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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
02/12/19
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Ursula e o
novo mundo europeu
Mais de seis meses depois das eleições para o Parlamento Europeu, a
Comissão Europeia toma finalmente posse e inicia as suas atividades esta
semana.
Ursula Von Der Leyen (ou Ursula ou VdL, veremos) inicia o
seu mandato condicionada, principalmente, por três fatores:
fragmentação político-partidária das Instituições, crescente
conflitualidade e competição internacional, e uma agenda verde imposta
pela rua.
Institucionalmente, já não há maioria, nem no
Parlamento nem no Conselho, apenas com os dois partidos de sempre:
socialistas e democrata-cristãos conservadores (PPE). No Parlamento, não
é possível fazer maiorias sem incluir os liberais. E ninguém quer fazer
completamente contra os verdes, cuja força eleitoral à esquerda, entre
os jovens e no espaço público é crescente.
No Conselho, igualmente
indispensável para aprovar o que quer que seja, a situação é oposta.
Além dos tradicionais socialistas e populares, também há os liberais,
que são praticamente um terço dos governos europeus, mas, por outro
lado, há uma maior pressão conservadora e de direita, por força da
influência de governos como o polaco e o húngaro, e não só. E há Macron.
A saída dos britânicos e o apagamento de Merkel deixam o presidente
francês sozinho no palco dos líderes europeus.
Deste cenário
tanto pode emergir uma liderança nacional forte, francesa,
provavelmente, ou da própria presidente da Comissão, como podemos
assistir a um longo impasse e fragmentação europeia. Ou o habitual
compromisso lentamente guiará as Instituições.
Internacionalmente,
a situação é de crescente conflitualidade e competição. A Europa e o
Médio Oriente já não são o que mais importa aos americanos. O adversário
da América é assumidamente a China, que tem uma estratégia de conquista
de influência na Europa e em África.
A nossa aliança militar, política e global com os Estados Unidos está
enfraquecida. E embora para muitos continue a dever ser a pedra angular
do Ocidente, a verdade, em qualquer circunstância, é que a Europa terá
sempre de assumir maiores responsabilidades pela sua segurança e
relevância global.
Na cabeça de Ursula Von der Leyen, ser uma
Comissão geopolítica é responder a esta circunstância. Passar o foco da
política interna à internacional, do mercado interno e da construção
europeia para uma ideia de potência global. Para isso, estes líderes
europeus acreditam que é necessário criar capacidades militares,
desenvolver, ao lado, uma indústria que serve a defesa e se serve da
defesa, ter empresas de referência na economia digital para concorrer
com os gigantes e com a liderança tecnológica de americanos e chineses, e
estimular a atividade económica com novos investimentos promovidos pelo
Estado mas financiados maioritariamente pelos privados.
O guião
para ler a próxima Comissão Europeia será essa trilogia: digital, defesa
e investimentos verdes, num mundo onde a Europa acha que a China é um
rival e um competidor e a América um aliado competitivo. Trinta anos
depois da queda do muro, o mundo finalmente mudou.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
02/12/19
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