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IN "VISÃO"
05/07/19
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O Estado não passa
cartão ao cidadão
À secretária de Estado aconteceu o mesmo que a mim, quando vou à Loja do Cidadão: penso que tenho tudo certinho e afinal não, falta um papel, um carimbo ou uma assinatura
Primeiro, a secretária de Estado da Justiça disse que a culpa dos
atrasos no levantamento do cartão de cidadão também era dos próprios
cidadãos, que vão para a loja antes de as portas abrirem. Foi uma forma
bastante delicada de dizer “desamparem-me a loja”. Neste caso, a Loja do
Cidadão. Mas depois o ministério desmentiu a secretária de Estado e
disse que não, que a culpa dos atrasos não era dos cidadãos. Ou seja,
até para culpar os responsáveis pelo atraso é preciso tirar senha e ir
para a fila. À secretária de Estado aconteceu o mesmo que a mim, quando
vou à Loja do Cidadão: penso que tenho tudo certinho e afinal não, falta
um papel, um carimbo ou uma assinatura. No caso da secretária de Estado
faltava a assinatura da ministra, que não queria subscrever aquela
tese. É desagradável, porque depois é preciso voltar a preencher a
papelada toda e ainda se passa uma vergonha ou duas durante o processo.
Acontece. A secretária de Estado precipitou-se ao culpar as pessoas que
se precipitam para a Loja do Cidadão. Foi um caso de culpabilização
precoce.
E,
no entanto, a secretária de Estado tinha razão. Se os cidadãos não
fossem para a Loja do Cidadão, o atendimento era muito mais rápido. Isto
parece-me indiscutível. É difícil, aliás, compreender o comportamento
dos cidadãos. As ferragens não se aglomeram à entrada da loja de
ferragens; os brinquedos não vão de madrugada para a porta da loja dos
brinquedos. Logo por azar, os cidadãos são atraídos pela Loja do Cidadão
como as traças pela luz. Os próprios atrasos nos hospitais são, em
grande medida, provocados pela obstinação dos cidadãos que, a pretexto
de se encontrarem doentes, vão entupir corredores e salas de espera. Com
a sobrelotação dos transportes acontece o mesmo. Os cidadãos
movimentam-se aos magotes, aparentemente com o único propósito de criar
embaraços ao governo. Não custava nada fazerem uma escala para usarem os
serviços públicos em pequenos grupos de 20 ou 30 cidadãos de cada vez,
por exemplo. Pois fazem exactamente o contrário. Que vontade de
embirrar.
IN "VISÃO"
05/07/19
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