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O mamarracho não é filho
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
24/12/18
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O mamarracho não é filho
de pais incógnitos
Nenhum
de nós é indiferente ao que vê. Pelo que não acredito que algum de nós
nunca tenha sido acometido de sentimentos de encanto ou de repulsa ao
contemplar edifícios num qualquer espaço.
Sendo
certo que há edifícios que, com o tempo, mudam a nossa maneira de os
ver - a Casa da Música é, para mim, portuense que a viu nascer, um
desses exemplos em que "primeiro se estranha e, depois, se entranha".
Estes sentimentos fazem-nos questionar quem terá sido o arquiteto que a
concebeu (quando gostamos) ou "quem foi o responsável que permitiu isto"
(quando não gostamos).
O
edifício que está a ser construído na marginal do Porto, junto à Ponte
da Arrábida, ainda não passa de um esqueleto de betão, mas já grande
parte dos portuenses o abominam. Pela volumetria aprovada, pela
proximidade à ponte (que é monumento nacional) e pela forma como o
processo andou pelos corredores da Câmara Municipal do Porto.
Espero,
por isso e sinceramente, que a sua construção possa vir a ser
interrompida. Pelo que desejo que o Ministério Público, com todos os
dados que, por diversas vias, lhe estão a chegar, encontre ilegalidades
que lhe permitam embargar a obra (dado que a Comissão Eventual criada
pela Assembleia Municipal do Porto, a que me orgulho ter pertencido, não
as detetou - ética não é lei e "crimes" políticos não são crimes
jurídicos...).
Mas, enquanto o
mamarracho cresce, importa que os portuenses saibam o nome daqueles que,
com as suas ações, são os "pais da criança". E, do ponto de vista
político, a "criança" teve vários "pais". Nuno Cardoso quando, no seu
último dia como presidente da Câmara, proferiu um despacho ambíguo,
homologando um parecer dos serviços municipais favorável à obra. A que
se seguiu Lino Ferreira, vereador do Urbanismo em 2009, que, fazendo
tábua rasa de todas as posições que, desde 8 de janeiro de 2002, a
Câmara do Porto tinha defendido (considerando que o promotor não tinha
direitos adquiridos) decidiu aprovar um PIP (este sim deu direitos aos
promotores imobiliários). Sendo que, até essa altura (e mesmo
depois...), a Câmara sempre tinha visto os seus argumentos validados nos
tribunais!...
Lino Ferreira fê-lo, no
entanto, em consonância com Rui Rio, que não teve a coragem de resistir
às imposições dos proprietários dos terrenos do Parque da Cidade (de que
os proprietários da Arrábida são sucedâneos), aprovando este edifício
da marginal como contrapartida do acordo no Parque da Cidade (escondendo
este facto da Câmara, da Assembleia Municipal, do Tribunal de Contas e
dos portuenses). Por isso, se o edifício for concluído, bem pode
chamar-se "o mamarracho do Cardoso, do Lino e do Rio"......
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
24/12/18
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