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IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
02/03/19
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Bolsonaro lusitano
em construção
O tiro
de partida, é preciso recordar, foi dado pela Esquerda, que surpreendeu
toda agente e se uniu, tendo como cimento dessa união a necessidade de
impedir Passos Coelho e a Direita de continuarem a governar.
Tendo
ganho as eleições, os militantes da Direita Alternativa passaram a ter
como desígnio único a recuperação do poder, custe o que custar, demore o
tempo que demorar. A Esquerda unida deu o pretexto para o sonho de
federar toda a Direita. Pouco importa que existam direitas que estão
mais próximas do PS e até direitas que estão mais próximas dos radicais
de Esquerda, porque os extremos se tocam. O inimigo é o socialismo, mas
também o PSD que não se resigna a entregar o partido como barriga de
aluguer para um assalto ao poder.
Este
tipo de movimentos não vive sem um líder carismático e é a falta desse
Messias que mais tem contribuído para atrasar a afirmação do populismo
de Direita em Portugal. É um populismo que transforma toda a classe
política em potenciais corruptos, os imigrantes num foco de conflitos e
os verdadeiramente pobres em caçadores de subsídios.
Sejamos
honestos, se eles espreitam a oportunidade de se afirmar, e nós vemos
como o populismo cresce em todo o lado, são os partidos tradicionais que
tudo fazem para lhes escancarar a porta. Por cá, o bloco central não
perde uma oportunidade para aparecer como uma agência de lobistas, mais
interessada no seu próprio bem-estar do que no bem-estar de todos os
portugueses.
A alteração, à última
hora, do diploma que previa mais restrições para os deputados-advogados e
oriundos do setor financeiro, contrariando o que o PSD e o PS andaram a
defender nos últimos três anos de trabalho no Parlamento, mais as
notícias sobre as nomeações de familiares para os gabinetes
governamentais, institutos e empresas públicas, são o pólen com que se
faz o mel de que se alimenta o populismo. Nestes processos, o urso
parece sempre um animal inofensivo, até ao momento em que dá o abraço. O
que preocupa em movimentos como o 5.7 é a quantidade de pessoas capazes
e sérias e que dão um ar normal à coisa, sabendo todos que essas serão
as pessoas que vão saltar fora quando derem conta do radicalismo que
está na sua génese. Quem lá vai ficar são mesmo os mais
desqualificados,
porque só esses estarão dispostos a viver do medo, para sobreviverem
politicamente.
P.S.: E sobre Rio? Nem um pio?
Não
passou assim tanto tempo desde que foi suspensa a novela com críticas
diárias à liderança de Rui Rio e que culminaram com um desafio à sua
liderança. Tudo era um desastre na ação política do líder do PSD, diziam
os críticos internos e repetia a maioria do comentariado. Dele só se
poderia esperar o desastre e, por isso, era preciso substituí-lo. Agora,
estão calados porque já perceberam que andaram a trabalhar para o
futuro político de Rio.
Colocaram as expectativas tão em baixo, que até
lhes custa a engolir que o partido esteja a recuperar nas sondagens. A
perspetiva de ficarem muito tempo no desemprego acabará por levar muitos
deles para outro lado.
*JORNALISTA
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
02/03/19
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