26/12/2018

RUI SÁ

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 O mamarracho não é filho 
de pais incógnitos

Nenhum de nós é indiferente ao que vê. Pelo que não acredito que algum de nós nunca tenha sido acometido de sentimentos de encanto ou de repulsa ao contemplar edifícios num qualquer espaço.

Sendo certo que há edifícios que, com o tempo, mudam a nossa maneira de os ver - a Casa da Música é, para mim, portuense que a viu nascer, um desses exemplos em que "primeiro se estranha e, depois, se entranha". Estes sentimentos fazem-nos questionar quem terá sido o arquiteto que a concebeu (quando gostamos) ou "quem foi o responsável que permitiu isto" (quando não gostamos).

O edifício que está a ser construído na marginal do Porto, junto à Ponte da Arrábida, ainda não passa de um esqueleto de betão, mas já grande parte dos portuenses o abominam. Pela volumetria aprovada, pela proximidade à ponte (que é monumento nacional) e pela forma como o processo andou pelos corredores da Câmara Municipal do Porto.

Espero, por isso e sinceramente, que a sua construção possa vir a ser interrompida. Pelo que desejo que o Ministério Público, com todos os dados que, por diversas vias, lhe estão a chegar, encontre ilegalidades que lhe permitam embargar a obra (dado que a Comissão Eventual criada pela Assembleia Municipal do Porto, a que me orgulho ter pertencido, não as detetou - ética não é lei e "crimes" políticos não são crimes jurídicos...).

Mas, enquanto o mamarracho cresce, importa que os portuenses saibam o nome daqueles que, com as suas ações, são os "pais da criança". E, do ponto de vista político, a "criança" teve vários "pais". Nuno Cardoso quando, no seu último dia como presidente da Câmara, proferiu um despacho ambíguo, homologando um parecer dos serviços municipais favorável à obra. A que se seguiu Lino Ferreira, vereador do Urbanismo em 2009, que, fazendo tábua rasa de todas as posições que, desde 8 de janeiro de 2002, a Câmara do Porto tinha defendido (considerando que o promotor não tinha direitos adquiridos) decidiu aprovar um PIP (este sim deu direitos aos promotores imobiliários). Sendo que, até essa altura (e mesmo depois...), a Câmara sempre tinha visto os seus argumentos validados nos tribunais!...

Lino Ferreira fê-lo, no entanto, em consonância com Rui Rio, que não teve a coragem de resistir às imposições dos proprietários dos terrenos do Parque da Cidade (de que os proprietários da Arrábida são sucedâneos), aprovando este edifício da marginal como contrapartida do acordo no Parque da Cidade (escondendo este facto da Câmara, da Assembleia Municipal, do Tribunal de Contas e dos portuenses). Por isso, se o edifício for concluído, bem pode chamar-se "o mamarracho do Cardoso, do Lino e do Rio"......

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
24/12/18

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