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IN "SOL"
18/12/18
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As novas drogas
para as crianças
Limitar o acesso às playstations e afins deverá ser uma prioridade porque os mais novos não têm capacidade de autocontrolo
Para os pais de hoje, gerir os videojogos com os mais novos é um
processo cada vez mais difícil. A oferta nesta área é extremamente
atrativa e os jovens não lhe conseguem resistir. Os pais mais
conscientes enfrentam um processo complicado para limitar o acesso a
esta maçã envenenada, mas há também aqueles que não veem qualquer tipo
de problema no facto de uma criança passar o dia inteiro em frente a uma
consola ou a um telemóvel.
Em nossa casa ainda não aderimos a playstations e afins, mas
os nossos filhos devem ser os únicos da escola sem estes aparelhos e os
amigos devem imaginá-los a viver na casa dos Flinstones. Mesmo a
maioria das famílias com mais dificuldades não dispensam uma consola com
dezenas de jogos. Quando há uns anos trabalhei em bairros sociais
contactei com crianças que podiam ir para a escola sem comer, que não
tinham dinheiro para passeios ou visitas de estudo. Todos os pais se
queixavam de dificuldades financeiras, mas era raro quem não tinha em
casa um destes aparelhos.
Este ano, depois de algumas divergências sobre o assunto, a
Organização Mundial da Saúde classificou os ‘distúrbios com videojogos’
como um problema de saúde mental, quando se verifica uma falta de
controlo crescente que começa a ter implicações a vários níveis, como a
alimentação, o sono, o humor ou o isolamento.
Não seriam necessárias provas científicas para verificar que o
estímulo e vício deste entretenimento pode ser tão grande como o da
nicotina ou outras drogas. Basta assistirmos ao efeito que a privação do
mesmo tem em algumas crianças e jovens com uma maior propensão para
esta dependência.
Não teria nada contra jogar de forma controlada e limitada alguns
tipos de videojogos – embora continue a achar outros totalmente
desadequados sobretudo em idades mais novas – não fosse o facto de
rapidamente a vontade de jogar se tornar uma dependência. Por incrível
que pareça, a partir dos dois anos já é comum vermos crianças que
parecem hipnotizadas, agarradas aos telemóveis dos pais, alheando-se
totalmente do que está à sua volta, exaltando-se de forma descontrolada e
agressiva quando o aparelho lhes é retirado, acaba a bateria ou algo
interfere com o jogo, bem como demasiado ansiosas pelo regresso do
mesmo. Já ouvi até de várias crianças que preferem ficar sozinhas com um
desses aparelhos a fazer outras coisas como estar com os amigos, ir a
um treino de futebol ou praticar outras atividades bem mas saudáveis.
Este é um problema grave, que tem consequências nefastas na saúde das
nossas crianças e jovens, e que tem de ser gerido com sensibilidade e
bom senso. Os pais devem pesar se o tempo de tranquilidade que estes
hábitos lhes garantem – e de prazer que parecem oferecer aos seus filhos
– não poderá ter implicações muito negativas.
Limitar o acesso deverá
ser uma prioridade porque os mais novos não têm essa capacidade de
autocontrolo. Seria importante crescerem com regras e não acharem normal
abdicar de atividades mais reais, mais enriquecedoras e que contribuem
para um desenvolvimento mais feliz e equilibrado, em troca de alguns
minutos ou mesmo horas a deslizar os dedos naqueles poucos centímetros
de ecrã.
IN "SOL"
18/12/18
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