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O elevador avariado
IN "OBSERVADOR"
17/06718
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O elevador avariado
Num estudo divulgado pela OCDE no final da semana passada, a
imagem é desoladora, porque o elevador social da educação está avariado.
É preciso dar um salto de qualidade.
Após quarenta e quatro anos de democracia e alguma convergência
real da qualidade de vida com a média das economias europeias, em
Portugal a mobilidade social continua a ser apenas um sonho distante que
está ao alcance de muito poucos. Geração após geração os filhos
continuam a seguir as pisadas dos pais em termos de anos de
escolaridade, qualidade da educação e até de profissões. A qualidade de
vida e os rendimentos vão melhorando graças também ao Estado
providência, mas a igualdade de oportunidades que deveria ter crescido
com a democracia é ainda muito insuficiente.
Num estudo divulgado pela OCDE
no final da semana passada, a imagem é desoladora, porque o elevador
social da educação está avariado. Portugal tem o pior desempenho em
termos de mobilidade educacional entre pais e filhos dos quinze países
analisados pela OCDE, apesar de ter uma despesa em % do PIB superior à
média. A imagem melhora ligeiramente quando olhamos para a mobilidade de
rendimentos, ainda assim os resultados não são muito satisfatórios. Em
Portugal, são necessárias cinco gerações para uma família de baixos
rendimentos (famílias entre os 10% mais pobres) atingir um rendimento
médio, quando na média da OCDE são precisas apenas quatro e meia e aqui
ao lado em Espanha apenas quatro. Os países nórdicos são onde mais
rapidamente se sai da pobreza, no caso da Dinamarca demora apenas duas
gerações.
A mobilidade de rendimentos e a persistência de
desigualdades estão intimamente ligadas. Os países que eram mais
desiguais o início dos anos noventa, são também os que apresentam
atualmente menor mobilidade rendimentos. É fácil entender que em
sociedades muito desiguais, é mais difícil para os com menores
rendimentos pais investirem em educação para os seus filhos.
Considerando
que a mobilidade social entre gerações resulta de políticas
implementadas ao longo de várias décadas, é provável que os resultados
atuais melhorem nos próximos anos. E alguns resultados são
encorajadores. É o caso da redução da desigualdade de rendimentos em
Portugal nos últimos 20 anos, tendência que não se inverteu apesar da
crise financeira. Ou o caso da educação, onde a uma fase de
democratização e massificação após 1975, se seguiu uma fase de melhoria
da qualidade. Atualmente, os resultados de PISA para Portugal mostram
uma melhoria significativa nos conhecimentos de Matemática, Ciências e
Português. Estas melhorias terão certamente um impacto positivo na
mobilidade social e de rendimentos no futuro.
Ainda assim, os a
imagem apresentada pela OCDE atualmente é muito impressiva porque mostra
com enorme clareza como é especialmente difícil em Portugal para uma
família mais desfavorecida oferecer aos filhos melhores oportunidades
para crescerem e se desenvolverem.
No topo das prioridades tem de
estar o combate à corrupção, que tem como objetivo confesso manter
abusivamente um privilégio, impedindo a saudável concorrência. Os anos
da crise mostraram como são perversos os efeitos da corrupção, porque é
fundadora de desigualdade e porque, ao mover fundos financeiros na
sombra da lei, favorece os negócios ilícitos e lesivos para o bem comum.
A reforma da justiça, tornando-a mais célere e mais eficiente, e o
trabalho do Ministério Público nos últimos anos contribuíram para dar um
salto no combate à corrupção.
Mas os dados da OCDE convocam-nos
também para uma reflexão sobre a educação. Como é que podemos
transformar a escola num mecanismo de promoção da igualdade de
oportunidades? Apesar das melhorias notáveis na qualidade, até nas
escolas em zonas mais desfavorecidas, a rigidez do sistema continua a
fomentar desigualdades. Ao tratar de forma igual situações que são à
partida muito diferentes contribui para as desigualdades. Famílias com
menos capacidade financeira não têm oportunidade de escolher uma escola
que permita melhorar os resultados dos seus filhos. Para reduzir as
desigualdades na educação é importante dar mais liberdade às escolas na
escolha dos currículos e na escolha dos professores para adaptarem o
ensino às capacidades dos seus alunos. É fundamental continuar a
monitorizar os resultados das escolas e avaliá-las, tendo em
consideração as condições socioeconómicas dos alunos que servem,
alargando a liberdade de escolha dos pais, para encontrarem escolas mais
adaptadas aos seus filhos. É urgente introduzir uma avaliação mais
justa dos professores, que tenha em consideração os resultados que
efetivamente obtêm com os seus alunos.
Finalmente, o mercado de
trabalho. Em Portugal, a rigidez do mercado laboral tem duas
consequências graves para a mobilidade social. Por um lado, torna mais
difícil às novas gerações encontrarem um trabalho com a durabilidade
suficiente para fazerem a necessária aprendizagem no local de trabalho e
se inserirem no mercado. Por outro, o desemprego de longo prazo tem
tendência a prolongar-se, dificultando assim que um desempregado possa
recuperar os seus rendimentos depois de uma crise económica, por
exemplo. O anterior Governo introduziu um conjunto de medidas que
reduziram a rigidez do mercado de trabalho, é importante não as
reverter. Mas é preciso também continuar a avançar no sentido de premiar
o mérito e de aumentar as oportunidades de integração no mercado de
trabalho dos mais jovens.
Aumentar a mobilidade social é
fundamental para reduzir as desigualdades, e só é possível com maior
igualdade de oportunidades. Portugal já fez um longo caminho em
democracia com a massificação do acesso à educação à saúde, aos serviços
básicos. Agora é preciso dar um salto de qualidade.
IN "OBSERVADOR"
17/06718
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