24/03/2020

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HOJE NO 
"DINHEIRO VIVO"
Portugueses gastam 250 milhões numa semana em compras de supermercado

Corrida aos supermercados subiu 14% com a epidemia. Portugueses gastaram mais 30 milhões de euros entre 24 de fevereiro e 1 de março do que em igual período do ano passado.

Os portugueses correram aos supermercados quando surgiram os primeiros sinais de preocupação com o Covid-19, mas foi a Sul que a corrida foi mais acelerada. Só em Lisboa, de 24 de fevereiro a 1 de março, o efeito Covid-19 triplicou a tendência de procura dos consumidores. Em Viana do Castelo e Braga a subida foi de 14%. Numa semana, os portugueses gastaram 250 milhões de euros para encher o carrinho de supermercado. Mais 30 milhões do que em igual período do ano passado, de acordo com os dados do Barómetro da Nielsen.
Em média, as vendas nos hipers e supermercados subiram 14% entre as categorias de alimentação, detergentes e produtos de higiene e frescos, quando desde o início do ano a tendência se situava nos 6%, segundo os dados do barómetro semanal da Nielsen. Depois de Lisboa (18%) são os distritos de Setúbal (16%), Leiria (16%) e Santarém (15%) os que mais registaram subidas no seu volume de compras. A Norte, depois de Viana do Castelo e Braga, o distrito do Porto (13%) foi o que mais cresceu.
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 “Na semana analisada inicialmente pela Nielsen, onde se notam os primeiros impactos do Covid-19 no consumo em Portugal (semana de 24 de fevereiro a 1 de março), as vendas nos hipers e supers em Portugal ultrapassaram os 250 milhões de euros, representando um aumento de 14% comparativamente com o mesmo período em 2019, que registou vendas em valor de cerca de 220 milhões de euros”, revela Marta Teotónio Pereira, client consultant senior da Nielsen, ao Dinheiro Vivo. 
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Nessa semana o Covid-19 passou a ser uma realidade mais próxima para os portugueses: a Organização Mundial da Saúde alertou para o risco de pandemia, na Europa o número de casos diários registados ultrapassava os da China e, em Portugal, a Direção-Geral da Saúde alertou as empresas para a necessidade de planos de contingência. E os consumidores reagiram. Na hora de encher o carrinho de supermercado as escolhas refletiam as suas preocupações: bens alimentares, saúde e limpeza. As vendas de conservas (+42%), produtos ricos em vitamina C (kiwi +39%, laranja +37%, tangerina/clementina +37%) e produtos básicos (+36%) registaram subidas significativas. As preocupações com a saúde e a limpeza também levaram a um crescimento de vendas dos detergentes e produtos de higiene, observável na subida das vendas nas categorias cuidados de saúde (+40%) e acessórios de limpeza (+38%), onde estão incluídas as luvas. E foram os hipermercados, com um sortido de oferta mais alargado, que mais beneficiaram, com este tipo de lojas a registar crescimentos de 20%, seguidos dos supermercados grandes (+18%) e super mercados pequenos (+5%). Mas é expetável que, com o decorrer das semanas, a questão da proximidade conquiste um maior dinamismo, acredita a Nielsen.

“O comportamento dos consumidores portugueses vai ao encontro daquele a que assistimos também noutras geografias que se encontram a lidar com esta pandemia. A Nielsen identificou seis etapas de adaptação a esta nova realidade: a compra pró-ativa de produtos de saúde, a gestão reativa da saúde, a preparação da despensa, a preparação para a quarentena, a vida com restrições, e, finalmente, a nova normalidade”, descreve Marta Teotónio Pereira. “Neste contexto, e de forma natural, registámos nesta primeira semana de impactos uma preocupação acrescida dos portugueses com a saúde, o armazenamento de produtos alimentares, o cuidado pessoal e a limpeza, comprovada pelos crescimentos acentuados das categorias relacionadas com estes tópicos”, refere a responsável da empresa de estudos de mercado.
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A procura que deve continuar, com a empresa a estimar que “se continuem a registar aumentos significativos em muitas das categorias dos bens de grande consumo, tal como temos assistido nos países cujos impactos do Covid-19 se fizeram notar mais cedo.”

O que compraram os portugueses o ano passado?
Os últimos dois meses estão a ser atípicos, com um gasto extraordinário das famílias nas compras do supermercado, que dependendo se o mesmo se mantiver os próximos meses poderá ter na fatura média final do ano dos lares nacionais com as compras de supermercado.
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No início de 2020 o mercado estava a crescer na ordem dos 6%, vindo de um 2019 onde em média as famílias foram às compras 136 vezes e gastaram 2.907 euros. Globalmente, o ano passado registou-se um crescimento de 4,8% do consumo, uma subida face ao período homólogo em que já crescia 3,8%. Um crescimento sustentado sobretudo pelo aumento de volumes (+3,6%), registando-se também crescimento no efeito-preço (+1,2%), segundo o relatório Growth Reporter, da Nielsen, a que o Dinheiro Vivo teve acesso. 
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“Neste ano, assistimos a duas tendências opostas no que diz respeito aos preços: por um lado, as marcas da distribuição conquistaram mais espaço no mercado (35,3%), com um crescimento superior ao das marcas de fabricante. Por outro lado, os produtos premium de valor acrescentado mostram-se muito dinâmicos”, refere a Nielsen.
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“Os dados apresentados no Anuário de 2019 evidenciam a importância dos principais drivers de consumo, sobre os quais temos vindo a falar ao longo deste período. Os crescimentos significativos em categorias de conveniência, como os congelados e desidratados, de saúde, como os produtos com base vegetal ou de indulgência e prazer, como a confeitaria e aperitivos, espelham aquilo que é o consumo atual”, descreve Paulo Monteiro, client consultant manager da Nielsen. 
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Só o ano passado os portugueses gastaram 849,6 milhões em congelados e gelados, 661,1 milhões em bebidas não alcoólicas, 531,6 milhões em queijos e 466,7 milhões em vinhos.
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Mas não só. “Os portugueses mostraram-se, durante o ano de 2019, mais preocupados com a saúde e o bem-estar daqueles que lhes estão mais próximos, quer no que diz respeito a si próprios e às suas famílias, como demonstra o crescimento entre segmentos na área da alimentação saudável e da higiene pessoal, mas também dos seus animais de estimação, levando ao crescimento de alguns segmentos na área da Pet Food”, refere Paulo Monteiro. 
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Nos canais de retalho, no setor alimentar, assistimos a crescimentos significativos nas categorias de pet food (+7%); produtos com base vegetal (+7%) – onde se incluem as bebidas vegetais; confeitaria e aperitivos (+7%); congelados e gelados (+6%); desidratados (+6%) e bebidas quentes (+5%), revela o estudo da Nielsen. 
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Já na categoria de higiene pessoal, os mercados de papel higiénico (126 milhões de euros), champôs (90 milhões) e dentífricos (73 milhões) são os de maior dimensão em 2019. Relativamente à área de Higiene do Lar, o mercado de detergentes de máquina de roupa domina (182 milhões), com valores expressivos comparativamente às restantes categorias. 
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“No total do ano, assistiu-se a um crescimento tanto em volume, que demonstra um cenário muito positivo do consumo em Portugal, como em efeito-preço, concluindo-se que, para além de comprarem mais, os consumidores procuram produtos de valor acrescentado e que lhes tragam algum tipo de benefício, seja ele qual for, mesmo que a preços mais elevados”, diz Paulo Monteiro. 
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Fora do lar, no canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafés), o sector das bebidas tem um crescimento de 14%, enquanto nos canais de retalho o crescimento foi de 6%. 
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Destaca-se no consumo fora de casa o mercado de cervejas, com um crescimento de 14%. São a categoria mais relevante no sector das bebidas, totalizando 1,238 milhões de euros. Destaque para os cafés torrados, que atingiram em 2019 o valor de 436 milhões de euros. 
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“Com maior confiança e valorização do seu tempo de lazer, os consumidores portugueses mostraram-se, em 2019, muito disponíveis para o consumo fora do lar. Os canais Horeca ganham cada vez maior importância na vida e no consumo de um shopper, que procura, acima de produtos, experiências gratificantes”, explica Paulo Monteiro, client consultant manager da Nielsen. 
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No que diz respeito ao setor de Drug, 2019 fica marcado pelos comportamentos positivos tanto em limpeza caseira como em higiene pessoal. No sector da higiene pessoal, destacam-se os produtos de Higiene Oral (+6%), Higiene e Beleza (+5%) e Derivados de Papel (+5%). No da limpeza caseira, todos os mercados cresceram, sendo que os mais positivos foram a limpeza e manutenção da casa (+8%), os acessórios de limpeza e conservação (+5%) e a desodorização e desinfestação do lar (+5%). A lavagem e tratamento da roupa continua a ser o mercado mais importante e apresenta um dinamismo de 5%.

* Depois da alarvidade do açambarcamento já vimos quilos de pão junto a caixotes de lixo.

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