que chegam anualmente de Moçambique e de outros países, além das equipas de enfermagem, auxiliares e técnicos. Não se esquece de elogiar ninguém agora que, em 36 anos de casa, passaram pela maior transformação de que tem memória no hospital. “É uma mudança terrível. Mas, vendo bem, foi uma mudança bem estruturada, com cabeça, houve formação de grupos de trabalho, e cada um tomou conta da sua área, o que ajuda a explicar o êxito de Santa Maria em relação à covid-19”.

Os efeitos colaterais na quebra da atividade normal são incontornáveis, mas a gestão tem procurado ser criteriosa. Tinham 93 camas nas enfermarias e UCI para os doentes em pré e pós-operatório e “perderam” a grande maioria para as áreas dedicadas à covid. O verbo é esse, mas a necessidade de que foi preciso concentrar a resposta no embate contra a pandemia foi consensual. “Custa”, confessa o diretor de serviço. Ficaram 35 camas na cirurgia 2, no piso 5, o que diminui por si só a capacidade para internar doentes - logo, também para os chamar para operação, e essa é uma das dificuldades, além da orientação geral para que fossem suspensas as cirurgias não urgentes, entretanto revogada. Em fevereiro, o serviço tinha feito 186 operações programadas e, em março, caíram para 93 - os números de abril ainda não estão fechados, mas a recuperação não foi possível nas últimas semanas e havia a expetativa de que pudesse começar gradualmente nos últimos dias do mês. Nas consultas, a quebra ainda é maior. “Fazíamos 2046 consultas e passámos para 500, é um rombo enorme”, diz João Coutinho.

* Como utentes do HSM só temos que dizer bem, não por haver só casos de sucesso mas porque o atendimento profissional versus doente foi sempre bom apesar de alguma morosidade no atendimento em algumas situações. Estamos mesmo muito gratos aos profissionais do hospital.

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