17/02/2020

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HOJE NO 
"OBSERVADOR"
Ex-professor chinês crítico de
 Xi Jinping em prisão domiciliária 
e sem acesso à internet: "Esta pode 
ser a última coisa que escrevo"

Ex-docente, opositor de Xi Jinping que criticou a forma como governo lidou com coronavírus, esteve em prisão domiciliária e está sem acesso à internet. "Esta pode ser a última coisa que escrevo."

Xu Zhangrun, um antigo professor universitário chinês crítico do presidente Xi Jinping e que escreveu um texto a criticar a forma como o governo lidou com o surto de coronavírus, foi colocado em prisão domiciliária e está atualmente sem acesso à internet.
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A notícia é avançada pelo jornal britânico The Guardian, que cita amigos próximos do docente.
No seu texto, intitulado “Viral Alarm: When Fury Overcomes Fear” (“Alerta Viral: Quando a Fúria Ultrapassa o Medo”, numa tradução livre) e que foi divulgado no início do mês, Zhangrun considerou que o surto, que já matou 1.770 pessoas na China, “revelou o núcleo podre do governo chinês”. “O coração frágil e vazio do edifício instável do Estado ficou assim à mostra como nunca antes”, lê-se ainda.

O ex-docente, que foi despedido em março do ano passado da Universidade de Tsinghua  por escrever ensaios a criticar o Partido Comunista chinês e Xi Jinping em particular — que apelida de o “chairman de tudo” —,  já antecipava que iria ser alvo de “novos castigos”: “Ao escrever como o faço aqui, posso agora facilmente prever que vou ser submetido a novos castigos; na verdade, esta pode mesmo ser a última coisa que escrevo, mas isso não cabe a mim dizer”. E foi precisamente isso que aconteceu.

Desde a publicação do texto que as suas contas de WeChat — uma aplicação de mensagens — e Weibo — semelhante ao Twitter — foram canceladas, referem os amigos de Zhangrun.

Segundo um deles, que falou com o Guardian no domingo sob anonimato, o antigo professor universitário esteve em prisão domiciliária em Pequim até à semana passada. Foi a polícia que o prendeu em casa, sob pretexto de ter de ser posto sob quarentena devido ao novo coronavírus. Uma situação que começou pouco tempo depois de o ex-docente ter regressado da sua cidade natal a propósito dos festejos de Ano Novo.

“Ele esteve de facto em prisão domiciliária e os seus movimentos foram limitados”, disse o amigo, acrescentando que, nessa altura, não só havia dois agentes à porta de sua casa, como também houve agentes a irem de propósito a sua casa para o alertarem.

Apesar de já não estar retido em casa, está sem acesso à internet desde sexta-feira. “Ele tentou resolver [o problema], mas descobriu que o seu endereço de IP foi bloqueado”, afirmou ainda o amigo, referindo ainda que o facto de viver nos arredores de Pequim e de estar “longe de lojas e outros serviço”, torna a situação “difícil” para antigo docente.

Comunicar com Zhangrun também não tem sido fácil: ninguém conseguiu falar com ele por telemóvel no domingo, mas houve um amigo que trocou algumas mensagens escritas com o ex-professor universitário: “Ele receia estar sob vigilância. Não respondeu diretamente às minhas perguntas, mas disse para não me preocupar.”

* O espectáculo da ditadura chinesa, o PCP considera Xi um democrata.

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