10/10/2018

ANTÓNIO MOITA

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Rui Rio não quer ser de direita

O líder social-democrata quer ganhar o centro político e por isso tem vergonha de ser de direita. As suas bases não o conseguem entender. E o eleitorado do centro político para quem António Costa verdadeiramente governa também não.

As circunstâncias históricas que envolveram a criação dos partidos políticos em Portugal deram origem a alguns equívocos que só agora parecem estar a ser resolvidos. O mais evidente é o da matriz social-democrata do PPD, mais tarde PSD. Provavelmente esta discussão não é hoje muito relevante. Mas ajuda a explicar o desconforto crescente das bases com Rui Rio.

Só o momento revolucionário que então se vivia obrigou a que alguns jovens de espírito liberal e formação católica, como Francisco Sá Carneiro, optassem por se deixar marcar ideologicamente por uma corrente muito em voga na Europa e que era, tal como hoje continua a ser, parte de uma grande família política a que importava pertencer - a Internacional Socialista. Só a intervenção de Mário Soares impediu que os "laranjas" portugueses dela se tivessem tornado membros.

O aparecimento inesperado da "geringonça" veio alterar profundamente as regras do jogo político e o quadro partidário bipolarizou-se entre esquerda e direita. O centro político, apesar de continuar a existir sociologicamente e a ditar quem ganha eleições, parece ter deixado de ter representação inequívoca no espetro atual. E o PSD nunca se mostrou confortável com este reposicionamento.

No novo bloco de direita, composto pelo CDS e pelo PSD, há uma enorme convergência ao nível das bases de cada um dos partidos. Retirando desavenças e invejas locais, não existe uma verdadeira diferença de pensamento, de atitude ou de identificação de inimigos entre militantes dos dois partidos. É muito raro sentir que algum militante do PSD fica incomodado quando o acusam de ser de direita. Pelo contrário. Normalmente até o confirma com uma certa dose de orgulho.

O discurso de Rui Rio parece ter esquecido que esta bipolarização aconteceu muito rapidamente e está praticamente assumida pelos eleitores. O líder social-democrata quer ganhar o centro político e por isso tem vergonha de ser de direita. As suas bases não o conseguem entender. E o eleitorado do centro político para quem António Costa verdadeiramente governa também não.

As bases do PSD querem ver Rui Rio combater António Costa. Todos os dias, em todas as frentes, seja a propósito de que assunto for. Se não o fizer, o sentimento de orfandade e de distância será cada vez maior e obrigará o seu eleitorado habitual a escolher entre a postura afirmativa de Assunção Cristas, a aventura de Santana Lopes ou a desistência através da abstenção. Seja como for uma coisa tenho como certa. Se o PSD quiser voltar a ser um grande partido terá de aceitar integrar o espaço político da direita em Portugal. Mas se assim for, dificilmente poderá reivindicar a social-democracia como a sua matriz ideológica. Para sobreviver é necessário fazer escolhas. Se ainda for a tempo.    

Jurista

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
08/10/18

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