ONTEM NO
"OBSERVADOR"
"OBSERVADOR"
“Sou o Charlie e elas os anjos”.
Acusações de machismo na
.conferência de media no Estoril
O presidente da Associação Portuguesa de Imprensa foi acusado de machismo durante conferência internacional dos Media, que alertou para os problemas de igualdade de género no jornalismo.
“Sou o Charlie e elas os anjos”. Acusações de machismo na conferência de media no Estoril
O presidente da Associação Portuguesa de Imprensa foi acusado de machismo durante conferência internacional dos Media, que alertou para os problemas de igualdade de género no jornalismo.
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“Eu sou o Charlie e elas os meus anjos”.”Eu não sei se estou
preparado para as partilhar com vocês”. “Vou dar um beijo a Christin em
nome de todos vocês”. “Ela está envergonhada”. “Dê-me um beijinho, por
favor”. “É uma mulher portuguesa, por isso, não é tão envergonhada”. As
frases são todas do presidente da Associação Portuguesa de Imprensa,
João Palmeiro, que foi acusado de machismo na intervenção que fez no
palco durante o jantar de gala World News Media Congress, que se
realizou entre 6 e 8 de junho no Estoril.
Vários representantes
internacionais manifestaram-se indignados com este momento, o que levou
Palmeiro a pedir desculpa no último dia do congresso. Em declarações ao
Observador, Palmeiro admite que teve um “momento infeliz” e diz que não
queria melindrar ninguém.
No vídeo, partilhado por Yusuf Omar, um dos participantes no congresso e fundador do Hashtagourstories.com,
João Palmeiro começa por dizer, dirigindo-se às mulheres que, com ele,
colaboraram na organização do evento: “Elas são os meus anjos. Eu não sei se estou preparado para as partilhar com vocês. É uma dream team.
Eu sou o Charlie e elas são os anjos”. Pelo meio, o presidente da
Associação Portuguesa de Imprensa — que incluiu os grandes grupos de
media que existem no país — colocou algumas capas nas mulheres que
estavam no palco.
Depois, em tom de brincadeira disse: “Agora, em nome de todos vocês, eu vou beijar Christin“.
Como Christin Herger, da World Association of Newspapers, se mostrou um
pouco desconfortável com a situação, Palmeiro comentou: “Ela está envergonhada“. E depois voltou a pedir enquanto se aproximava de Christin: “Dê-me um beijo, por favor“. Depois disso, quando se aproximou de outra das mulheres no palco, atirou: “Mulher portuguesa, por isso não é tão envergonhada, por isso um grande abraço e um grande beijo.”
Logo
durante a conferência, questionado por Yusuf Omar, João Palmeiro
admitiu que não refletiu “tanto como devia sobre o facto de todos não
terem a mesma cultura” que ele. E o jornalista insistiu: “Na cultura
portuguesa, a sua intervenção é aceitável?”. Ao que o presidente da API
respondeu: “Absolutamente. É normal”. Depois do desconforto criado
durante a conferência — que teve como um dos eventos paralelos um “Women
In News Summit”, onde se discutiu os problemas de igualdade de género
nos media — João Palmeiro pediu desculpa.
O presidente da API
explicou ao Observador que, devido a esse desconforto, houve um encontro
dos responsáveis da organização sobre se devia pedir desculpa e sobre a
forma como o iria fazer. João Palmeiro explica ao Observador que esse
pedido de desculpas foi “muito simples”: “Disse que se havia pessoas que
se sentiam ofendidas, que pedia desculpa a essas pessoas”.
João
Palmeiro justifica que “foi mal percebido” e que quis fazer algo
diferente enquanto agradecia às pessoas. Achou que aquele registo de
“humor” era melhor do que “agradecer às pessoas com cara de pau ou dizer
‘obrigado, passem bem'”. Lembrou ainda que trabalhou com aquelas
pessoas durante meses. O presidente da API lamenta o sucedido e diz que,
no limite, teve um “momento infeliz”.
Várias pessoas presentes na
conferência ou que acompanharam os trabalhos mostraram-se indignadas
por este momento. A investigadora da área do jornalismo, Julie Posetti,
pergunta mesmo: “Foi este o momento #metoo das conferências de
jornalismo?”
Ritu Kapur, fundadora da plataforma de notícias mobile The Quint, também
manifestou a sua indignação. O The Quint acabaria por fazer um artigo,
onde expõe as declarações e atitudes de João Palmeiro. O texto acusa-o
até de tentar forçar um beijo, o que nas imagens não é claro.
Um outro momento, protagonizado por um humorista no arranque da sessão,
também motivou várias críticas. Em causa estaria uma piada: “Os media
são como as mamas, quanto mais falsos, mais atraentes são..”
* Mas quem é que pensa que na Associação Portuguesa de Imprensa não há machistas, não são todos claro.
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