03/04/2019

PAULO BALDAIA

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Bolsonaro lusitano 
em construção

O tiro de partida, é preciso recordar, foi dado pela Esquerda, que surpreendeu toda agente e se uniu, tendo como cimento dessa união a necessidade de impedir Passos Coelho e a Direita de continuarem a governar.

Tendo ganho as eleições, os militantes da Direita Alternativa passaram a ter como desígnio único a recuperação do poder, custe o que custar, demore o tempo que demorar. A Esquerda unida deu o pretexto para o sonho de federar toda a Direita. Pouco importa que existam direitas que estão mais próximas do PS e até direitas que estão mais próximas dos radicais de Esquerda, porque os extremos se tocam. O inimigo é o socialismo, mas também o PSD que não se resigna a entregar o partido como barriga de aluguer para um assalto ao poder.

Este tipo de movimentos não vive sem um líder carismático e é a falta desse Messias que mais tem contribuído para atrasar a afirmação do populismo de Direita em Portugal. É um populismo que transforma toda a classe política em potenciais corruptos, os imigrantes num foco de conflitos e os verdadeiramente pobres em caçadores de subsídios.

Sejamos honestos, se eles espreitam a oportunidade de se afirmar, e nós vemos como o populismo cresce em todo o lado, são os partidos tradicionais que tudo fazem para lhes escancarar a porta. Por cá, o bloco central não perde uma oportunidade para aparecer como uma agência de lobistas, mais interessada no seu próprio bem-estar do que no bem-estar de todos os portugueses.

A alteração, à última hora, do diploma que previa mais restrições para os deputados-advogados e oriundos do setor financeiro, contrariando o que o PSD e o PS andaram a defender nos últimos três anos de trabalho no Parlamento, mais as notícias sobre as nomeações de familiares para os gabinetes governamentais, institutos e empresas públicas, são o pólen com que se faz o mel de que se alimenta o populismo. Nestes processos, o urso parece sempre um animal inofensivo, até ao momento em que dá o abraço. O que preocupa em movimentos como o 5.7 é a quantidade de pessoas capazes e sérias e que dão um ar normal à coisa, sabendo todos que essas serão as pessoas que vão saltar fora quando derem conta do radicalismo que está na sua génese. Quem lá vai ficar são mesmo os mais 
desqualificados, porque só esses estarão dispostos a viver do medo, para sobreviverem politicamente.

P.S.: E sobre Rio? Nem um pio?
Não passou assim tanto tempo desde que foi suspensa a novela com críticas diárias à liderança de Rui Rio e que culminaram com um desafio à sua liderança. Tudo era um desastre na ação política do líder do PSD, diziam os críticos internos e repetia a maioria do comentariado. Dele só se poderia esperar o desastre e, por isso, era preciso substituí-lo. Agora, estão calados porque já perceberam que andaram a trabalhar para o futuro político de Rio. 

Colocaram as expectativas tão em baixo, que até lhes custa a engolir que o partido esteja a recuperar nas sondagens. A perspetiva de ficarem muito tempo no desemprego acabará por levar muitos deles para outro lado.

*JORNALISTA

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
02/03/19








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