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IN "OBSERVADOR"
10/09/18
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Agora, até na Suécia!…
Os factos estão a revelar as trágicas consequências da dicotomia
infeliz entre internacionalismo desenfreado e nacionalismo desenfreado.
Já é mais do que tempo para recusar esse tribalismo primitivo.
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O eventual leitor deste texto terá sobre o autor a
vantagem de poder conhecer os resultados das eleições parlamentares de
ontem na Suécia — que eu não conheço ainda, quando escrevo este texto.
Mas conheço as sondagens e os alertas insistentes da melhor imprensa
internacional das últimas semanas sobre a hipótese de um segundo lugar,
com perto de 20% dos votos, para um partido radical anti-imigração (até
agora praticamente irrelevante).
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Pode ser que os
resultados não tenham confirmado as sondagens. Mas a questão é esta: já
não estamos a falar da Grécia, nem de Espanha, nem da Hungria, ou da
Polónia, nem mesmo de Itália, ou do sempre excêntrico Reino Unido. Agora
estamos a falar da ordeira, liberal e social-democrata Suécia. Por que
motivo estão os eleitores em revolta contra os partidos clássicos — e
‘clássicos’, para mim, é um elogio — nas democracias do Ocidente? E por
que motivo essa revolta foi também agora equacionada, pelo menos como
hipótese, para a ordeira, liberal e social-democrata Suécia?
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Não
pretendo saber a resposta. Mas sustento que os factos estão a refutar
as respostas politicamente correctas que até aqui têm inundado a
comunicação social e os meios ‘bem pensantes’. Dizem eles que está a
ocorrer uma onda ‘nacionalista’, ‘soberanista’ e ‘extremista’ contra os
ideais ‘trans-nacionais’ ou ‘supra-nacionais’ ou ‘multiculturais’ da
democracia liberal.
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A primeira e fundamental questão
que tem de ser colocada (e que venho colocando suavemente desde pelo
menos um artigo que publiquei em 2012 no Journal of Democracy)
é muito simples: por que motivo deveria o sistema de regras gerais, que
constitui a democracia liberal, ser identificado com um programa
substantivo particular, (como é o caso do ‘multiculturalismo’, ou
‘governação supra-nacional’ ou ‘abertura total à imigração’)?
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A
identificação da democracia com um programa substantivo particular é um
erro grosseiro que remonta pelo menos à funesta revolução francesa de
1789 e à versão continental do Iluminismo que a inspirou. Nesta
interpretação, a democracia não deveria ser apenas um sistema de regras
gerais, imparciais e iguais para todos, que pudesse garantir a
concorrência pacífica e a alternância parlamentar entre propostas e
partidos rivais. Na interpretação de 1789, a democracia devia ser uma
‘correcta libertação’ do povo contra preconceitos e tradições que até aí
o tinham oprimido (ainda que, curiosamente, como recordou Isaiah
Berlin, por sua própria vontade).
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O resultado é
conhecido. Em vez da tranquila e civilizada concorrência e alternância
de propostas e partidos rivais no Parlamento (como acontece em
Westminster há pelo menos 329 anos), tivemos no continente europeu
guerras tribais entre seitas rivais, revoluções e contra-revoluções. E
tivemos pobríssimas guerras ideológicas entre primitivos extremismos
rivais — usando comuns linguagens rudimentares, de gosto pelo menos
duvidoso. Por outras palavras, os extremos alimentaram os extremos.
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É isto que está a voltar a acontecer. Como escreveuo norte-americano William Galston na mais recente edição da britânica The Spectator, ‘um
internacionalismo desenfreado alimentará a sua antítese: um
nacionalismo desenfreado’. Este foi também o argumento que ele
apresentou — sob o título, ‘Em defesa de um patriotismo razoável’
— na Palestra Memorial Ralf Dahrendorf, na mais recente edição do
Estoril Political Forum. Sintomaticamente (para quem reparou) o título
global deste Estoril Political Forum precisamente recusava a dicotomia
infeliz entre nacionalismo e internacionalismo. Por isso se chamou ‘Patriotismo, Cosmopolitismo e Democracia’.
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Por
outras palavras, se os partidos clássicos aceitarem a errónea
identificação da democracia liberal com a utopia supra-nacional e a
imigração ilimitada, alguém vai aparecer no mercado eleitoral para
oferecer o que os partidos clássicos não oferecem: a defesa do legítimo
sentimento nacional. Só que esse ‘alguém’ vão ser partidos e/ou
candidatos marginais, muitas vezes extremistas — que vão demagogicamente
ocupar o espaço deixado vazio pelos partidos clássicos e pela sua
incapacidade de defenderem um ‘patriotismo razoável’
IN "OBSERVADOR"
10/09/18
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