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“Não houve nenhuma estratégia nem pressão”, garantiu Negrão
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HOJE NO
"OBSERVADOR"
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Eutanásia regressa ao Parlamento.
Mas não para já
A esquerda assume a derrota na legalização da morte medicamente assistida, mas não desiste e garante que a questão irá voltar ao Parlamento.
Uma coisa é praticamente certa: a esquerda pode ter perdido a batalha
esta terça-feira relativamente à legalização da morte medicamente
assistida, mas não dá a guerra como perdida. E diz que irá voltar à
carga. Resta saber quando.
Isso já foi um caminho e, sendo um tema que é incontornável e é inadiável, não vamos fugir a ele. Na próxima legislatura, estaremos todos com certeza ainda mais conscientes de que temos de discutir e de que temos de votar”, afirmou Maria Antónia Almeida Santos, um dos rostos do projeto de lei do PS, em declarações aos jornalistas. Se voltará a ser discutido? “Não faço ideia, ainda não está elaborado o programa de Governo.”.
Para a deputada socialista, a discussão desta terça-feira “começou bem” e
foi “um grande exercício”. “Mostrámos que temos maturidade para este
tema e para todos os temas, por mais difíceis e por mais incomodidade
que possam causar.” Ainda assim, assumiu “alguma mágoa” perante as
votações. Mas sublinhou a “forma serena” e “rigorosa” como decorreu o
debate. O que faltou? “Votos. Foram votos mesmo. Cada um terá tido as suas razões para votar a favor ou votar contra. Cada deputado tem um voto, faltaram votos.”
Também o deputado do PAN se mostrou convicto de que, em 2019, se
voltará a este tema da morte medicamente assistida. “Penso que nesta
legislatura não estarão criadas as condições para voltarmos a esta
questão, mas certamente em 2019 contamos voltar a trazer este tema”, disse André Silva ao Observador.
O
deputado, que apresentou um dos projetos de lei que foi chumbado esta
terça-feira, aproveitou ainda para destacar o “ponto de viragem” a que
se assistiu com este debate e saudou “a elevação” com que foi feito,
apesar de destacar “alguma desinformação” e “algumas mensagens erradas”.
A partir deste momento, a morte medicamente assistida é um debate que está para ficar. É um debate que os cidadãos querem fazer e que retomaremos muito em breve”.
Heloísa
Apolónia disse igualmente não acreditar que haja condições para se
regressar à questão da morte medicamente assistida nesta legislatura,
mas garantiu que os Verdes vão “certamente reapresentar” o projeto para legalizar a eutanásia, embora não adiante quando.
“Provavelmente nesta legislatura já não haverá condições para o
fazer.” Heloísa Apolónia afirmou ainda que o seu partido “considera que
não foi uma oportunidade perdida” e que se abre “agora espaço para que a
sociedade possa discutir”.
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José Manuel Pureza considerou que, com
esta votação, se fez um “caminho muito digno” e “muito importante de
alerta da sociedade portuguesa para esta questão” da morte medicamente
assistida. “Muito provavelmente a sociedade ela própria nos exigirá que tomemos outras posições mais adiante”, adiantou o deputado e um dos autores do projeto de lei do Bloco de Esquerda. Quando é que isso será, não quis adiantar.
Também a líder do Bloco de Esquerda deixou a garantia de que o partido irá regressar à questão da morte medicamente assistida. “O Bloco de Esquerda voltará seguramente a este tema,
mas achamos que este não é um tema do BE. É um tema de todas as pessoas
que, compreendendo que há aqui uma questão para ser respondida, sabem
que o Estado não pode continuar a fechar os olhos”, afirmou Catarina
Martins, em declarações aos jornalistas nos corredores do Parlamento.
Sabemos que, muitas vezes, não é na primeira votação que estas conquistas se fazem”, acrescentou a líder do BE.
Catarina
Martins aproveitou ainda para dar os parabéns aos “ativistas do
movimento pela morte assistida”. “Acho que fizeram o trabalho de trazer
para a agenda política e para a sociedade um debate aprofundado sobre um
problema que existe e hoje a Assembleia da República não conseguiu dar resposta ainda, mas dará seguramente.”
João
Semedo, o rosto do partido nesta matéria, recorreu ao Facebook para
comentar o que se passou esta tarde no Parlamento. Para o ex-líder do
Bloco de Esquerda, é só uma “questão de tempo” até ser
aprovada a despenalização da morte medicamente assistida e avança mesmo
uma data: “Não foi agora, será na próxima legislatura”.
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“Nestes
dois últimos anos, avançou-se imenso na compreensão das problemáticas do
fim de vida, designadamente, na legitimidade de permitir o recurso à
morte assistida a todos que o pretendam, sem obrigar seja quem for mas
também sem impedir quem cumpra todos os requisitos exigidos pela lei e
reitere inequivocamente ser essa a sua vontade. Andou-se muito nestes
dois últimos anos, estamos mais próximos de consagrar na sociedade e na
lei uma mudança fundamental: garantir a todos o direito a morrer com
dignidade”, lê-se ainda na publicação.
O socialista Sérgio Sousa Pinto lamentou que o projeto de lei do PS
tenha sido chumbado, mas assumiu que se trata de uma questão complexa.
“Tenho pena, mas é uma matéria em que tenho muitas dúvidas e não tenho a
arrogância [de fazer julgamentos] sobre os que pensam de maneira
diferente da minha”, afirmou o deputado do PS ao Observador. O
socialista considerou, contudo, que teria sido “natural que houvesse
mais deputados a votar de forma diferente dos partidos”, uma vez que se
trata de uma “questão de consciência”.
O socialista João Paulo
Correia também lamentou que o diploma do PS não tenha sido aprovado, mas
considerou que a posição do PSD revela que o grupo parlamentar do
partido está “de costas voltadas para o líder“.
Recorde-se que Rui Rio é a favor da despenalização da morte medicamente
assistida, tendo mesmo dado um testemunho no livro lançado pelo
movimento cívico “Direito a Morrer com Dignidade”, organizado pelo
antigo líder do Bloco de Esquerda, João Semedo.
Foi um braço de ferro entre a bancada e o líder“, acrescentou o deputado, reforçando que todas as “orientações” dadas pelo líder social-democrata “caíram em saco roto”.
“Não houve nenhuma estratégia nem pressão”, garantiu Negrão
O líder parlamentar do PSD, contudo, não tem a mesma visão. Sobre o
facto de Rui Rio ser a favor da eutanásia e ter visto a sua própria
bancada a chumbar os projetos de lei, Fernando Negrão disse que o
presidente do partido deu “uma lição de democracia”.
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Fernando
Negrão rejeita, no entanto, a hipótese de referendo. “O que eu disse foi
que, no mínimo, devia estar nas propostas dos partidos e ser discutido
nas campanhas para os portugueses saberem com o que contar”, disse. E rejeitou ainda que tenha havido uma “estratégia” concertada
que motivou a que alguns deputados sociais-democratas tenham votado a
favor de projetos do PAN, BE ou PEV e não a favor do projeto do PS, que
teria mais probabilidade de passar.
Já Paula Teixeira da Cruz,
quando questionada sobre o facto de a maioria dos deputados do PSD ter
votado contra os projetos quando o líder do partido é favorável à
despenalização, disse que este não é um caso em que se vincam as diferenças dentro do partido. “Neste caso não, não é de todo”, respondeu.
A
deputada do PSD, que votou a favor da despenalização da eutanásia,
lamentou a rejeição dos quatro projetos de lei e admitiu que ainda haja
espaço para discutir o tema. Sublinhou que “muitas vezes há caminhos a
percorrer”, lembrando o caso da interrupção voluntária da gravidez, em
que só ao segundo referendo foi aprovada a despenalização do aborto por
decisão da mulher até às 10 semanas de gravidez.
Paula Teixeira da
Cruz admitiu que “ainda haja espaço para discutir” a despenalização da
eutanásia, mas lamentou que hoje “não se tenha discutido de forma
definitiva”, indicando que os projetos de lei poderiam ter baixado à
especialidade, sendo aí melhorados. “A Constituição não diz que a vida é
irrenunciável, diz que ela é inviolável por terceiros”, afirmou a
deputada aos jornalistas no final do debate e votação parlamentar.
Também Assunção Cristas considerou que o “tema não fica fechado aqui”, acrescentando que o partido “continuará a promover o cuidado de todos e cada um em todos os momentos da vida”.
A líder do CDS disse ainda que o partido se “alegra” com o chumbo da legalização da eutanásia
e que o Parlamento “deu sinal de grande maturidade”. “Não só tínhamos
oposição de fundo a estes projetos, como objeções políticas porque esta
não era a legislatura com mandato” para decidir sobre este assunto,
sustentou a líder do CDS.
* Estamos desapontados e até furiosos, tiraram-nos a possibilidade de escolher o nosso fim de vida obrigando-nos ao sofrimento que ele querem que passemos, é uma decisão ditatorial.
Desejamos muito a quem votou contra a despenalização da eutanásia, a quem liderando associações civis e religiosas se manifestaram contra a despenalização, desejamos muito repetimos, que tenham um fim de vida cheio de muito e brutal sofrimento por doença, sofrimento que os leve a pedir que por amor de Deus os matem.
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