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19/12/18
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O PANdamentalismo
PANfletário do
PANpulista PAN
Aos poucos, o PAN está a criar grupos de prós e contras e a acentuar fraturas na sociedade
1. Tendo começado por ser um partido de boas ideias e intenções no
qual havia algum conforto em votar, por tratar de questões relacionadas
com a proximidade humana e a proteção da vida animal e do ambiente, o
PAN tem vindo a mudar substancialmente.
Aos poucos, “Pessoas Animais e Natureza” mais parecem pretexto de
procura do poder, aproveitando as naturais clivagens fraturantes da
sociedade sobre certos temas, como o caso das touradas.
Mas essa não é a única matéria. Sistematicamente, PAN vai escavando
divergências e tenta transformá-las em confrontos de prós e contras,
como se não houvesse soluções intermédias. Atinge até patamares
ridículos com a tentativa de alterar provérbios e ditados populares.
A técnica de crescimento adotada pelo PAN é um clássico já visto em
muitos sítios, de várias formas e em tempos diferentes, aliando facetas
populistas a um discurso fundamentalista e panfletário, cheio de
certezas absolutas, na procura de um novo politicamente correto que se
vai impondo por via de uma estratégia mediática e, hoje, das redes
sociais.
Noutros moldes e com outros temas, o PAN mimetiza o que fez o Bloco
de Esquerda, que cresceu com base em temas fraturantes até se tornar o
que é hoje: um partido de poder que até está disponível para ser objeto
de uma OPA política do Partido Socialista.
Esse conformismo e integração no quadro da política tradicional por
parte do Bloco de Esquerda é a oportunidade que os estrategas do PAN
aproveitam para crescer, transformando-o num partido de protesto,
enquanto outros se distanciam dos seus valores de referência e se tornam
mais conformistas.
E assim o PAN cresce, ocupa espaço, ganha influência. Há dias, um
político experiente lembrava que o PAN é atualmente o partido que mais
depressa consegue levar legislação ao plenário da Assembleia da
República, o que é prova de que tem apoios políticos e repercussão na
sociedade. É uma situação que, em si mesmo, nada tem de negativo. Mas o
facto é que há no PAN uma tendência populista e fundamentalista. Há até
nota de uma alegada apetência por um certo tipo de ações radicais, o que
a sua direção nega veementemente.
Seja como for, o PAN tem-se imposto perante a crescente frustração
dos portugueses relativamente aos partidos de direita e de esquerda que
não têm conseguido construir soluções quando governam, o que gera
movimentos alternativos, uns organizados, como o PAN, e outros
inorgânicos, como os coletes amarelos e as novas lideranças sindicais.
2. O trágico acidente de um helicóptero do INEM, que arrastou para a
morte quatro heróis anónimos, feriu o coração dos portugueses. São
mortes que nos surgem mais injustas ainda quando se trata de pessoas em
missão humanitária e em vésperas de Natal. Agrava a tristeza perceber
que, mais uma vez, houve falhas na organização do socorro e do resgate e
que, provavelmente, nunca saberemos o que aconteceu. É a política
irresponsável do tempo que vivemos, em que todos tentam sacudir as
responsabilidades.
3. A gestão do Montepio e a liderança de Tomás correia não para de
surpreender. Depois do estranho processo eleitoral, há nota de outra
situação surrealista. Sucede que a assembleia-geral foi, maliciosamente
ou não, marcada pelo seu presidente, padre Melícias, para o próximo dia
27 de dezembro, com gente fora e em plena quadra natalícia. Se nas
eleições houve uma abstenção de 90%, imagine-se quantas pessoas irão à
assembleia. Se calhar, nem vale a pena reservar uma sala. Um elevador
para meia dúzia de associados é bem capaz de chegar…
4. O escondido. Poderia ser esse o cognome político do ministro do
Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social. É que Vieira da Silva
só aparece para as boas notícias e desaparece quando há problemas. Nas
greves de Setúbal e da enfermagem, quem aguentou foram as suas colegas
do Mar e da Saúde. E sempre que há problemas nos transportes, quem
alomba é Pedro Marques, que tem a cargo as infraestruturas. Assim é
fácil ser considerado um bom ministro, apesar das centenas de greves que
assolam o país. E ainda há quem ache que dava um excelente ministro das
Finanças.
5. O Campo das Cebolas deixou de o ser. Foi rebatizado Largo José
Saramago, o único prémio Nobel português que, por sinal, se
incompatibilizou com o país, exilando-se nas Canárias. Casou até com uma
senhora do país vizinho que ainda hoje não é capaz de dizer duas
palavras na língua de Camões. Saramago é um ícone da nossa cultura. A
sede da fundação Saramago fica bem na Casa dos Bicos mas, pelos vistos,
não chegava para o homenagear. É bem verdade que a toponímia da cidade
de Lisboa bem podia ser revista, mas talvez houvesse outras prioridades.
Por exemplo, Eça de Queirós, o grande Eça, só dá o nome a uma rua
esconsa de Lisboa que vai desaguar na Avenida Duque de Loulé e onde
apenas se destaca a casa de Alvaiázere.
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19/12/18
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