HOJE NO
"DINHEIRO VIVO"
Bruxelas.
Travagem no emprego enfraquece
poder salarial dos portugueses
“O desempenho da indústria portuguesa está a sofrer com a menor procura externa”, avisa a Comissão Europeia nas novas previsões do verão de 2019.
O “recente abrandamento” no emprego em
Portugal está a fazer com que o crescimento dos salários esteja a ter
menos impacto do que o esperado na retoma da economia, constata a
Comissão Europeia (CE), nas novas previsões intercalares de verão,
divulgadas ontem, quarta-feira.
.
.
Dito de outra forma, “o crescimento dos salários é mais elevado do que a
inflação [um indicador de que o poder de compra está a subir], mas o
seu impacto na procura agregada é parcialmente contrariado pelo recente
abrandamento na criação de emprego”, refere o novo estudo.
Ou seja, havia receios de que o crescimento
mais rápido dos salários pudesse alimentar muito o consumo privado,
levantando dúvidas quanto ao risco de agravamento do défice externo da
economia, por exemplo, pois muito do consumo é feito em bens e serviços
importados.
Aparentemente, a Comissão mostra-se agora menos inquieta com isso. De facto, o crescimento do emprego tem vindo a sofrer uma travagem a fundo desde meados de 2017.
No caso dos trabalhadores por conta de outrem (quase 4,1 milhões de pessoas, o grupo mais importante do mercado laboral), o ritmo de expansão do emprego estava nos 4,6% no terceiro e quarto trimestre de 2017, tendo afundado para uns meros 0,8% no primeiro trimestre deste ano, indica o INE.
É o registo mais fraco desde meados de 2013, mas nessa altura Portugal
estava numa grave crise e submetido ao programa de ajustamento da
troika.
Este enfraquecimento no ritmo do emprego dilui assim a importância dos
aumentos salariais que, segundo a CE, podem estar a acontecer acima do
nível da inflação (mais poder de compra).
No entanto, mostra a Comissão, os aumentos salariais em Portugal continuam a ser relativamente fracos quando comparados com os de outros países. Em 2018, o crescimento das compensações (salários brutos) por trabalhador ficou em 2%. A média da zona euro foi 2,2%. Na Alemanha, a maior economia da área da moeda única, o aumento médio chegou a 3%.
No mesmo estudo, Bruxelas chama a atenção para as fragilidades que estão
por sanar na economia portuguesa, reiterando que, no futuro próximo, os
riscos são sempre mais negativos do que positivos.
A CE manteve a previsão de crescimento que tinha na primavera (1,7% este ano), abaixo do valor esperado pelo governo (1,9%) e bastante abaixo dos 2,2% que servem de base para o Orçamento de Estado deste ano.
O crescimento da zona euro, onde estão os maiores parceiros de Portugal, pode afundar para apenas 1,2% em 2019, igual ao que se dizia na primavera (previsões de maio).
Diz a CE que “prevê-se que o crescimento do
produto interno bruto (PIB) diminua marginalmente ao longo do horizonte
de previsão, refletindo principalmente um ambiente externo menos
favorável. O crescimento do consumo privado também deve enfraquecer,
enquanto o investimento deve acelerar, mantido pelo ciclo de absorção
dos fundos da União Europeia (UE)”.
No entanto, “os riscos para as perspetivas económicas do país permanecem
no lado negativo, refletindo o recente aumento na volatilidade da
produção industrial e do saldo de comércio exterior do país”.
A questão, alerta a CE, é que Portugal (tal como muitos outros países
europeus) já está a sofrer com a crise comercial global, o que também
ajuda a explica o abrandamento no emprego já que os empresários podem
estar a adiar ou a redimensionar investimentos à luz desta incerteza.
Se por um lado, “o sector dos serviços, sobretudo o turismo, continua a sustentar o crescimento”, “o desempenho da indústria portuguesa está a sofrer com a menor procura externa”, defende Bruxelas.
“A economia europeia continua a expandir-se num contexto mundial difícil”, observou o comissário europeu da Economia, Pierre Moscovici, na conferência de imprensa que deu ontem na capital belga.
* Há dias referimos que a crise portuguesa estava bem maquilhada, esta notícia confirma.
Sem comentários:
Enviar um comentário