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Para não esquecermos
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
17/06/18
o futuro
Faz hoje um ano que deflagrou o incêndio em Pedrógão Grande que foi consumindo outros concelhos, tristemente recordado como o mais mortífero na história do país.
As imagens e os relatos de mortos, feridos
e destruição chegaram com uma violência arrasadora e achámos que
tínhamos atingido o cume do horror. Pedrógão Grande foi o centro do país
e de todos nós. Além dos que morreram, outros perderam as casas, os
bens, mesmo os animais que eram também família, e tudo isso não se
explica em números. Mas havia que sobrepor a vida à morte. Sobretudo,
não deixar sozinhos aqueles que não podiam esquecer, e partilhar com
eles a memória. O grande espetáculo que juntou solidariedades,
transmitido por todos os meios de comunicação, foi uma escolha da vida
na imensidão da dor.
Os incêndios foram
uma constante de todo o verão, com temperaturas elevadas, seca
prolongada e falta de limpeza das matas a contribuírem para a
destruição. Quando pensávamos que a época dos incêndios terminara, a 15
de outubro o horror repetiu-se com mais mortos, mais feridos e mais
destruição. Todos nós temos os números de 2017 na cabeça: 109 mortos,
mais de 300 feridos, 1000 casas destruídas, a maioria de primeira
habitação, quase 450 hectares de floresta ardidos. Falta aqui
contabilizar os que convivem com a negra memória, com ou sem apoio
psicológico.
Mas os incêndios são
também impressionantes pelas suas causas: 98% dos casos têm origem
humana por negligência, descuido, estado das florestas, e ainda as
alterações climáticas que alguns teimam em negar. Um recente estudo de
peritos americanos alerta para o risco em que Portugal se encontra sendo
o número de incêndios por milhão de habitantes seis vezes superior a
Espanha.
Este ano, a legislação impôs a
obrigatoriedade da limpeza dos terrenos à volta das casas e houve um
movimento sem precedentes para prevenir os incêndios. Mas não chega.
Portugal será um dos países mais afetados pelas alterações climáticas e
as catástrofes podem repetir-se se não colocarmos no centro da nossa
cidadania cuidar da floresta, dos rios, dos mares, do planeta. Cuidar
significa também diminuir a origem humana dos incêndios e compreender
que cada gesto tem consequências para a comunidade. Importa começar pela
escola. Se não cuidarmos do lugar onde vivemos, para que serve cuidar
do tempo que vamos viver? Importa não esquecer os incêndios de 2017.
Importa não esquecer o futuro.
* PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
17/06/18
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