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"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Maioria das crianças afetadas por
.homicídios não tem apoio específico
.homicídios não tem apoio específico
A maior
parte das crianças afetadas por homicídios não tem apoio específico
depois do crime, denunciou a APAV, que apoia por ano entre 10 a 14
crianças órfãs.
Em entrevista à
agência Lusa, o responsável pela Rede de Apoio a Familiares e Amigos de
Vítimas de Homicídios (RAFAVH), da Associação Portuguesa de Apoio à
Vítima (APAV), admitiu que "há claramente muitas crianças e jovens que
são vítimas diretas das situações de homicídio que não recebem apoio
especializado para estas situações".
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Bruno Brito adiantou que a APAV apoia
"mais ou menos entre um terço a um quarto" dos cerca de cem homicídios
que, em média, acontecem todos os anos em Portugal, sendo que em cada um
dos casos é ajudada mais do que uma pessoa afetada, desde logo porque
pode haver cônjuge, filhos ou pais da vítima.
"Nós
devemos andar, mais ou menos, na média das 70 pessoas que são apoiadas
por ano, com vários atendimentos", referiu o responsável da RAFAVH
acrescentando que entre elas estão também crianças que ficaram órfãs em
contexto de violência doméstica, em casos em que um dos progenitores foi
morto e o outro ou se suicidou ou foi preso.
Segundo
Bruno Brito, os menores acompanhados pela APAV representarão cerca de
20% do total de pessoas apoiadas, ou seja, entre 10 e 14 crianças órfãs
na sequência de um homicídio.
Bruno
Brito revelou que todas estas pessoas chegam à APAV sobretudo graças ao
sistema de referenciação, que inclui, por exemplo, a Polícia
Judiciária, mas também o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)
ou o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, bem como
todas as instituições que são a primeira linha de ação nestas situações
de crime, seja como primeiro apoio, seja pela investigação.
Na
sua opinião, "haverá com certeza crianças que não têm este apoio",
desde logo porque este depende da recetividade das famílias, ao
contrário do que acontece em países como o Reino Unido, por exemplo, em
que o sistema de referenciação de vítimas é automático e abrange todas
as pessoas que sofrem um qualquer crime.
Além
do apoio da APAV, as crianças órfãs podem pedir à Comissão de Proteção
às Vítimas de Crime (CPVC) um adiantamento de indemnização, previsto
para as vítimas de crimes violentos e de violência doméstica.
Dados
da CPVC, divulgados à Lusa, mostram que no ano passado houve nove
"filhos de vítimas de homicídio em situação de violência doméstica" que
obtiveram este apoio, metade dos que o tiveram em 2017.
No
total dos oito anos de atividade, entre 2011 e 2018, a CPVC apoiou
financeiramente 163 crianças órfãs, 104 com idade até aos 14 anos, e 59
com idade entre os 15 e os 17 anos.
Por outro lado, segundo o Instituto de
Segurança Social, em 2017, havia 590 crianças e jovens à guarda do
Estado por violência doméstica, 23 a viver em casas-abrigo.
Bruno
Brito admitiu que "as necessidades destas crianças estão a ser
negligenciadas", desde logo porque "o sistema só atua quando há
problemas", como quando a criança se torna, por exemplo, um jovem
delinquente, tem comportamentos de maior agressividade, atrasos na
aprendizagem ou é alvo de 'bullying' na escola.
"O
sistema está a agir reativamente e não preventivamente, o que acaba por
ter aqui um fator de negligência, porque o sistema conhece as
fragilidades e vulnerabilidades que são criadas numa situação de
criminalidade", criticou.
Para Bruno
Brito, o serviço de apoio à vítima deveria ser sempre apresentado e
avaliado em todas as situações em que o crime acontece e lembrou que as
crianças não lidam com a morte nem fazem o luto da mesma forma que os
adultos, havendo, muitas vezes, uma incompreensão em relação ao que se
está a passar que pode conduzir a situações de isolamento.
O
responsável pela Rede de Apoio a Familiares e Amigos de Vítimas de
Homicídios explicou que é preciso "olhar atentamente" para perceber que a
criança também está a fazer o seu processo de luto, já que os mais
novos procuram "fazer com que a sua vida se mantenha o mais normal
possível" e não dão sinais tão evidentes de tristeza, procurando
vínculos de afeto.
Bruno Brito alertou
ainda para as consequências da falta de apoio, desde logo pelo risco de a
criança replicar os comportamentos agressivos, e defendeu a sinalização
e o acompanhamento para todas as vítimas.
* E os políticos muito caladinhos.
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