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IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
07/02/19
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Acabar com a pobreza
é possível enfrentando as
desigualdades entre países
São necessárias transformações fundamentais no futuro, para reduzir as diferenças de rendimento entre os países e dentro deles. Segundo as estimativas da ONU, sem mudanças significativas, mais de 7% da população mundial poderá continuar na pobreza até 2030.
Os líderes mundiais comprometeram-se a acabar com a pobreza até 2030.
Alcançar esse objetivo significa conseguir, durante a próxima década,
reduções acentuadas nas desigualdades de rendimento, de oportunidades,
de género, de exposição ao risco, entre países e dentro dos países.
A desigualdade é um
reconhecido obstáculo para a erradicação da pobreza, assim como muitos
outros desafios para o desenvolvimento, e apresenta-se em múltiplas
dimensões na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que
constitui o plano universalmente aceite para promover a prosperidade e o
bem-estar social, protegendo o meio ambiente.
De acordo
com diversas informações estatísticas, a desigualdade de rendimentos
entre os países diminuiu um pouco nas últimas décadas, graças ao forte
crescimento económico registado no leste e no sul da Ásia. Contudo, há
muitos países, particularmente em África, na Ásia Ocidental e na América
Latina e Caraíbas, onde os níveis de rendimento continuaram a cair,
exacerbando as desigualdades de rendimentos entre países.
A
análise mais recente das Nações Unidas no "World Economic Situation and
Prospects 2019" indica que os níveis de rendimento "per capita"
estagnaram ou declinaram em 47 economias em desenvolvimento e em
transição no ano passado. A maioria desses países tem retrocedido
constantemente ao longo de várias décadas. Esta realidade representa um
enorme desafio à medida que os países se esforçam para reduzir a
pobreza, desenvolver infraestruturas essenciais, criar empregos e apoiar
a diversificação económica. A maioria das nações menos desenvolvidas é
altamente dependente de matérias-primas, o que enfatiza a importância de
diversificar e bem gerir os recursos naturais para explorar o seu
potencial de desenvolvimento. Vários países viveram também longos
conflitos armados ou distúrbios civis e instabilidade política.
Se
esta tendência continuar, será cada vez mais difícil erradicar a
pobreza e criar emprego para todos. O fraco desempenho económico também
está ligado ao insuficiente investimento em educação de qualidade,
serviços de saúde, proteção social, programas para grupos marginalizados
e mitigação e adaptação às alterações climáticas.
O
crescimento mais rápido do PIB, por si só, não levará necessariamente a
melhorias significativas nos padrões de vida. Desigualdades profundas
persistem na distribuição de riqueza dentro dos países, atuando como uma
grande barreira ao desenvolvimento. A elevada desigualdade dos países
ao nível interno está associada à exclusão e à fragmentação social, à má
governação, ao aumento do risco de violência e de conflito interno.
São
necessárias transformações fundamentais no futuro, para reduzir as
diferenças de rendimento entre os países e dentro deles. Segundo as
estimativas da ONU, sem mudanças significativas, mais de 7% da população
mundial poderá continuar na pobreza até 2030, incluindo cerca de 30% da
população de África e dos países menos desenvolvidos.
No
caso do continente africano, onde a população está a crescer a uma taxa
superior a 2% ao ano, reduzir os níveis de pobreza extrema para menos de
5% até 2030 exigirá uma combinação de crescimento de dois dígitos do
PIB e declínios dramáticos nas desigualdades, uma situação sem
precedentes.
Medidas políticas integradas e transversais
que potenciam as perspetivas de crescimento económico e reduzam as
desigualdades de rendimento são essenciais para um mundo mais
sustentável e inclusivo. Para tal é necessário investir na educação, na
saúde, na resiliência às alterações climáticas e na inclusão financeira e
digital, para apoiar o crescimento económico e a criação de empregos no
curto prazo, promovendo o desenvolvimento sustentável a longo prazo.
A
estabilidade macroeconómica e um sólido programa de políticas
orientadas para o desenvolvimento, incluindo um sistema financeiro
robusto e eficaz, são elementos-chave para enfrentar com sucesso as
desigualdades. Políticas fiscais bem projetadas podem ajudar a suavizar o
ciclo de negócios, fornecer bens públicos, corrigir falhas de mercado e
influenciar diretamente a distribuição de rendimento. A ampliação do
acesso à educação de qualidade é também crucial, aliada a políticas de
emprego, como o aumento do salário mínimo e o aumento da proteção
social. A prioridade no desenvolvimento de infraestruturas rurais, por
meio de investimentos públicos em transportes, na agricultura e na
energia, pode também apoiar o alívio da pobreza e diminuir as
desigualdades dentro dos países.
Embora não exista uma
solução única de políticas que garanta uma sociedade mais igualitária e
próspera, é evidente que os apelos para erradicar a pobreza não fazem
sentido sem uma ação política concertada e comprometida na redução das
desigualdades.
* Subsecretário-Geral da ONU para os Assuntos Económicos e Sociais
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
07/02/19
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