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IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
09/10/18
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A Democracia precisa
de um enorme #elenão
O
candidato fascista à presidência do Brasil passou à segunda volta com
46,3%. Bolsonaro defende a tortura e os assassinatos cometidos pela
ditadura brasileira, justifica a violação de mulheres e propõe a
esterilização dos pobres. É racista e xenófobo.
Bolsonaro
é espectro de uma sombra maior que vai dos EUA à Índia, da Hungria à
Itália. Le Pen não é Trump e Órban não é Bolsonaro. São fenómenos que só
podem ser entendidos no contexto das suas realidades nacionais. Mas,
conforme os casos, a sua normalização foi fruto da sua inserção no campo
da Direita tradicional ou da sua equiparação, sob o rótulo populista, a
partidos da Esquerda.
Há dias, a RTP
falava do "radicalismo de Bolsonaro à Direita e de Haddad à Esquerda".
Como se pudesse comparar-se um democrata, por mais radicais que sejam as
suas ideias (e nem é o caso) aos ultras que ameaçam a Democracia.
Tempos houve em que a Direita democrática e a Esquerda se uniam contra
Le Pen. Hoje vemos conselheiros nacionais do CDS a declarar apoio a
Órban, o xenófobo que lidera a Hungria.
Grave
é também a tentativa de culpabilização do movimento #elenão pelos
resultado de Bolsonaro. Quem o faz argumenta que foi esta plataforma que
deu gás ao candidato fascista. Segundo estas vozes, a culpa pelo
resultado de Bolsonaro seria da campanha que juntou e organizou milhares
de pessoas, sobretudo mulheres, e numerosos movimentos e partidos
contra o fascismo. Entendem que foi demasiado radical e isso, pelos
vistos, incomoda.
Não há provas que
sustentem esta tese. A simples diferença de resultados face às sondagens
não chega. É igualmente possível argumentar que, não fosse o #elenão,
Bolsonaro teria vencido à primeira volta. Além disso, não é clara a
proposta alternativa. Menos incisiva? Se não alertarmos que o fascista é
fascista, ele deixa de o ser? Bolsonaro foi um voto contra os pobres,
contra as mulheres e as minorias, e contou com o apoio declarado das
elites económicas e políticas, de várias igrejas evangélicas, dos
grandes órgãos de Comunicação Social e até da agência de rating Fitch.
Nas
próximas semanas veremos o que predominará: uma vaga massiva que vence o
medo, expressando-se nas ruas e ganhando o coração do povo cansado ou
apenas um acordo das cúpulas derrotadas na primeira volta. Não basta uma
frente dos partidos do establishment para afastar Bolsonaro. A vitória
da Democracia precisa de um enorme #elenão. Espero que isso junte essa
maioria do Brasil que não é fascista, em nome de tudo o que nos liga a
este irmão maior.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
09/10/18
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