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Back to basics
A música é o vinho que enche o copo do silêncio.
Robert Fripp
O arame
Semanada
Dixit
"O mito acabou."
Domingos Jerónimo
"De repente, toda a gente acha que é possível fazer tudo já e ao mesmo tempo."
António Costa
Folhear
Ver
Gosto
Não gosto
Ouvir
Arco da velha
Há 54 presidentes de associações juvenis que têm mais de 60 anos.
Provar
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
06/07/18
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A esquina do Rio
Uma das mais importantes exposições de fotografia deste ano abriu agora em Lisboa, no Museu Berardo, e estará patente até 7 de Outubro
Back to basics
A música é o vinho que enche o copo do silêncio.
Robert Fripp
O arame
Resumo
da semana política: em vésperas da feitura do Orçamento do Estado para o
próximo ano, o Bloco procura espaço, o PC dá vitaminas aos sindicatos e
às suas greves, Costa sacode água do capote das negas que vai dando,
Rio faz exercícios de aquecimento e Marcelo lança foguetes de
sinalização. A geringonça está com falta de óleo nas engrenagens e Costa
insinua a possibilidade de crise, deixa cair que pode ir a eleições
tentar a maioria absoluta se a coligação de esquerda romper ou, se
necessário for, procurar encosto em Rui Rio. O país anda preso por
arames - o endividamento aumenta, o crédito ao consumo voltou a
disparar, a corrupção em organismos públicos grassa, a judiciária
investiga partidos, o ministro da Educação escolheu a época de exames
para andar em parte incerta e deixar a liderança do ensino a Mário
Nogueira, o aeroporto de Lisboa (que é o motor da galinha de ovos de
oiro do Turismo) está num caos, houve mais greves nos últimos dois meses
do que no ano anterior inteiro. A única coisa que funciona
verdadeiramente bem é a propaganda do Governo. O exercício de poder está
a assemelhar-se ao desbobinar de um rol de promessas. Como ouvi numa
conversa esta semana, deixem-nos lá entreterem-se uns com os outros.
Semanada
• Seis organismos públicos foram alvo de investigações sobre corrupção no espaço de um mês
• o valor em crédito ao consumo concedido pelos bancos aumentou 6,9% em Maio, face a igual mês do ano passado
• a dívida do Estado português subiu 300 milhões em Maio, atingindo um novo recorde de 250.313 milhões
• o número de reclamações dos passageiros do transporte aéreo aumentou 35% em 2017
•
o organismo que fiscaliza os subsídios atribuídos pelo Estado considera
que os organismos públicos dão apoios sem rigor nem objectividade
•
o número de acidentes com automóveis sem seguro cresceu 14% no primeiro
trimestre deste ano, em comparação com o período homólogo do ano
passado; em 2017, foram concedidas 46.827 licenças de uso e porte de
armas de caça, cerca de mais 11 mil que no ano anterior
•
a primeira análise às contas da gestão de Bruno de Carvalho no Sporting
detectou dívidas a fornecedores de, pelo menos, 40 milhões de euros
• soube-se
esta semana que a mais valiosa colecção de fotografia portuguesa, do
ex-BES, agora à guarda do Novo Banco, está em más condições de
armazenamento e a deteriorar-se.
Dixit
"O mito acabou."
Domingos Jerónimo
"De repente, toda a gente acha que é possível fazer tudo já e ao mesmo tempo."
António Costa
Folhear
Um
dos mais interessantes estudos sobre a história da fotografia em
Portugal foi recentemente publicado em livro. Chama-se "Infâmia e Fama" e
aborda "o mistério dos primeiros retratos judiciários em Portugal",
mais precisamente no período entre 1869 e 1895. Leonor Sá, a sua autora,
desenvolveu este trabalho no âmbito da sua tese de doutoramento, a
partir de dois álbuns fotográficos, hoje pertencentes à colecção do
advogado Francisco Teixeira da Mota, que os adquiriu em leilão, e que
foram produzidos na Polícia Civil de Lisboa pouco depois da sua criação,
em 1867. Filipa Lowndes Vicente, que é a curadora do Museu da Polícia
Judiciária, escreveu no prefácio que "os tempos da fotografia judiciária
são os tempos mínimos de colocar o detido, ou a detida, quieto, perante
a lente. O momento imediato substitui a encenação e a verdade acaba por
substituir o artifício." E faz notar que enquanto o retrato encomendado
a um estúdio fica na posse do fotografado ou da família, o retrato
judiciário não fica com a pessoa que está representada e é mesmo
provável que essa pessoa nunca o veja. "Nos anti-retratos - como lhes
chama -, os retratados não têm, à partida, direito a olhar para a sua
imagem", sublinha. Pelo seu lado, Leonor Sá mostra e contextualiza os
dois álbuns portugueses que são o centro do seu trabalho no que foi o
desenvolvimento do retrato judiciário na Europa do século XIX, mas
também a utilização da fotografia como instrumento da antropologia. Além
da investigação sobre os dois álbuns, mostra a evolução da iconografia
de ilustrações sobre criminosos, desde as medievais até aos cartazes de
"Wanted" do far west norte-americano, ou até às criações artísticas
sobre o tema feitas, contemporaneamente, por exemplo, por Andy Warhol ou
Ai Weiwei. Este é um livro fascinante para os apaixonados pela história
da fotografia e pelas evolução das utilizações que ela teve em nome da
lei.
Ver
Uma das mais importantes exposições
de fotografia deste ano abriu agora em Lisboa, no Museu Berardo, e
estará patente até 7 de Outubro. Trata-se de "Between the Devil and the
Deep Blue Sea", uma exposição do fotógrafo sul-africano Pieter Hugo, que
se destacou pela forma como acompanhou e documentou o fim do apartheid
na sociedade sul-africana. Pieter Hugo é conhecido pela forma como
desenvolveu a sua técnica de retrato, num contexto de referências das
comunidades do seu país e da estética da arte africana. Considerado um
dos grandes documentaristas da sociedade sul-africana contemporânea,
começou pelo fotojornalismo, foca-se tradicionalmente em grupos
marginais e, nesta exposição, vemos vários exemplos desses seus ensaios
fotográficos. O nome da exposição é inspirado numa canção de George
Harrison e, no fundo, esta é uma retrospectiva de várias fases do seu
trabalho, organizada em 2017 para o Kunstmuseum Wolfsburg, na Alemanha,
com curadoria de Uta Ruhkamp. Outros destaques: no British Bar, a
derradeira edição da série de 15 exposições que Pedro Cabrita Reis criou
para serem exibidas nas montras do estabelecimento, e que apresentou
mais de quatro dezenas de artistas ao longo dos últimos 15 meses. Desta
vez, os convidados foram Luísa Cunha, Rui Toscano, João Paulo Feliciano,
Ricardo Bak Gordon e Tomaz Hipólito. Se passarem pelo Museu do
Caramulo, além das exposições de carros (actualmente uma com a história
da Porsche), poderão ver "Black Box - Passeios", uma mostra de trabalhos
de Francisco Tropa, Jorge Molder, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez,
Manuel Botelho, Teresa Segurado Pavão, Luísa Cunha e Gonçalo Barreiros,
com curadoria de Rui Sanches.
Gosto
Portugal é vice-campeão europeu de satélites do tamanho de latas de refrigerantes.
Não gosto
O
Fisco enviou multas relacionadas com a caixa postal electrónica de
forma claramente abusiva, mostrando mais uma vez a sua falta de respeito
pelos direitos dos contribuintes.
Ouvir
"Both
Directions at Once: The Lost Album" é uma recolha de gravações, na
quase totalidade inéditas, feitas pelo quarteto de John Coltrane no
histórico estúdio de Rudy Van Gelder, a 6 de Março de 1963.
Do quarteto
faziam parte Coltrane no sax tenor e sax soprano, McCoy Tyner no piano,
Jimmy Garrison no baixo e Elvin Jones na bateria. Gravado um ano antes
do referencial "A Love Supreme", estas gravações, que totalizam 90
minutos, mostram a vitalidade deste quarteto sensivelmente a meio da sua
existência. O próprio estúdio ajudou à sonoridade: um pé-direito de
quase 13 metros, com tecto de madeira abobadado, inspirou os músicos e
as gravações ali realizadas eram de facto diferentes. Como é que as
bobines destas gravações ficaram tanto tempo ignoradas? A Impulse, a
editora com a qual Coltrane tinha contrato, teria perdido as masters
numa mudança de instalações e só recentemente os originais em mono foram
encontrados em casa da primeira mulher de Coltrane, Juanita Naima
Coltrane. Aparentemente, esta sessão de gravação destinava-se a cumprir o
compromisso de gravação de um álbum para a Impulse. Provavelmente,
teria sido preciso regressar a estúdio para finalizar esse álbum, mas o
que se passou nesse ano de 1963 com estes registos tinha ficado até
agora desconhecido. O resultado está aqui, e é aliciante: 14 faixas,
vários takes de cada tema, alguns originais sem título. 90 minutos do
quarteto de Coltrane, ouvidos 55 anos depois de terem sido gravados:
tudo parece agora tão simples e acessível, tudo tão natural - mas
percebe-se como era um passo nas direcções que Coltrane tomou depois,
até morrer em 1967. Se quiserem, este é um registo de uma época de
transição e de autodescoberta. E é um documento maravilhoso de um dos
maiores músicos de jazz. CD Impulse, no Spotify.
Arco da velha
Há 54 presidentes de associações juvenis que têm mais de 60 anos.
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A
fruta é uma coisa muito incerta. No ano passado, tivemos boa cereja e
figos abaixo do mediano. Este ano temos cerejas abaixo do mediano, mas
os figos estão supremos. As chuvas inesperadas deram cabo das cerejas,
mas o tempo, no geral, parece ter ajudado os figos. Sou um apaixonado
por figos - desde estes que agora aí andam, escuros, grandes, carnudos,
até aos mais pequenos, verdes, tenros, que hão-de aparecer se o Verão se
dignar a surgir. Mas, para já, estes figos estiveiros, os figos de
Junho ou de S. João, são magníficos. Poucos frutos são tão versáteis
como os figos: gosto de os misturar numa salada, ou como entrada,
divididos em quartos acompanhados por presunto cortado bem fino. E gosto
deles como sobremesa, e gosto deles como lanche. Eu, de figos, gosto de
todos, evocação das memórias de estar na sombra debaixo das grandes
figueiras a colhê-los maduros para logo ali os provar. Quando chegar a
Agosto, espero que os pingo-de-mel façam jus ao nome. Fruta, para mim, é
fruta da época. Já que hoje em dia é difícil comer pêssegos em
condições, atiremo-nos aos figos que ainda sabem a boas memórias. E
ainda nem falei das passas de figo...
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
06/07/18
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