HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS
A história de Dino, o PSP traficante que
.fintou as polícias durante 17 anos
.fintou as polícias durante 17 anos
O agente Bernardino Mota, detido este mês pela PSP, já tinha sido investigado pela PJ e suspenso de funções quase um ano. Quando os colegas o confrontavam com a vida de luxo que exibia, atribuía-a à mulher, uma DJ famosa
"Não é um indivíduo comum. É muito perspicaz, atento e tem
profundos conhecimentos de contra vigilância - bastava suspeitar de
alguém que parasse o carro ao seu lado num semáforo e olhasse para ele,
para ir logo ver a de quem era a matrícula. Nunca facilitava. Nunca era
ele a transportar a droga. Só uma vez baixou a guarda. E foi aí que o
apanhámos".
.
O oficial superior da PSP que descreveu assim Bernardino Mota - o "Dino"
para colegas e amigos - não esconde alguma amargura pelos anos (17) que
demorou até conseguirem apanhar este agente principal de Gondomar,
delegado sindical do maior sindicado desta polícia, detido há uma semana com 120 quilos de haxixe, e em prisão preventiva, por suspeita de tráfico de droga.
Esta fonte que acompanhou o inquérito da PSP, aberto no início de 2018 e
coordenado pelo Departamento de Investigação Criminal (DIC) desta força
de segurança revelou ao DN algumas peculiaridades deste caso - cujo
processo, quando chegou a estes investigadores, já estava volumoso.
Investigado pela PJ desde 2002 e à beira de ser expulso da PSP em 2009
Uma delas é o facto de o agente, de acordo com o que a PSP consultou
através do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), ser
conhecido da Polícia Judiciária (PJ), pelo menos, desde 2002, data em
que terá sido aberto o primeiro de vários inquéritos contra si, desde
tráfico de droga, a viciação de viaturas, injúrias, entre outros. No
entanto, nunca foi deduzida acusação. Nem a PSP informada.
Do lado da PSP, a exibição de riqueza, muito acima do orçamento de um polícia de base, também levantou suspeitas. Carros topo de gama, incluindo um Ferrari, e férias em locais paradisíacos eram justificados por Bernardino pelo facto da sua mulher ser uma DJ famosa no norte do país. Dizia que eram ofertas à DJ (que não está sob suspeita).
Ainda
assim, o Comando do Porto estranhou este estilo de vida, quis
investigar, mas terá sido barrado na Unidade de Coordenação e
Intervenção Conjunta (UCIC), um órgão sob a coordenação e direção
estratégica e tática da PJ, que articula as investigações dos vários
órgãos de polícia criminal relacionadas com tráfico de estupefacientes.
"A
última vez que isso aconteceu foi em 2016, quando o agente exibia uma
vida de luxo que levantava suspeitas a todos. A Divisão de Investigação
Criminal do Comando do Porto quis investigar, mas não deixaram", sublinha outra fonte da PSP que também conhece o caso.
Questionada
pelo DN, a PJ não explicou o porquê desta alegada posição na UCIC. A
Procuradoria-Geral da República (PGR) também não respondeu ao pedido de
esclarecimento sobre os anteriores inquéritos.
Mas não é só isto que causa interrogações sobre como "Dino", mesmo na mira das autoridades, conseguiu ficar 17 anos impune.
Internamente,
na própria PSP, "Dino" já tinha sido alvo de, pelo menos, dois
processos disciplinares. No último deles, em 2009, por ter disparado sem
justificação contra uma viatura, esteve à beira de ser expulso. Foi
castigado com 220 dias de suspensão, a punição máxima antes da expulsão.
Apanhado numa escuta a traficantes
Só quando, no final de 2017, o nome de Bernardino foi
apanhado numa escuta da PSP a um grupo de traficantes da Amadora, e o
Departamento de Investigação Criminal - que coordena a atividade de
investigação de todos os comandos da PSP e responde diretamente ao
diretor nacional adjunto para a área operacional - abriu um inquérito, é
que se conheceu todo este histórico do agente.
"Por uma
questão de estratégia e eficácia da investigação, não foram envolvidos
operacionais do Porto, pois Bernardino conhecia-os a todos, nem o
Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto, pelos mesmos
motivos", sublinha o mesmo oficial.
A PSP deu conhecimento ao
então diretor do DCIAP, Amadeu Guerra, de todos os antecedentes do caso e
o agora diretor da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, atribuiu a
coordenação da investigação a um magistrado daquele departamento
responsável pelos processos criminais "mais graves e complexos".
.
A
partir daqui foram apenas 16 meses até conseguirem caçar "Dino". As
duas equipas especiais de investigação do Departamento de Investigação
Criminal (DIC), com peritos em vigilâncias e seguimentos, foram
destacadas para o caso.
Meia tonelada de haxixe por mês
"Foi preciso muita, muita paciência, para ele ter um
deslize", revela a mesma fonte que esteve envolvida na investigação.
Bernardino era extremamente cauteloso, não dava hipótese. Quando ia
buscar droga ao sul de Espanha, quatro vezes por mês, a uma média de
meia tonelada por mês, nunca era ele próprio que a transportava. Tinha
três cúmplices, que também foram detidos, que serviam de batedores e iam
à frente, vigiados à distância pelo agente.
No domingo,
dia sete de julho, foi o seu dia de azar. A perseverança e os 30 mil
quilómetros de vigilâncias das equipas do DIC foi compensada, quando,
ainda não se sabe bem porquê, Bernardino "baixou a guarda" e foi
apanhado no Montijo, em flagrante delito, juntamente com outros três
homens, no seu regresso de Espanha com 120 quilos (249 mil doses) de
haxixe. O próprio "Dino" tinha junto ao corpo duas "tabletes" de haxixe,
confirmou ao DN fonte policial.
Segundo o comunicado da PSP
difundido no dia seguinte, na sequência dessa intervenção "foram
efetuadas 6 buscas domiciliárias e duas não domiciliárias, que
culminaram na apreensão de mais 1000 doses de estupefaciente, 15 000
euros em dinheiro, 4 viaturas utilizadas pela organização
para o desenvolvimento da sua atividade e outros artigos relevantes para
o inquérito em curso".
A operação contou, além do DIC, com os comandos de Lisboa, do Porto e
de Faro e a investigação teve também o apoio do Corpo Nacional de
Polícia do Reino de Espanha.
Este processo veio dar consistência a uma análise dos peritos da investigação da PSP, segundo a qual "Dino"
integra um novo perfil de traficantes, que classificam de "traficante
de classe média": "enquanto antes este tipo de traficantes ia buscar a
droga e guardava-a em casa ou noutro sítio, para a ir vendendo. Neste
caso, iam buscar a droga por encomenda de alguém, que a compra logo na
totalidade e depois a vende a retalho", explica fonte desta força de segurança.
A PSP tem "notado um aumento muito grande de circulação de haxixe do sul de Espanha, proveniente de Marrocos, para Portugal".
De acordo com as estatísticas oficiais da Justiça, as apreensões de haxixe duplicaram nos últimos cinco anos.
* De realçar o excelente trabalho das equipas de investigação, do criminoso é apenas mais um que proporciona morte lenta aos consumidores, um assassino-retard.
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